Redescobrindo a Verdadeira Essência da Astrologia - Última Parte
Otávio Azevedo

Procuramos mostrar ao longo dos artigos desta série que a Astrologia é um saber vertical, cuja essência está vinculada ao "Princípio de Correspondência" que diz "O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima".

Este princípio relaciona elementos de diferentes planos existenciais, físicos ou não, materiais ou imateriais, e aponta para uma espécie de projeção arquetípica permeando estes diferentes referenciais. O fenômeno astrológico é, portanto, vertical, e sua manifestação está ligada à consciência. Não existe causalidade entre a posição dos astros e os acontecimentos na Terra, até porque a Astrologia, apesar do nome, não depende dos astros, como demonstra o enunciado do princípio que a rege. Para chegarmos à observação dos fenômenos astrológicos poderíamos partir de qualquer plano da natureza, a fim de intuirmos o padrão qualitativo que está se projetando em todos os outros planos. Poderíamos observar, por exemplo, o desenho das nuvens, ou do vôo dos pássaros; ou, como o fazem os sábios, poderíamos interpretar a mensagem do que ocorre à nossa volta ou no nosso interior, através da meditação. Portanto, sob o ponto de vista astrológico, não existe a tal influência dos astros.

Já a ciência é um saber horizontal, baseado no "Princípio de Causa e Efeito", que diz "Toda a causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o acaso é simplesmente um nome dado a uma lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei."

Na observação científica dos fenômenos que ocorrem à nossa volta temos o conceito de sujeito e objeto, uma vez que é preciso separar o observador do observado para que possamos "tomar ciência" do que está ocorrendo. O ato de conhecer (ciência) implica nesta separação entre o sujeito e o objeto; a ciência estuda o mundo, portanto, sob o ponto de vista da polarização, a divisão entre o "eu" e o "não eu", que formamos ao nascer e vamos reforçando ao longo da vida. Para que possamos equacionar algo, o que em última instância é atributo da ciência, é preciso separar as partes da fórmula, senão não haveria a relação.

Sendo uma manifestação vertical, na Astrologia não existe separação entre sujeito ou objeto. Em não havendo causalidade, o fenômeno observado e o observador são a mesma coisa, partes de uma totalidade que sopra um código arquetípico por todos os seus átomos. Somos um ponto, parte de um todo que reverbera por todos os pontos. Somos um elo na cadeia cósmica. Talvez esta seja a questão mais difícil de se entender sobre o fenômeno astrológico, pois, aparentemente, o sujeito e o efeito que vivenciou são coisas distintas... Mas sob o enfoque do "Princípio de Correspondência", não são!

Quando vivenciamos algo, podemos separar a ocorrência em duas manifestações: o aspecto causal (afinal se quebramos uma perna, ficamos deprimidos ou ganhamos na loteria existe uma cadeia de fatos relacionados) e o aspecto acausal, arquetípico (há uma mensagem, um princípio simbólico, que, como a pluma de "Forrest Gump", pousou aos nossos pés). Visto desta forma, todo fenômeno tem dois aspectos: o lado causal, objetivo, científico, e o lado acausal, subjetivo, da consciência, do qual se ocupa a Astrologia.

É por isso que a vivência dos princípios astrológicos depende do nível em que o indivíduo está polarizado que, em última instância, é a sua própria consciência. As ocorrências científicas de sua vida (causas e efeitos) dependerão sempre dos níveis existenciais em que se encontra polarizado, "crucificado" no plano existencial.

Em nossa vida, todos participamos, por exemplo, de jogos de poder. Isto é inerente ao ato de viver. Mas é claro que um político estará mais intensamente polarizado neste plano do que um profissional liberal. Da mesma forma, um empresário estará mais polarizado em negócios do que o seu empregado. E neste eterno jogo de polarização toda nossa existência está envolvida, do nosso corpo à nossa alma, constituindo o campo da nossa consciência.

