Continuação
Parte 1
| Parte 2
Apesar de ser fevereiro, o clima não tinha lá
muita cara de verão. Fazia frio naquele lugar
e, embora o relógio de pulso marcasse meio-dia,
a luz era difusa como se o sol já estivesse quase
sumindo no horizonte. Uma sensação estranha
impelia o jovem ribanceira abaixo como se o magnetizasse.
Sentia os pés deslizarem no barro úmido,
acelerando a descida. Temendo não conseguir frear
antes de chocar-se contra algo, arrastava mãos,
pés e traseiro sem sucesso. O frio na barriga
e a sensação de queda livre, porém,
reduziram-se após longos e agonizantes segundos.
Ele chegara ao final. Percebeu que a borda do penhasco
estava tão distante quanto as nuvens no céu.
Matutava sobre o tempo que levaria para subir tudo outra
vez, se conseguisse fazê-lo, já que a escalada
íngreme teria de ser feita sobre a lama que se
desfazia ao menor toque.
Olhou ao redor. O local era familiar. Já estivera
ali antes, não sabia quando, mas estivera. A
lua já despontava no horizonte, cheia, enorme,
amarelada, iluminando suavemente os arredores. Um odor
agradável penetrou em suas narinas acalmando-o
ao mesmo tempo em que anunciava a chegada de uma mulher
que viera por detrás das árvores da clareira.
Ela se aproximou e murmurou seu nome:
- Edgar...
Ele notou que sua face era um tanto nebulosa, modificando-se
aos poucos, como se fosse feita de fumaça ou
como se fosse apenas um halo de luz. A cada minuto vinha
uma face diferente. Eram três que se alternavam.
Uma delas era a de uma mulher madura com olhar severo.
As outras duas eram de uma adolescente e de uma mulher
jovem. A jovem chamou-lhe particularmente a atenção.
Não conseguia identificar o motivo, mas de algum
modo aquele rosto o fazia sentir-se muito bem. A face
severa retornou e disse:
- Por que me renegas, filho? Por que não me
abres as portas?
- Não sei do que a senhora está falando.
Como assim, abrir portas? Que portas?
- Você ainda não entendeu... - disse a
face menina - ainda não bastaram as coisas que
viste?
Confuso, ele tenta articular uma nova frase ante o
surgimento da face de mulher jovem. Antes porém
que consiga emitir o primeiro som, a figura se afasta
um pouco e abre a túnica que a envolvia num gesto
vigoroso. Por baixo, nada além de escuridão.
Nesse ínterim, a lua tomou-se de vermelho, um
vermelho sangue que parecia escorrer pelo céu
como num parto sob convulsões furiosas. Edgar
observa assustado a saída de um homem de grandes
proporções de dentro da escuridão
que outrora estava sob a capa da mulher de três
faces. Era ele novamente, o ser negro, não de
pele, mas de essência, que o aterrorizara certa
vez*.
*
- ver capítulo 1.
- Reconheces-me agora, Edgar? – O estranho ser
estende as mãos, num gesto de doação.
Por entre seus dedos nodosos brilhava uma estrela dourada
de cinco pontas.
Um tanto assustado, mas desta vez percebendo que não
sentira náuseas, Edgar toma-lhe o presente. Toda
a cena era observada pela mulher de três faces,
que se mantinha com os braços abertos segurando
o manto que abrigava sua escuridão quase tangível.
A lua, naquele momento, parara de “sangrar”.
Um pouco abaixo, o sol despontava no horizonte. Era
algo incrível ver o sol e a lua cheia, presentes
no mesmo momento no céu, ambos brilhando com
grande intensidade.
Ao olhar novamente para a estrela, Edgar vê-se
envolto num halo violeta. Seus nervos se acalmam, uma
sensação indescritível de relaxamento
toma seu ser. Os olhos do gigante da penumbra faiscam,
chamando a atenção do rapaz. Eles se entreolham
fixamente e o gigante toca a fronte de Edgar, bem entre
os olhos, com o indicador direito. Todo seu corpo estremece.
Um arrepio elétrico eriça seus cabelos.
