Abril de 1981: a revista Planeta dedica sua reportagem de capa à apresentação do Projeto Alvorada, idealizado pelo arquiteto e sensitivo Luiz Gonzaga Scortecci de Paula. A reportagem era um chamamento a todos os que queriam participar de uma nova era através da construção de doze Estações Celestes em regiões elevadas do interior do Brasil. Um detalhado mapa indicava as áreas que seriam submersas pelas águas e definia os locais adequados à localização das Estações.
Luiz Gonzaga condenava os desvarios da civilização materialista e a inviabilidade das grandes concentrações urbanas. Em novembro de 81, Planeta voltou ao tema. Luiz Gonzaga afirma que o projeto existia para “avisar das coisas que virão”, que havia “um plano concreto, uma proposta que deve ser executada e anunciava que 82 seria “um ano de obras físicas, de construção de abrigos”. A mensagem mexeu com muita gente: surgiram grupos em várias cidades e um intensivo programa de trabalho foi posto em prática. Meses depois, já conhecido nacionalmente, Luiz Gonzaga foi vítima de um programa maldoso da TV Globo, que apresentou-o como uma espécie de profeta maluco do Apocalipse. Por causa de sua propaganda alarmista – diziam – velhinhas apavoradas vendiam seus apartamentos à beira-mar e refugiavam-se no Planeta Central. Gente do meio alternativo acusava-o de expor-se ingenuamente ao ridículo. 82 passou e o Apocalipse não veio. As notícias sobre o Projeto tornaram-se mais escassas e muita gente acreditou-o desativado. Mas nada disso aconteceu. Nesta entrevista, obtida em São Paulo, no final de 84, Luiz Gonzaga mostrou que o Projeto está mais vivo que nunca e faz uma autocrítica, provando que está vacinado contra todos os abutres que insistem em dizer que a Nova Era é uma utopia irrealizável.
OUTRA – Quando o Projeto Alvorada foi lançado, em 81, houve muito barulho por causa de tudo que você dizia acerca do fim dos tempos. Você ficou meio mitificado, né? Como é que você encara essa repercussão?
LUIZ – Existem dois trabalhos: o do Luiz Gonzaga e o Projeto Alvorada. O Projeto está voltado para o fenômeno OVNI mas acabou gerando expectativas muito maiores em relação à questão do fim dos tempos do que a Nova Era. Muita gente que se engajou nessa etapa acabou tendo uma frustração de expectativas, porque queria encontrar um abrigo onde pudesse salvar a própria pele e descobriu que o Projeto não servia exatamente pra isso.
OUTRA – Houve critérios para o engajamento dos interessados?
LUIZ – O importante era ver pessoas de índole e formação diferentes partilhando uma experiência comunitária. O mais interesse para mim é observar essa zorra e ver como é que pessoas com visões de mundo tão diferentes começam pouco a pouco a encontrar denominadores comuns. Dentro do Projeto, há muita discussão aberta, muita troca de opinião. Se alguém quiser sair, tem que sair depois de lavar toda a roupa suja em casa.
OUTRA – Mas, e os critérios?
LUIZ – O Projeto Alvorada tem um estatuto, com seus objetivos muito bem definidos. A institucionalização dos objetivos é uma coisa importante, no sentido de que as pessoas que vão passando sempre deixam alguma coisa na entidade. Mas o processo de chamamento é individual. As pessoas estão sendo convocadas para uma missão por si mesmas.
OUTRA – E a questão do excesso de misticismo?
LUIZ – Eu acho que a vontade divina é de que a gente busque, mesmo que a gente dê com a cabeça em todas as paredes. O excesso de mistificação pode levar a desastres. Seria talvez melhor trabalhar com sensitivos ateus, que tem uma cabeça mais aberta.
OUTRA – Na prática, como é que a estação começa a existir?
