Procuramos
mostrar ao longo dos artigos desta série que a
Astrologia é um saber vertical, cuja essência
está vinculada ao "Princípio de Correspondência"
que diz "O que está em cima é como
o que está embaixo e o que está embaixo
é como o que está em cima".
Este princípio relaciona elementos de diferentes
planos existenciais, físicos ou não, materiais
ou imateriais, e aponta para uma espécie de projeção
arquetípica permeando estes diferentes referenciais.
O fenômeno astrológico é, portanto,
vertical, e sua manifestação está
ligada à consciência. Não existe causalidade
entre a posição dos astros e os acontecimentos
na Terra, até porque a Astrologia, apesar do nome,
não depende dos astros, como demonstra o enunciado
do princípio que a rege. Para chegarmos à
observação dos fenômenos astrológicos
poderíamos partir de qualquer plano da natureza,
a fim de intuirmos o padrão qualitativo que está
se projetando em todos os outros planos. Poderíamos
observar, por exemplo, o desenho das nuvens, ou do vôo
dos pássaros; ou, como o fazem os sábios,
poderíamos interpretar a mensagem do que ocorre
à nossa volta ou no nosso interior, através
da meditação. Portanto, sob o ponto de vista
astrológico, não existe a tal influência
dos astros.
Já a ciência é
um saber horizontal, baseado no "Princípio
de Causa e Efeito", que diz "Toda a causa tem
seu efeito, todo o efeito tem sua causa; tudo acontece
de acordo com a Lei; o acaso é simplesmente um
nome dado a uma lei não reconhecida; há
muitos planos de causalidade, porém nada escapa
à Lei."
Na observação científica
dos fenômenos que ocorrem à nossa volta temos
o conceito de sujeito e objeto, uma vez que é preciso
separar o observador do observado para que possamos "tomar
ciência" do que está ocorrendo. O ato
de conhecer (ciência) implica nesta separação
entre o sujeito e o objeto; a ciência estuda o mundo,
portanto, sob o ponto de vista da polarização,
a divisão entre o "eu" e o "não
eu", que formamos ao nascer e vamos reforçando
ao longo da vida. Para que possamos equacionar algo, o
que em última instância é atributo
da ciência, é preciso separar as partes da
fórmula, senão não haveria a relação.
Sendo uma manifestação
vertical, na Astrologia não existe separação
entre sujeito ou objeto. Em não havendo causalidade,
o fenômeno observado e o observador são a
mesma coisa, partes de uma totalidade que sopra um código
arquetípico por todos os seus átomos. Somos
um ponto, parte de um todo que reverbera por todos os
pontos. Somos um elo na cadeia cósmica. Talvez
esta seja a questão mais difícil de se entender
sobre o fenômeno astrológico, pois, aparentemente,
o sujeito e o efeito que vivenciou são coisas distintas...
Mas sob o enfoque do "Princípio de Correspondência",
não são!
Quando vivenciamos algo, podemos
separar a ocorrência em duas manifestações:
o aspecto causal (afinal se quebramos uma perna, ficamos
deprimidos ou ganhamos na loteria existe uma cadeia de
fatos relacionados) e o aspecto acausal, arquetípico
(há uma mensagem, um princípio simbólico,
que, como a pluma de "Forrest Gump", pousou
aos nossos pés). Visto desta forma, todo fenômeno
tem dois aspectos: o lado causal, objetivo, científico,
e o lado acausal, subjetivo, da consciência, do
qual se ocupa a Astrologia.
É por isso que a vivência
dos princípios astrológicos depende do nível
em que o indivíduo está polarizado que,
em última instância, é a sua própria
consciência. As ocorrências científicas
de sua vida (causas e efeitos) dependerão sempre
dos níveis existenciais em que se encontra polarizado,
"crucificado" no plano existencial.
Em nossa vida, todos participamos,
por exemplo, de jogos de poder. Isto é inerente
ao ato de viver. Mas é claro que um político
estará mais intensamente polarizado neste plano
do que um profissional liberal. Da mesma forma, um empresário
estará mais polarizado em negócios do que
o seu empregado. E neste eterno jogo de polarização
toda nossa existência está envolvida, do
nosso corpo à nossa alma, constituindo o campo
da nossa consciência.