O gigante se afasta, retornando ao manto escuro da mulher
de três faces. Ela, por sua vez, é engolfada
pela luz dos dois luminares estranhamente conjuntos
quando deveriam estar opostos. Num clarão, tudo
desaparece.
- Argh! – acorda sobressaltado com a luz do sol
nos olhos após uma suave brisa ter deslocado
a cortina – humm... outra vez aquele sonho...
Ele repara que os pêlos de seus braços
estão arrepiados, muito embora não sentisse
o menor indício de frio.
- EPA! - No espelho leva um susto com seus cabelos:
eles estavam arrepiados e pontudos como os de um punk.
Era a quarta vez durante aqueles dois primeiros meses
de 1989 que ele tivera um sonho parecido. Julgava que
eles vinham em decorrência do choque de ter descoberto
que passara no vestibular com uma boa colocação.
Mas é claro que uma a boa colocação
não era o fator principal em sua esquisitice
e sim a possibilidade de estar pronto para a internação
psiquiátrica, após aquela cena insólita
durante a prova*. Tentava
não lembrar disso desde então, mas aí
vieram aqueles sonhos incômodos...
*ver
capítulo 2
Estava com um formigamento incômodo na testa,
bem entre os olhos. Acordou com aquilo meio doído.
De repente, uma comichão no pescoço o
força a olhar para a porta do quarto. Parecia
estar vendo sua avó apressá-lo para fazer
um lanche, muito embora visse a cena meio nebulosamente.
- Não quero não, vó. Deixa que
eu vou lanchar na rua – disse ele olhando para
a porta fechada do quarto.
Na verdade, dona Odette havia acabado de sair da cozinha
pensando em oferecer lanche. Só podia ser lanche,
não um café da manhã, pois já
passara das 4 horas da tarde. Deixara o neto dormir
além da conta pois ele tinha virado algumas noites
datilografando trabalhos escolares para outras pessoas
para pagar as contas da casa. Afinal de contas, fora
ela mesma quem arrumara o trabalho com a vizinha de
uma prima sua que tinha contatos numa universidade.
Ouviu o neto responder à sua pergunta sem que
a tivesse feito.
- Como ele sabia...? Mas será possível
que nem uma surpresa eu consigo fazer pra esse garoto?!
Indo
ao Show
O carnaval já havia terminado há duas
semanas e finalmente chegara a hora. Edgar apressava-se
para comprar um ingresso para o show do Legião
Urbana que haveria naquele domingo. Há muito
queria assistir a uma apresentação do
conjunto. “Finalmente vou ver o Renato Russo e
vou ver de perto, nem que para isso eu leve umas porradas
dos seguranças”.
Era preciso urgência, pois ouvira dizer que os
ingressos estavam acabando. A grana como sempre estava
muito curta. Fez um esforço a mais para que sobrassem
uns trocados, ao pintar a casa da dona Cremilda, vizinha
de muitos anos, amiga de sua avó, que simpatizava
com o rapaz. Até que a casa não precisava
de pintura, mas vendo o desespero de Edgar ao conversar
com seu Armando, dono da mercearia, sobre a dificuldade
de ir ao evento, dona Cremilda resolveu ajudar. Claro
que não ia dar de graça, pois isso, em
sua concepção, não era educativo.
Mas se ele fizesse um trabalho bonitinho até
que pagaria um pouco além do combinado. Afinal
de contas, sua aposentadoria somada à pensão
de viúva lhe rendiam um certo excedente no fim
do mês. Ademais, sempre sentira muita pena do
menino. Admirava-o por nunca ter-se envolvido nas confusões
do bairro, mesmo não tendo o referencial dos
pais.
Edgar, por sua vez, apesar de estar feliz por ter conseguido
um meio de ver seus ídolos de perto, detestava
o fato de ter que ir sozinho. Não tinha um bom
relacionamento com os outros rapazes da vizinhança,
que preferiam ir aos bailes funk. Não desgostava
de funk, mas não conseguia entender como aqueles
caras “realizavam a proeza de não se interessarem
pelo Legião Urbana”. Também não
tinha namorada. “O quê? Namorada?!!! Tás
brincando?!”, pensava ele, que se autodepreciava
pensando ser feio e sem assunto. Também pudera:
as meninas só se interessavam por caras que tinham
carro e ele, conforme pensava, era um bosta, sem grana
e sem graça. Depois era magro, cheio de costelas,
suas roupas eram surradas e odiava roupas da Company,
que naquela época estavam na moda, com aquelas
cores berrantes “nojentas”. Com tanta percepção
negativa sobre si mesmo não admirava não
conseguir alguma coisa. Outro problema era que Edgar
tinha uma mentalidade diferente da predominante naquele
bairro. Gostava de ler, de saber das coisas, enquanto
a rapaziada preferia ir aos bailes para “melar
cueca” e, quem sabe, “comer uma mina”.