É apenas isto que faz a diferença entre um iluminado e um homem comum, o campo da consciência. Podem até ter o mesmo mapa astrológico, e isto amiúde acontece. Quantas vezes nos deparamos com pessoas que poderíamos chamar de iluminadas, onde esperávamos encontrar um mapa astrológico singular, talvez com um desenho simétrico ou algo incomum, algo que o diferenciasse dos simples mortais, e quão não é nossa decepção ao verificar que seu mapa astrológico não tem nenhuma característica sobrenatural!... Não é o mapa astrológico que faz a diferença, mas sim o nosso nível de polarização, as estâncias em que vivenciamos nossos princípios arquetípicos, contidos no nosso mapa. Assim, quanto maior o campo da consciência de um indivíduo, maior a amplitude da experiência do seu próprio mapa astrológico. Neste sentido, duas pessoas podem ter esquemas astrológicos idênticos e vivências bem diferenciadas; no entanto, ao olho do astrólogo, são vivências análogas (cada uma vivencia seu mapa no seu respectivo nível de consciência).

Desta forma, o princípio que rege a Ciência e o princípio que rege a Astrologia formam a cruz da existência: o braço horizontal, causal (Ciência) e o braço vertical, acausal (Astrologia, Esoterismo). É aqui que se processa o eterno jogo da Matéria (Ciência) e da Vida (Astrologia). O princípio maior que rege a Ciência subordina-se à Lei de Economia da natureza, e é ligado à Entropia: por si só, a matéria busca o caminho de menor resistência. Já a Astrologia reside sob a Lei da Atração (consciência), que insere sobre a matéria a chama da vida.

Portanto, um dos grandes erros que se comete é considerar que a Astrologia "funcione", como funcionam os fenômenos horizontais, ou seja, sob relações de causa e efeito. Algo como se dos planetas partisse uma espécie de raio invisível, ou um tipo de magnetismo ou radiação que comandasse os acontecimentos aqui na Terra. Isto é um grande engano! Sob o ponto de vista astrológico, não existe nenhuma influência dos astros, nenhuma relação direta entre os planetas e os acontecimentos na Terra. É por isso que a Astrologia não se submete a métodos de experimentação e pesquisa, e também não funciona, já que não foi feita para "funcionar".

Ninguém nem nenhum método científico jamais irá "demonstrar" que a presença de Júpiter na Casa 01 do mapa engorda, ou que Saturno nesta mesma casa emagrece, apesar que de vez em quando isto acontece. E tem muita gente com Júpiter na Casa 02 que não tem um tostão no bolso, apesar que os manuais de Astrologia muitas vezes prometem riquezas para esta posição. Quando se fere a cabeça num trânsito tenso de Saturno ao Marte natal, existiu uma correspondência arquetípica entre estes fenômenos, mas nenhuma causalidade. Não foi uma determinada "onda" ou "influência maléfica" que partindo de Saturno e, agindo sobre "meu Marte", me fez bater com a cabeça ou discutir com o chefe, ou então ficar irritado e com a pele vermelha. Nem é nenhum "raio invisível" que, partindo de Plutão quando este planeta forma quadratura à Vênus do mapa natal de alguém, que destrói seu casamento. Não há nenhuma causalidade entre estes fenômenos, apenas uma correspondência funcional, arquetípica, que se projeta onde a consciência do indivíduo encontra-se polarizada. Nada disso pode ser equacionado.

Se alguém quisesse insistir nesta hipótese de "influência dos astros", teríamos uma série de perguntas para fazer, inclusive a de que - cientificamente - a influência do médico que fez seu parto foi bem maior do que a de Plutão, e também - cientificamente - a "influência" de Marte teria que ser muito maior quando este planeta estivesse mais próximo à Terra, o que valeria para os demais planetas. Neste sentido, a "influência" de Plutão seria nula, já que o planeta é tão pequeno e se encontra tão nos confins do Sistema Solar que... Mas não é bem assim.

