CONJUNTURA
1985 é um ano-chave no encaminhamento das lutas ecologistas. Assiste-se a uma proliferação de grupos. Significativas vitórias têm sido conquistadas. Entre elas: a aprovação do projeto contra os agrotóxicos (organoclorados), o tombamento da encosta da Serra do Mar. Outra vitória – ainda que parcial: proibição da caça das baleias (aprovada na Câmara, faltando passar pelo Senado e pelo presidente da República). Sobre isto estamos remetendo abaixo-assinados, que devem ser encaminhados pelas entidades interessadas.
Maior do que a contenção da depredação (que envolve as questões físicas de nosso dia-a-dia) é a violência contra o ser humano. Há necessidade, por isto, de urgente articulação coletiva como forma de atuação política.
Há necessidade, também, de melhor definição dos principais valores que norteiam a prática e o pensamento ecologista. (Uma discussão especifica sobre VALORES ECOLOGISTAS será realizada em Florianópolis, nos dias 19 e 20/10/85).
O 1º FNEEA (Fórum Nacional das Entidades) terá como temas centrais – Formas de Organização/Luta e Participação na Constituinte. É importantíssimo que tenhamos uma, consciência/avaliação correta da atual conjuntura política, e também sobre o desgaste gradativo que a forma partido vem sofrendo. Há que restabelecer-se a dinâmica dos movimentos sociais, autônomos; somente assim teremos como intervir politicamente sem sermos absorvidos por uma máquina, como acontece hoje com os políticos profissionais e os “representantes do povo”.
Acima de tudo, é preciso mostrar para a sociedade que há uma alternativa, e que esta é viável. Precisamos mostrar que é possível ter uma boa organização sem autoritarismo (ou burocratismo), e que o Caos Social e o quanto-pior-melhor também podem ser uma veia aberta para um retrocesso que interessa apenas às posturas mais autoritárias que retaliaram politicamente nosso país nos últimos 20 anos.
Temos uma herança de populismo e autoritarismo – a democracia radical não faz parte de nossa história. Está poderá vir a ser constituída com um respeito mínimo a uma data representação parlamentar e uma forma direta de intervenção. Isto é, unir democracia representativa com democracia direta, garantindo a autonomia dos movimentos sociais. É desta forma que devemos pensar a nossa participação na Constituinte e nos demais cargos de representação popular.
Paralelamente, é preciso internalizar a democracia e pensar na constituição de personalidades democráticas – que respeitem a si próprias (não se violentando nem física nem espiritualmente), bem como às demais pessoas. Temos que nos diferenciar e mostrar que uma sociedade com personalidades democráticas é o que garantirá a constituinte da democracia. (O que temos visto? Sujeitos autoritários como porta-vozes da “democracia”).
NOTA: Este boletim ficou de ser elaborado pelo MEL, conforme decisão plenária da 37ª Reunião da SBPC. Durante a realização desta (Belo Horizonte), houve o IV Encontro Nacional de Entidades Conservacionistas, em que se deliberou a favor da realização de um I ENCONTRO NACIONAL DE ENTIDADES ECOLOGISTAS AUTÔNOMAS. Data: 4, 5 e 6 de abril de 1986, em Belo Horizonte. Organização da Associação Mineira de Defesa Ambiental.
No IX ENCA – Encontro Nacional de Comunidades Alternativas (final de julho, SP) – divulgou-se a decisão de se realizar o I ENCONTRO. Na mesma ocasião outras entidades se propuseram a colaborar com a feitura do boletim. Uma produção coletiva do MEL (SC), Arte e Pensamento Ecológico (SP) e Outra/Coovida (RJ).
Muitos debates e encontros estaduais têm sido realizados pelos ecologistas de todo o Brasil, objetivando uma maior coerência e força em suas lutas. Dando continuidade a este processo, o I ENCONTRO NACIONAL DE ENTIDADES ECOLOGISTAS AUTÔNOMAS poderá significar um grande salto de qualidade de ecologistas no país. Este boletim tem por objetivo maior pensar o ecologismo na sua atualidade, visando uma preparação, em terrenos de debate e informação, ao encontro de abril.
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