Seu grande dilema nesse campo era ver que as “idiotas”
preferiam os caras que se exibiam como Brucutus, ou
em seus carros envenenados, ou mostrando que tinham
capacidade de decisão desafiando outros rapazes.
Isso podia acontecer de duas maneiras: em meio a um
grupo de rapazes, aquele que tivesse cara-de-pau para
conquistar o maior número possível de
meninas era tido como um “cara esperto”.
A segunda maneira era humilharem-se uns aos outros para
impressionar as garotas. Em geral o mais forte ou o
mais velho do grupo levava a melhor. E o pior é
que isso dava certo: elas ficavam com os mais fortes
ou com aqueles aparentemente mais “maduros”,
segundo a terminologia delas. Edgar figurava entre os
meninos bobos, crianças demais. Enfim, o estigma
de sua adolescência ainda o perseguia naquele
lugar. Por isso mesmo jurou dar um jeito de sair dali
o quanto antes.
Mas pelo menos naquele dia, não iria importar-se
com isso. Há algum tempo sentia necessidade de
sair de si mesmo, enfrentar as coisas com maior objetividade.
Estava cansado de engaiolar-se após cada tentativa
frustrada, seja lá em que campo fosse. Prometera-se,
na virada do ano, que iria conseguir um emprego fixo,
que iria se esforçar para se relacionar melhor
com as pessoas.
Tentou conter a ansiedade cantarolando as músicas
do último álbum do conjunto. Uma em particular
o atraía, talvez porque fosse 1989, ano de eleição:
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é
este
No Amazonas, no Araguaia,
Na Baixada Fluminense
Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é
este
Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios em um leilão.
Que país é
este
Parou de cantarolar, encabulado ao perceber que estava
sendo observado com olhares severos de um senhor sentado
no banco da frente.
Desceu do ônibus na porta do jóquei-clube,
onde seria o show. O velho continuava olhando com cara
de insatisfeito. Percebeu-o dando uma bufada de satisfação
ao vê-lo sair. Deu de ombros e pulou. O dia estava
lindo, bem quente como devia ser um dia de verão
no Rio. Ao atravessar a rua, sentiu seus pêlos
se eriçarem novamente alguns segundos antes de
avistar uma figura da qual não poderia ter-se
esquecido nem se quisesse. Lá estava ele, andando
todo desengonçado, conversando com todo mundo
ao redor e fazendo chacota de desconhecidos. Só
podia ser uma pessoa: o branquelo do vestibular. Sentiu
simpatia outra vez por aquela figura caricatural. Edgar
foi-se aproximando, lembrando de sua promessa, pronto
para cutucar o... - como era mesmo o nome dele? –
já que estava de costas e ainda não o
vira. Porém, vários passos antes da abordagem,
o rapaz gesticulante pára de súbito, como
se tomado por uma força estranha. Ele se vira
a tempo de ver Edgar com o braço estendido, pronto
para chamá-lo. Ambos levam um breve susto e sorriem,
cumprimentando-se mutuamente. O branquelo, põe
para fora sua característica torrente verbal.
- E aí, cumpade! Passou no vestibular? Eu passei,
fui bem paca, nono lugar na UERJ. Cê cresceu,
pô?! Tá diferente! Também é
fã do Legião? Aí, tem um cara lá
na bilheteria que é meu parceiro, sabe? Acho
que ele guardou dois ingressos pra mim.
Edgar já estava atordoado ao ser metralhado
por tantas perguntas até que a última
frase o despertou. Respondeu o mais depressa que pôde:
- Passei no vestibular, não fui tão bem,
não cresci, sou fã, cadê o ingresso?