É apenas isto que faz a
diferença entre um iluminado e um homem comum,
o campo da consciência. Podem até ter o mesmo
mapa astrológico, e isto amiúde acontece.
Quantas vezes nos deparamos com pessoas que poderíamos
chamar de iluminadas, onde esperávamos encontrar
um mapa astrológico singular, talvez com um desenho
simétrico ou algo incomum, algo que o diferenciasse
dos simples mortais, e quão não é
nossa decepção ao verificar que seu mapa
astrológico não tem nenhuma característica
sobrenatural!... Não é o mapa astrológico
que faz a diferença, mas sim o nosso nível
de polarização, as estâncias em que
vivenciamos nossos princípios arquetípicos,
contidos no nosso mapa. Assim, quanto maior o campo da
consciência de um indivíduo, maior a amplitude
da experiência do seu próprio mapa astrológico.
Neste sentido, duas pessoas podem ter esquemas astrológicos
idênticos e vivências bem diferenciadas; no
entanto, ao olho do astrólogo, são vivências
análogas (cada uma vivencia seu mapa no seu respectivo
nível de consciência).
Desta forma, o princípio
que rege a Ciência e o princípio que rege
a Astrologia formam a cruz da existência: o braço
horizontal, causal (Ciência) e o braço vertical,
acausal (Astrologia, Esoterismo). É aqui que se
processa o eterno jogo da Matéria (Ciência)
e da Vida (Astrologia). O princípio maior que rege
a Ciência subordina-se à Lei de Economia
da natureza, e é ligado à Entropia: por
si só, a matéria busca o caminho de menor
resistência. Já a Astrologia reside sob a
Lei da Atração (consciência), que
insere sobre a matéria a chama da vida.
Portanto, um dos grandes erros
que se comete é considerar que a Astrologia "funcione",
como funcionam os fenômenos horizontais, ou seja,
sob relações de causa e efeito. Algo como
se dos planetas partisse uma espécie de raio invisível,
ou um tipo de magnetismo ou radiação que
comandasse os acontecimentos aqui na Terra. Isto é
um grande engano! Sob o ponto de vista astrológico,
não existe nenhuma influência dos astros,
nenhuma relação direta entre os planetas
e os acontecimentos na Terra. É por isso que a
Astrologia não se submete a métodos de experimentação
e pesquisa, e também não funciona, já
que não foi feita para "funcionar".
Ninguém nem nenhum método
científico jamais irá "demonstrar"
que a presença de Júpiter na Casa 01 do
mapa engorda, ou que Saturno nesta mesma casa emagrece,
apesar que de vez em quando isto acontece. E tem muita
gente com Júpiter na Casa 02 que não tem
um tostão no bolso, apesar que os manuais de Astrologia
muitas vezes prometem riquezas para esta posição.
Quando se fere a cabeça num trânsito tenso
de Saturno ao Marte natal, existiu uma correspondência
arquetípica entre estes fenômenos, mas nenhuma
causalidade. Não foi uma determinada "onda"
ou "influência maléfica" que partindo
de Saturno e, agindo sobre "meu Marte", me fez
bater com a cabeça ou discutir com o chefe, ou
então ficar irritado e com a pele vermelha. Nem
é nenhum "raio invisível" que,
partindo de Plutão quando este planeta forma quadratura
à Vênus do mapa natal de alguém, que
destrói seu casamento. Não há nenhuma
causalidade entre estes fenômenos, apenas uma correspondência
funcional, arquetípica, que se projeta onde a consciência
do indivíduo encontra-se polarizada. Nada disso
pode ser equacionado.
Se alguém quisesse insistir
nesta hipótese de "influência dos astros",
teríamos uma série de perguntas para fazer,
inclusive a de que - cientificamente - a influência
do médico que fez seu parto foi bem maior do que
a de Plutão, e também - cientificamente
- a "influência" de Marte teria que ser
muito maior quando este planeta estivesse mais próximo
à Terra, o que valeria para os demais planetas.
Neste sentido, a "influência" de Plutão
seria nula, já que o planeta é tão
pequeno e se encontra tão nos confins do Sistema
Solar que... Mas não é bem assim.