LUIZ – Cada estação cria antes um escritório de retaguarda na capital. Depois, parte para um escritório numa cidade de porte médio, perto do local escolhido. A partir daí, vem toda uma agitação cultural, com cursos, palestras, etc. Há um trabalho específico, que é o levantamento da casuística ufológica da região e a divulgação dos objetivos do projeto junto à comunidade local. Com isso, conquistam-se pessoas para a causa. Pra vocês terem uma idéia, das duas mil pessoas que já passaram pelo Projeto, sobraram umas cinquenta. A etapa seguinte é o escritório avançado, que cuida do apoio logístico para a instalação física da Estação.
OUTRA – Como é que anda o trabalho de construção das Estações Celestes?
LUIZ – Algumas estão no início do processo de formação do seu pessoal e outras já estão nas obras de alvenaria. Os projetos são modulados de forma a permitir que qualquer pessoa possa cumprir a sua parte. Os módulos arquitetônicos são fechados e podem se reproduzir de acordo com o mesmo modelo, como as células na natureza.
OUTRA – As terras, como é que aparecem? São compradas?
LUIZ – Não. A gente trabalha com áreas doadas, e isso cria uma demora para o andamento dos planos. Às vezes, na área que nos interessa não aparece nenhum doador e, por outro lado, tem muita gente disposta a doar terras que não apresentam os requisitos mínimos necessários.
OUTRA – Que requisitos?
LUIZ – Bom, na hora em que houver algum problema sério nas regiões urbanas do litoral, o pessoal vai fugir pra onde? É lógico que pras áreas férteis do interior, os vales nas proximidades das estradas. A gente dá preferência, por causa disso, às áreas mais altas, de solo pobre, onde haja nascentes de rios e seja possível controlar o problema da poluição. A gente quer as terras que ninguém quer e que, por isso mesmo, acabam sendo as mais seguras para a própria sobrevivência das estações.
OUTRA – E as estações? Têm funcionamento autônomo?
LUIZ – Cada uma delas tem uma base jurídica própria. Se alguma delas não corresponder às expectativas e fugir ao espírito do Projeto, a entidade central cassa a “concessão” de funcionamento e desvincula a estação. Essa descentralização não foi benéfica, porque aconteceu de uma forma muito precoce. A entidade central voltou a existir, dessa vez em São Paulo.
OUTRA – E a retaguarda, como funciona?
LUIZ – O projeto tem uma burocracia. As pessoas preenchem fichas, informam a respeito de sua documentação. Não há nada de misterioso, a gente não se esconde. Se o SNI quiser ver, está tudo aí.
OUTRA – Como é que as pessoas que participam do projeto sobrevivem?
LUIZ – Existem duas formas: uma é a dedicação exclusiva, para as pessoas que vivem o projeto em tempo integral. Eu, por exemplo, vivo hoje apenas dos cursos que dou e da venda de livros. Nos dois primeiros anos, vivi do FGTS e da devolução do Imposto de Renda. A outra fórmula é a do pessoal que tem que conciliar um trabalho ligado à produção do supérfluo com seu trabalho de missão.
OUTRA – O Projeto Alvorada tem uma preocupação ecologista ostensiva?
LUIZ – As bandeiras da espiritualização, da paz e da ecologia são tão interdependentes que não há como separá-las. O importante é levar as pessoas a perceber que elas são donas do seu destino. Elas têm que sentir a necessidade e partir para a operacionalização.
OUTRA – E o seu papel?
LUIZ – É o de catalizador. Nesse ponto, meus erros foram importantes, pois contribuíram para desmitificar minha figura.
OUTRA – Conta um pouco de você. Por exemplo, aquela história da tua tese.
LUIZ – Foi o seguinte: eu estava terminando o curso de Arquitetura e tinha que apresentar uma tese para a banca. O trabalho se chamava Brasília para o ano 2000 e defendia uma metodologia baseada na utilização das informações de sensitivos, que acertam muito mais do que as técnicas de previsão estatísticas. É uma relação de 97% a 100% contra 12%, para vocês terem uma idéia. A apresentação foi um escândalo. Acabou num enorme debate num auditório cheio, com marxistas de um lado e esotéricos do outro, todos malucos. Acabaram me dando a menção máxima porque já não me aguentavam mais.