- Pô, aí, tô esperando uma mina
que eu convidei, por isso o meu camarada guardou o ingresso
pra mim.
Um
Pouco de Adrenalina
- Ah... – Edgar enrubesce com a gafe. Tenta disfarçar,
dizendo que vai até a enorme fila, quando tem
aquela sensação conhecida de que algo
errado estava para acontecer. À sua frente, um
casal que atravessava a rua despreocupadamente, parecia
estar com as camisetas manchadas de sangue. Juntamente
com esta visão, sobreveio o eriçar dos
pêlos. Edgar olha para os lados numa atitude explicitamente
tensa. Do meio da multidão ele nota um rapaz
negro dar um pulo anormalmente alto e correr em sua
direção proferindo dezenas de palavrões.
Ele se agacha, pronto para levar um safanão,
o que não acontece. O jovem negro com pinta de
atleta dá outro salto inexplicável no
exato momento em que um carro irrompe pela esquina perseguido
por uma viatura policial que cantava pneus.
A cena parecia transcorrer em câmera lenta. O
incrível salto do negro musculoso em direção
ao casal, os carros virando a esquina e um homem pondo
a metade do corpo para fora do carro portando uma metralhadora
do exército. Não podia dar noutra: tiroteio.
Ainda vendo as coisas em câmera lenta, Edgar percebe
que o casal tomba ao chocar-se com aquele que parecia
ser uma verdadeira pantera negra. Ao lado deles, as
balas disparadas aleatoriamente atingem o tronco de
uma árvore, espalhando farpas para todos os lados.
A perseguição continuou, afastando-se
do local. Centenas de pessoas deitadas no chão.
Somente Edgar e o “branquelo” mantinham-se
de pé estupefatos. O primeiro a sair da letargia
é ele, o tagarela, dirigindo-se aos três
próximos da árvore alvejada:
- Caramba, rapaz, tu deve ter o corpo fechado, hein!
Ih, aí, cumpade! Aí, cara, olha só
quem é o super-herói do dia!
Edgar de algum modo sabia quem era antes que tudo tivesse
ocorrido. O outro rapaz que fizera o vestibular na mesma
sala que ele o outro... – como era mesmo o nome
dele?
O trio ficou rodeado de pessoas. Todo mundo foi correndo
ver as balas que ficaram presas na árvore. Elas
teriam atingido o casal na altura do peito e do pescoço.
Um policial que montava guarda no local veio tardiamente.
Demonstrava grande preocupação, fez um
breve sermão para o rapaz, que a essa altura
estava sendo chamado de herói pela maioria e
de “onça-preta” por alguns mais debochados.
- Onça-preta... – disse o policial, também
negro – esse era o apelido que se dava prum negão
muito forte, o dobro do seu tamanho, meu filho. Tinha
uma foto dele lá em casa. Ele já morreu
faz tempo, se estivesse vivo hoje teria uns 100 anos.
Meu pai é que falava muito nele. Dizia que ninguém
podia com ele no braço. Jogava capoeira como
ninguém. Você até que se parece
um pouco com ele, mas precisaria ter uns 30 centímetros
a mais para ficar igual. Foi amigo de meu avô
na época do Getúlio Vargas.
- Putz, ele devia ser aquele segurança do Getúlio
Vargas, não? – Perguntou o jovem tagarela.
- Na verdade o Gregório Fortunato, era o segurança
do Getúlio. Ele também era enorme, mas
levou a pior com esse cara quando deu um safanão
num garçom que estava na cozinha do Palácio
do Catete. Esse garçom era chegado do negão.
Ambos eram de Petrópolis, onde fica o Quitandinha,
que fornecia garçons especializados para o atendimento
do presidente em eventos. O Onça estava perto
na ocasião e dizem que deu até pena do
Gregório. Depois de dar a surra naquela muralha
do presidente com aqueles pulos parecidos com esses
que você deu, ele ficou conhecido como Onça-Preta.
A sorte do Gregório era que o Onça não
era ruim, como comentou meu pai. Ele só queria
ficar no canto dele, não mexia com ninguém.
- Mas o Gregório não chamou reforços
pra segurar o cara?