Como dissemos anteriormente, a
Astrologia não depende sequer dos astros, apesar
do nome. Apenas utiliza o plano do Sistema Solar como
um referencial macrocósmico de observação
dos princípios arquetípicos que, afinal,
encontram-se manifestando em toda a Natureza. Talvez um
astrólogo que encontre a Sabedoria possa vir um
dia a prescindir dos planetas para tirar suas conclusões,
observando diretamente à sua volta. Era assim que
procediam os sacerdotes do passado, que analisavam a qualidade
do tempo através do vôo dos pássaros
ou das nuanças do vento.
Cada manifestação
astrológica pode ser vivenciada numa infinidade
de níveis, mais intensamente naqueles em que o
indivíduo se encontra polarizado, e é nisto
que reside a verdadeira riqueza da Astrologia. É
a pura consciência.
A Astrologia é tão
ampla e infinita nas suas variantes, que qualquer previsão
astrológica está absolutamente certa, desde
que seja feita depois do fato ocorrer (o fato estava lá,
podemos observar que estava lá, no mapa, nos trânsitos,
o fato sempre esteve astrologicamente claro... Desde que
visto depois!). É neste caráter de imprevisibilidade
que a Astrologia evoca sua natureza uraniana, livre de
qualquer método, pesquisa ou roupagem que se lhe
queira dar. A Astrologia simplesmente é Astrologia.
Penso que a necessidade de denominá-la
de "Ciência" vem de querer fazê-la
mais respeitável aos olhos da sociedade, e é
minha opinião que este tiro tem saído sempre
pela culatra. Particularmente, acho que nos dias de hoje
a Astrologia fica muito mal quando queremos impingir-lhe
este título que não lhe compete. Isto tem
atraído a atenção de cientistas que
- à luz de considerações verdadeiramente
científicas - derrubam qualquer argumento quanto
a este pretenso caráter cientifico da Astrologia.
Jung, ha muito tempo atrás
concluiu: "Do ponto de vista científico, os
resultados de nossa investigação não
são, sob certos aspectos, muito animadores para
a Astrologia, porque tudo parece indicar que, no caso
de grandes números, as diferenças entre
os valores de freqüência dos aspectos dos pares
casados e não casados desaparecem inteiramente.
Assim sendo, do ponto de vista científico há
pouca esperança de provar que a correspondência
astrológica é algo que corresponde a determinadas
leis" (Carl G. Jung em "Sincronicidade")
A Astrologia é simplesmente
um caminho existencial, um processo vertical e individual.
Ela caminha serena e iluminada em meio ao fog das imagens
e dos símbolos, e se afina e afirma neste mundo
do imaginário, acerta em cheio no nosso campo da
ilusão, o campo que permeia e cria esta nossa ilusória
conceituação de realidade.
É exata apenas neste campo imaginário e
não tem compromisso algum com a realidade. De vez
em quando, apenas, dá uma bola para essa tal de
realidade. Não se submete a fórmulas nem
a sistematizações, não se enquadra
em pesquisas e nem neste campo manifesto do mundo das
polaridades, erroneamente denominado de realidade. Se
quiséssemos uma outra definição além
de seu próprio nome, talvez pudéssemos chamá-la
de arte, poesia, luz, consciência.
Somos partes do Todo. Nele nos
movemos e temos a nossa existência. Somos parte
do Seu sonho, da Sua manifestação. E como
num Holograma, somos partes e contemos o Todo em essência.
A Astrologia é a pura expressão das imagens
emanadas pelo Todo, a Sua linguagem cósmica. Talvez
seja por isso que muitas vezes é na poesia e na
loucura dos poetas que encontramos seus fundamentos tão
bem expressos, como um ode de amor à Totalidade,
ao sopro divino que permeia todos os planos existenciais...
A
Astrologia é algo tão infinito e simples
como o eterno verso de William Blake, em "Auguries
of Innocence":
Enxergar o mundo num grão de areia
E o céu numa flor silvestre,
Segurar o infinito na palma da sua mão,
E a eternidade em uma hora.
REDESCOBRINDO
A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE I
REDESCOBRINDO
A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE II
REDESCOBRINDO A VERDADEIRA
ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE III
REDESCOBRINDO A VERDADEIRA
ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE IV
REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA
- PARTE V
REDESCOBRINDO
A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE VI
REDESCOBRINDO
A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE VII