Redescobrindo a Verdadeira Essência da Astrologia - Parte 2
Otávio Azevedo

(O modelo astrológico - vertical - em contraposição ao modelo científico - horizontal)

"A sabedoria consiste em falar e agir segundo a verdade,
Observando cuidadosamente a natureza das coisas."
Heráclito (Fragmentos)

Qualquer fórmula, relação ou lei natural não poderia existir se não houvesse uma ordem cósmica. Tanto o conhecimento científico quanto o saber esotérico estão subordinados a leis maiores - eu as chamaria de Leis Cósmicas - que são princípios abstratos que determinam coerência e ordem do Todo. Estes princípios podem ser encontrados no Caibalion1, que através de suas sete leis herméticas forma uma espécie de "Constituição Cósmica".

Os cientistas, por exemplo, vivem buscando equacionar todos os fenômenos que ocorrem no Universo, o que seria inviável se não houvesse uma relação de causa e efeito entre as ocorrências da natureza. Sem isso, seria impossível buscar-se relações e equações que explicassem o universo visível. Da mesma forma, os astrólogos relacionam as "imagens" que permeiam o Universo, buscando um elo comum entre as infinitas "mensagens" que cruzam simultaneamente os mais diferentes planos de experiência, tanto os macrocósmicos quanto os microcósmicos. No entanto, diferente da mentalidade científica, os astrólogos não buscam relações de causa e efeito entre estes fenômenos, mas, sim, um elo simbólico entre os mesmos, como se houvesse algo maior que, com um "sopro", colorisse com os mesmos tons os elementos simbolicamente análogos, desde as galáxias até os átomos e partículas infinitesimais, seja nos planos materiais ou nos planos sutis de experiência. E a forma como os astrólogos "sentem" este "sopro" é através de simbolismos, o que aproxima a astrologia de algo poético ou artístico.

O mais importante é que ambas as formas de se ver a realidade estão subordinadas a leis maiores. Curiosamente a Lei maior da ciência é ignorada pelos cientistas, não sendo jamais citada em tratados ou livros de ciência. Esta Lei é denominada "Princípio de Causa e Efeito". Da mesma forma, há uma outra Lei que rege todos os fenômenos ditos esotéricos ou verticais, denominada "Princípio de Correspondência". Estes são respectivamente o sexto e o segundo princípios do Caibalion.

O Princípio de "Causa e Efeito" é - como veremos - uma lei horizontal, que atua no universo material da existência e está ligado à entropia (ou Lei de Economia), regendo a distribuição da matéria, e atuando numa direção estritamente material. Daí a enorme dificuldade que os cientistas têm em abordar as questões relacionadas à existência, à vida e à alma.

Já o "Princípio de Correspondência" é uma lei vertical, acausal e, portanto, não se manifesta por relações de causa e efeito. É um princípio que comanda a dotação de vida a toda matéria que existe no Universo (Lei de Atração). Diz o "Princípio de Correspondência":


"O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima."


Deve-se entender perfeitamente este "é como", que significa ser análogo, mas não igual ou semelhante. É ter uma função correspondente que expresse um mesmo princípio arquetípico, seja qual for o plano de manifestação. Seja, por exemplo, a função "centralizar", ou "irradiar". No Sistema Solar esta função arquetípica é expressa pelo Sol. A função "sol" inclui outras atribuições como transmitir vitalidade, criatividade, nobreza, majestade, liderança, brilho, dramaticidade. O astro Sol cumpre tudo isto no Sistema Solar. Um rei é o "sol" para o seu reino, assim como o coração é o "sol" do corpo humano, já que expressam funções análogas em relação ao seu sistema. O leão, o rei dos animais, expressa o princípio solar através do seu porte, conduta e aspecto. Entre os pássaros, temos o pavão, nas flores o girassol. Enfim, em cada plano de manifestação ou sistema, iremos encontrar elementos que expressam este princípio. Poderíamos adotar o mesmo procedimento para os outros princípios arquetípicos. Aqui, é importante considerar que ao interpretar um mapa astrológico, o astrólogo não está lidando com planetas físicos tipo Sol, Lua, etc, mas sim com o princípio que este planeta expressa.

