Relativamente livre da poluição atmosférica, Americana, no interior de São Paulo, sofre com a contaminação de seus rios. O problema, na verdade, começa em outros municípios. Quem explica é Douglas Guzzo, gerente Regional da Companhia Paulista de Força e Luz:
—Americana está na bacia do Rio Piracicaba, que nasce da fusão do Atibaia e do Quilombo, rios que cortam, respectivamente, os municípios de Campinas e Sumaré. Para dar uma ideia, Sumaré já é, hoje, a 11ª maior arrecadação de ICM do estado de São Paulo. É impressionante o volume de consultas que a Força e Luz recebe de indústrias que querem se instalar na região. Estamos crescendo a um ritmo muito maior do que o Vale do Paraíba e tudo isso gera uma pressão muito forte. Nossos rios já são tão poluídos quanto o Tietê.
Guzzo enumera algumas projeções assustadoras: por volta do ano 2000, Campinas terá 5,5 milhões de habitantes; Sumaré, 1,2 milhão e Piracicaba, 2,5 milhões. A população da região tem dobrado de oito em oito anos e as novas indústrias contribuem para a contaminação de toda Bacia do Paraná. [ver nota: 25 anos depois]
—Qualquer desequilíbrio que ocorra em Campinas vai afetar cidades como Santa Fé e Buenos Aires, rio abaixo. Por isso, é mais importante pensar em uma estratégia global de saneamento dos rios do que simplesmente controlar as indústrias poluidoras, caso a caso.
Um projeto com esta perspectiva já está sendo posto em prática. Guzzo é presidente do CONDEMA – Conselho Municipal de defesa do Meio Ambiente de Americana – que atuando junto à Prefeitura na construção de uma estação de tratamento de esgotos através de um consórcio inédito: além da Prefeitura, tomam parte na obra 24 indústrias poluentes. O CONDEMA conta com a participação de representantes da comunidade e muitas indústrias do município, em função da pressão popular, já foram obrigadas a instalar filtros antipoluição. Mas as preocupações de Guzzo vão mais além:
—O município de Sumaré tem, no momento, 129 mil lotes de terra vendidos, prontos para construção. A progressiva impermeabilização do terreno vai provocar um aumento da descarga de águas pluviais no Quilombo, o que poderá inundar Americana. Piracicaba, que está numa área de menor altitude, é ainda mais vulnerável.
Apesar de lidar há trinta anos com usinas hidrelétricas e de acreditar na sua necessidade, Douglas Guzzo reconhece que uma represa é sempre um fator de desequilíbrio.
—Uma represa, ao dividir as águas do rio, cria dois ecossistemas diferentes. Por outro lado, elas têm um papel essencial como lagoas de decantação (os detritos poluentes, ao chegarem à represa, acumulam-se no fundo) e como reguladoras de descarga, ajudando a evitar inundações. Minha preocupação é que, num futuro próximo, essas represas serão desativadas, pois surgirão novas fontes de energia e as terras hoje cobertas poderão ser reaproveitadas para agricultura. Mas em que estado estarão essas terras? No fundo das represas estão se formando verdadeiras bombas químicas.
Ao saber que existe um plano de realizar na região o I Encontro Internacional para Preservação da Bacia do Prata, Guzzo se anima:
—Fora Buenos Aires, Campinas é hoje a maior fonte de poluição da Bacia do Prata. Mas é lá também que está a Unicamp e, bem perto, o Instituto Luís de Queiroz, de Piracicaba. São dois centros importantes de pesquisa sobre recursos hídricos, poluição e agrotóxicos. Seria ótima uma troca de ideias entre técnicos, ecologistas e os grupos de defesa ambiental.
25 anos depois
As projeções de Douglas Guzzo para a população de Campinas, Sumaré e Piracicaba não se concretizaram: Campinas tinha em 2009, segundo o IBGE, pouco mais de 1 milhão de habitantes; Sumaré, no mesmo ano, chegou a 241 mil, enquanto Piracicaba alcançava 368 mil. O erro da projeção populacional não tira, porém, a validade da dos riscos ambientais anunciados com tanta antecedência. A despoluição do Tietê, por diversas vezes anunciada, permanece ainda como um sonho distante. Douglas Guzzo, segundo pesquisa no Google, é hoje servidor aposentado da CESP.
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