OUTRA – Por falar em marxistas, o que você acha da esquerda brasileira?
LUIZ – Direita e esquerda no Brasil têm, normalmente, os mesmos valores, os mesmos conceitos. Se vão dar ou não uma oportunidade para o povo, não tem a menor importância, pois é o povo que cria suas próprias oportunidades. Além disso, o nosso esforço produtivo está hoje a serviço das demandas dos países desenvolvidos, ajudando a financiar a própria destruição do planeta. Daí, trabalhar pra quê? O negócio é partir para as alternativas. A ideologia aquariana é ver um sujeito por trás da ideologia que ele processa.
OUTRA – Você se tornou conhecido, antes de tudo, como sensitivo. Mas explica uma coisa: com que entidades você se comunica? São todas extraterrenas? Ou são também desencarnados?
LUIZ – As entidades que fazem as comunicações não podem ser divididas em intra ou extraterrenas, desencarnadas ou seja lá o que for. Qualquer contato com um ser desta rede é um contato. Inclusive, quando a gente utiliza algum nome, os nomes são dos contatos, não das pessoas envolvidas. Imagine o seguinte: eu mantenho um contato com você, neste momento, e chamo este contato de João. Se eu tiver um contato com você mesmo ou com alguma outra pessoa amanhã, esse novo contato pode se chamar Pedro, entendeu? As comunicações podem ser entendidas de diversas maneiras, de acordo com o nível e com as necessidades de tradução de cada um. A tecnologia avançada não pode ser doada pelos OVNIs, e sim interceptada pelas pessoas que já conquistaram esse nível. Os conceitos são mais antigos que a humanidade e periodicamente são ditos de novo, com nova roupagem.
OUTRA – Você acredita que esse intercâmbio com os OVNIs é realmente uma evolução natural no caminho civilizatório do homem?
LUIZ – Claro. O homem está aí pra evoluir. Planetas são lugares de populações primitivas. O homem pertence ao único reino destinado a viver no espaço.
OUTRA – Quais são os objetivos do Projeto Alvorada na área social?
LUIZ – Cada comunidade brasileira já teve uma tecnologia muito própria para resolver seus problemas. Essa tecnologia foi perdida e o projeto é uma tentativa de reaglutinação de forças na comunidade, de forma a provar que elas são capazes de suprir sua subsistência.
OUTRA – Por exemplo?
LUIZ – Mostrar que a merenda escolar pode ser melhor com a utilização de recursos locais. Que muito do que se jogava fora deve ser dado aos homens, não aos porcos.
OUTRA – Vocês estão investindo muito tempo em pesquisa de novas tecnologias, né?
LUIZ – Pelo contrário. Quase não há pesquisa de base. O que há é um rearranjo da tecnologia já existente.
OUTRA – Você é uma pessoa com boa formação acadêmica. Como é que você se posiciona diante da – digamos assim – comunidade científica “séria?”
LUIZ – O método científico é um dos métodos, não o único. Coisas que a ciência considera pura superstição funcionam. Numa situação de crise, é o homem do campo, com suas tecnologias caseiras, que vai sobreviver. O ocidental urbanizado tem uma cultura tão complicada e compartimentada que não consegue absorver nada fora do seu sistema de referências.
OUTRA – O negócio, então, é apelar para a cultura oriental?
LUIZ – Sou meio avesso à importação excessiva de orientalismos. Aqui no Ocidente, a gente já tem, de uma certa forma, toda a experiência do Oriente. Neste ciclo, a cultura tende a se desgovernar, entrar em caos. O substrato dela vai aflorar, vai reviver nos que reencarnaram no Ocidente.
OUTRA – Você tem umas idéias a respeito de educação alternativa, né?
LUIZ – Até agora tem pouco trabalho concreto. O pilar de tudo é a idéia de que criança precisa de criança. Não de adulto. Assim, o reacionarismo da gente não entra tanto na cabeça deles. As crianças estão trazendo informações novas, que os adultos não têm condição de perceber. É muito mais uma educação à base de observação à distância. As crianças já vêm com a mutação e, se a gente “educa”, interrompe o processo.