O ponto mais importante do "Princípio de Correspondência" é que trata-se de uma lei acausal. Ele estabelece apenas uma relação "funcional" entre os variados planos de manifestação sem que haja aí nenhuma relação de causalidade. É através desta lei que funciona o esoterismo e todos os mecanismos em que se reconhece o Todo pela parte, ou outros planos a partir de um certo plano específico. Os astrólogos, portanto, observam a posição dos planetas no Sistema Solar e "sentem" o que ocorre nos outros planos de manifestação; no entanto, poder-se-ia "sentir" o mesmo a partir de qualquer outro plano de referência, da mesma forma como pode-se conhecer condições de todo corpo humano através da íris, das unhas ou das palmas das mãos. No seu significado mais profundo, é o "Princípio de Correspondência" que mostra a interligação de todas as coisas do Universo, como se fossem partes de um grande Todo Cósmico.

A astrologia, portanto, lida com esta projeção vertical expressa no "Princípio de Correspondência". O que se manifesta no macrocosmo é espelhado no microcosmo e vice-versa. A natureza é um espelho de infinitas faces, que a cada momento reflete uma mesma mensagem arquetípica.

Já a ciência, cuja função é estabelecer relações de causa e efeito, manifesta-se no sentido horizontal, perpendicular ao esoterismo. É regida pelo princípio de "Causa e Efeito", que diz:

"Toda a causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o acaso é simplesmente um nome dado a uma lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei."

O saber científico é, em suma, a busca de interligações, relações causais, formulações, ao que não se submete a astrologia, por ser expressão de um princípio acausal. No esquema seguinte podemos ver melhor as projeções verticais (esoterismo) e as projeções horizontais (ciência).

Pelo "Princípio de Correspondência", vertical, podemos associar Saturno à disciplina, ossos e porta. Sob o simbolismo deste planeta podemos ter problemas ósseos ou as "portas podem ser batidas na nossa cara". No entanto, estas são relações acausais. Não é Saturno que causa reumatismo e nem o responsável por nos ter sido negada uma oportunidade. Da mesma forma, se eu cair de uma árvore e partir a perna num aspecto difícil de Saturno, uma segunda pessoa poderia passar por um período de depressão e medo, manifestando a função no plano emocional ao invés de no plano físico. E, por essa linha, as possibilidades são infinitas, e inclusive pode-se optar por alternativas saudáveis para "canalizar" o tal aspecto tenso. Esta possibilidade é uma das grandes riquezas da astrologia. A situação de Saturno relacionada a nós é apenas um reflexo, que em suma poderia ser verificado em outros planos de referência, pois cada reino de manifestação tem "Saturnos" arquetípicos. A relação astrológica é, portanto, acausal. Não poderemos encontrar uma fórmula "científica" que equacione porta, delegado e ossos.

Já no sentido horizontal, podemos estabelecer fórmulas e relações, uma vez que aí se manifesta o "Princípio de Causa e Efeito". Esta é a tarefa da ciência. Os astrônomos estudam o céu e suas relações físicas, os psicólogos estudam as neuroses e suas causas, os biólogos analisam o funcionamento dos organismos, etc. Podemos estabelecer relações causais no sentido horizontal, mas não no vertical. Daí ser incorreto considerar a astrologia uma ciência - pelo menos nos moldes atuais em que esta palavra se insere - ou atribuir "influência" aos astros. Tenho visto pessoas que, para mostrar a "influência" dos astros, recorrem a situações físicas, como a influência da Lua sobre as marés ou das manchas solares sobre a Terra, com se estes efeitos físicos, e, portanto científicos, tivessem relação com a astrologia. Não têm. No sentido astrológico, os astros não predispõe e nem influenciam nada, apenas refletem uma função arquetípica, pois como diz o Princípio da Correspondência: "O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima".

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE I

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE II

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE III

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE IV

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE V


REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE VI

REDESCOBRINDO A VERDADEIRA ESSÊNCIA DA ASTROLOGIA - PARTE VII