- Chamou, mas os outros seguranças conheciam
o Onça e preferiram aconselhar o Gregório
a fazer amizade com ele. Diziam que ele tinha corpo
fechado, que já tentaram dar-lhe uns tiros, mas
que ele sempre se safava. O Onça saiu correndo
e o pessoal deixou pra não causar mais tumulto.
Após toda aquela história, Edgar dera-se
conta de que perdera todas as chances de conseguir um
ingresso sem intermediação de cambistas.
Desanimado, sentou-se na calçada, quase chorando.
Ouviu a conversa dos dois rapazes que encontrara no
vestibular. Ouviu dizerem novamente seus nomes: Aristóteles,
o magricela tagarela, e Rômulo, o “Onça-Preta”.
Edgar preferiu ocultar o fato de ter visto, ou pensado
ter visto, Rômulo trajando uma armadura peitoral,
escudo e espada. Surpreendeu-se com a estrela de 5 pontas
que ornava o peitoral. Depois achou que era pura imaginação,
pois na verdade Rômulo usava um cordão
com uma pequena medalha com um pentagrama.
Rômulo ainda se recuperava do enorme susto. Dizia
não saber o motivo de ter saído feito
louco daquela maneira. Poderia ter morrido. Ainda bem
que conseguiu tirar o dele e o daquele casal da reta.
Sua pele castanha estava esbranquiçada pelo medo.
Quase desmaiou, mas logo se recuperou. Dirigiu-se espontaneamente
a Edgar enquanto Aristóteles olhava ao redor
à procura de alguma coisa.
- Caramba – disse ele, tentando puxar assunto
– esse deve ser um dia daqueles. O Rio de Janeiro
está cada vez mais violento, não acha?
Edgar levanta os olhos lacrimejantes e nota a falta
de cor em Rômulo. Ari estava indo em direção
a um telefone público enquanto olhava o relógio
e balançava a cabeça contrariado.
- Oi... você vai ao show do Legião, né?
- Vamos, não é?
- Não, eu já vi que não vai dar
para eu ir. Esgotaram-se os ingressos e não tenho
grana pra pagar o valor do cambista.
- Pô... aí fica difícil. Mas vão
haver outros shows e...
- Mas que sacanagem, #+*%#!!!! Isso não se faz!
Mas que garota filha da *#@*#!!!
Rômulo, já tendo recobrado a calma, sorri
e pergunta o que houve. Aristóteles incomumente
vermelho para sua brancura cadavérica conta que
sua acompanhante dissera que não iria mais, pois
estava cansada e coisas do tipo. Como ele a pressionara,
ela contou a verdade: iria sair com outro rapaz.
Edgar perguntou:
- Por acaso esse cara tem carro?
- Tem, por que?
Edgar e Rômulo se entreolham e falam em uníssono:
- EU SABIA!
- Olha, quer saber de uma coisa, eu vou assistir o
show assim mesmo. Nenhuma patricinha metida a besta
vale o que esses caras valem.
- Ô Ari – interrompe Rômulo –
o Edgar está sem ingresso. Por que você
não vende o que sobrou pra ele? Deixa essa mulher
pra lá. Tem umas 50 mil só aqui, muita
gatinha. Olha lá, aquela ali já me deu
mole. Tá pra mim...
- Taí, sortudo. Se deu bem, hein! Você
tem razão, cara, afinal de contas ela é
meio escrota. Fica usando tudo quanto é roupa
de grife que aparece por aí como se isso fosse
mostrar que ela é melhor que alguém. Ah,
e ela também tem pouca bunda, he, he, he. Bom,
eu vou entrar, pois já estão abrindo os
portões.
- É vamos nessa.
Nada poderia ter deixado Edgar mais feliz. Depois de
passar no vestibular, mesmo com ajuda de uma alma de
outro mundo, e depois de conseguir do nada um ingresso
já esgotado, começou a achar que sua vida
iria mudar a partir dali. E, caramba, como iria mudar...
No próximo capítulo,
o encontro com Renato Russo e a Legião
Urbana (aproveite para conhecer
o site "O
Sopro do Dragão", do fã-clube
da Legião), além de outros fenômenos
que só poderíamos classificar como algo
"INSÓLITO". Não perca!
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