Como dissemos anteriormente, a Astrologia não depende sequer dos astros, apesar do nome. Apenas utiliza o plano do Sistema Solar como um referencial macrocósmico de observação dos princípios arquetípicos que, afinal, encontram-se manifestando em toda a Natureza. Talvez um astrólogo que encontre a Sabedoria possa vir um dia a prescindir dos planetas para tirar suas conclusões, observando diretamente à sua volta. Era assim que procediam os sacerdotes do passado, que analisavam a qualidade do tempo através do vôo dos pássaros ou das nuanças do vento.

Cada manifestação astrológica pode ser vivenciada numa infinidade de níveis, mais intensamente naqueles em que o indivíduo se encontra polarizado, e é nisto que reside a verdadeira riqueza da Astrologia. É a pura consciência.

A Astrologia é tão ampla e infinita nas suas variantes, que qualquer previsão astrológica está absolutamente certa, desde que seja feita depois do fato ocorrer (o fato estava lá, podemos observar que estava lá, no mapa, nos trânsitos, o fato sempre esteve astrologicamente claro... Desde que visto depois!). É neste caráter de imprevisibilidade que a Astrologia evoca sua natureza uraniana, livre de qualquer método, pesquisa ou roupagem que se lhe queira dar. A Astrologia simplesmente é Astrologia.

Penso que a necessidade de denominá-la de "Ciência" vem de querer fazê-la mais respeitável aos olhos da sociedade, e é minha opinião que este tiro tem saído sempre pela culatra. Particularmente, acho que nos dias de hoje a Astrologia fica muito mal quando queremos impingir-lhe este título que não lhe compete. Isto tem atraído a atenção de cientistas que - à luz de considerações verdadeiramente científicas - derrubam qualquer argumento quanto a este pretenso caráter cientifico da Astrologia.

Jung, ha muito tempo atrás concluiu: "Do ponto de vista científico, os resultados de nossa investigação não são, sob certos aspectos, muito animadores para a Astrologia, porque tudo parece indicar que, no caso de grandes números, as diferenças entre os valores de freqüência dos aspectos dos pares casados e não casados desaparecem inteiramente. Assim sendo, do ponto de vista científico há pouca esperança de provar que a correspondência astrológica é algo que corresponde a determinadas leis" (Carl G. Jung em "Sincronicidade")

A Astrologia é simplesmente um caminho existencial, um processo vertical e individual. Ela caminha serena e iluminada em meio ao fog das imagens e dos símbolos, e se afina e afirma neste mundo do imaginário, acerta em cheio no nosso campo da ilusão, o campo que permeia e cria esta nossa ilusória

conceituação de realidade. É exata apenas neste campo imaginário e não tem compromisso algum com a realidade. De vez em quando, apenas, dá uma bola para essa tal de realidade. Não se submete a fórmulas nem a sistematizações, não se enquadra em pesquisas e nem neste campo manifesto do mundo das polaridades, erroneamente denominado de realidade. Se quiséssemos uma outra definição além de seu próprio nome, talvez pudéssemos chamá-la de arte, poesia, luz, consciência.

Somos partes do Todo. Nele nos movemos e temos a nossa existência. Somos parte do Seu sonho, da Sua manifestação. E como num Holograma, somos partes e contemos o Todo em essência. A Astrologia é a pura expressão das imagens emanadas pelo Todo, a Sua linguagem cósmica. Talvez seja por isso que muitas vezes é na poesia e na loucura dos poetas que encontramos seus fundamentos tão bem expressos, como um ode de amor à Totalidade, ao sopro divino que permeia todos os planos existenciais...

A Astrologia é algo tão infinito e simples como o eterno verso de William Blake, em "Auguries of Innocence":
Enxergar o mundo num grão de areia
E o céu numa flor silvestre,
Segurar o infinito na palma da sua mão,
E a eternidade em uma hora.


REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE I

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE II

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE III

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE IV

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE V


REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE VI

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE VII