OUTRA – O que você tem a dizer a respeito do movimento de comunidades rurais, no Brasil, de uma forma geral?
LUIZ – Quem sabe só seis palavras, não sabe atender telefone nem conduzir um veículo, não vai construir uma nova civilização. Por isso, o movimento comunitário está se mediocrizando. Por outro lado, as grandes regiões metropolitanas vivem num grande compasso de espera, são uma enorme caixa de necessidades artificiais. A cidade é uma grande safadeza, ela não tem necessidade de existir. São Paulo, por exemplo, é uma ratoeira. Todas as regiões metropolitanas, aliás, são muito vulneráveis. Bastam três dias sem luz elétrica para levar São Paulo ao completo colapso.
OUTRA – Já dá pra avaliar quais foram os equívocos mais sérios no desenvolvimento do Projeto Alvorada?
LUIZ – O problema mais grave foi uma política de comunicação social ingênua. A gente subestimou a capacidade das pessoas e ficou assustada com a quantidade e com o nível de informação que elas tinham. Outro erro foi a divulgação sensacionalista feita pela TV Globo, através do Fantástico. Fomos, eu e a equipe do programa, para a fazenda Mãe d’Agua, da Comunidade dos Sarvas, lá perto de Belo Horizonte. Gravamos uma entrevista longa, em que as propostas fundamentais do projeto puderam ser bem explicadas. Quando me vi no Fantástico, levei um susto: eles haviam feito uma montagem, juntando respostas minhas e perguntas que nem me haviam sido formuladas. Isso comprometeu todo o sentido do depoimento, que acabou ganhando um tom apocalíptico que eu não tive a intenção de colocar. Só não fiz nada na hora porque senti que ainda iria precisar deles. Quero que minhas idéias cheguem a todo mundo. É melhor falar para Veja ou Istoé do que para revistas alternativas, onde as mesmas pessoas ficam se lendo umas às outras.
25 anos depois
O Projeto Alvorada, em sua forma original, deixou de existir. Contudo, Luiz Gonzaga Scortecci de Paula continua envolvido em projetos semelhantes, atuando como sensitivo e articulando ações voltadas para a difusão de tecnologias de sobrevivência. No momento, mantém o projeto Arca de Noé, que pode ser encontrado no endereço https://arcadenoe.ning.com. A foto ao lado é do site.
Sérgio diz
Assisti uma palestra do Luiz Gonzaga em 81, num Enca em canabrava no sul da Baía (este foi um dos motivos porque larguei por uns anos a civilização e caí na vida “alternativa”) e hoje vejo o absurdo e a total IRRESPONSABILIDADE de suas enfáticas previsões. Iludiu muitas pessoas, nada do previsto aconteceu, para mim não passa de um louco desvairado que tem que responder por processo idenizatório judicial, enfurnado e influenciado pelas crenças e informações dos seres do plano astral.
Irani Alves diz
Li a sua obra Mensagens Extraterrestre e gostei muito, gostaria de comunicar com você, via carta ou telefone, este email é da minha colega. Por favor me responde por este email. Agradeço muito.
Tenha um bom dia.
Irani Alves
Hiadas da Costa Reis diz
Quando me associei ao Projeto Alvorada em 1981, meu nome era Hiadas Reis Giordano. Cheguei a fazer contribuições e recebia em meu endereço em Corumbá/ MS as publicações da CONTATO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA A ERA DE AQUÁRIO/ CAIXA POSTAL No. 10-2419 CEP 70000 – Brasília/ DF. Tenho na publicação de 18/09/1981, o nome dos 12 Portos ou12 Áreas/Programa e da Estação Escola no DF que já se encontrava em fase de construção. Gostaria de saber que fim levou tudo isso.. Estou aposentada e cheguei a comprar uma área no DF mas não mudei para lá. Estou em outra cidade no MS porque acreditava que isso tinha muito, muito tempo para acontecer. Gostaria muito de receber notícias no meu email. Fale comigo Sr Luiz Gonzaga. Obrigada.