Inconsciente Coletivo
e Símbolos Construídos Culturalmente
Você já se perguntou por que quando um time de futebol
é campeão coloca-se uma estrela sobre o escudo do
time na camisa? Já reparou que a luxuosidade de um hotel
é classificada por meio de estrelas? Percebeu que ícones
do cinema, teatro e televisão são chamados de “astros”
e “estrelas”? Indagou-se sobre o significado do recebimento
de um pequeno broche com uma estrela para funcionários que
têm algum tipo de mérito em suas empresas? E quanto
às estrelas que compõem bandeiras de tantos países,
inclusive a do Brasil e de partidos como o PT?
Isso seria apenas uma curiosidade
se na grande maioria dos casos acima as estrelas que adornam os
méritos e destaques não tivessem 5 pontas. Qual seria
a razão para que tal ícone fosse tão freqüente
em tantas situações ou contextos semelhantes? Qual
a diferença entre a estrela de 5 e a de 6 pontas, que também
é bastante usada em condecorações, especialmente
as ligadas à realeza ou ao poder central de algum país?
Por que não se usa grafismos de estrelas de formatos diferentes
com tantas freqüência? O que está no inconsciente
da coletividade que nos leva a optar por um símbolo como
este? Há quem veja o interesse neste tipo de coisa como uma
verdadeira bobagem. Entretanto, mesmo num ícone tão
comum há uma linguagem bastante complexa. Um único
elemento gráfico pode conter mensagens subliminares que revela
uma série de aspectos importantes sobre uma cultura e principalmente
sobre os indivíduos que fazem uso de tais imagens para identificarem
a si mesmos como unidade. E a base do que afirmo ser mensagens dentro
de imagens está no fato de que a idéia de caracteres
gráficos, sejam eles letras, sejam ícones de computador,
têm suas raízes numa identificação do
homem com seu meio ambiente. Cada caracter, por mais comum que seja,
traz consigo sua história e todo um amálgama de culturas
desde que foi utilizado pela primeira vez. Esse amálgama
cultural dos caracteres confere significados ora reiterados em determinadas
épocas, ora acrescidos de idéias diferentes por povos
de locais e costumes diversos. Para dar um exemplo rápido,
basta observarmos a letra “A”, cuja origem está
no desenho da cabeça de um boi. Inicialmente o caracter era
um desenho bastante parecido com o animal visto frontalmente. É
possível que a necessidade de praticidade e disseminação
de leis e regras sociais, o caracter, que antes era mais ou menos
rebuscado, tenha forçado a estilização do desenho
num pictograma fácil de ser reproduzido. O resultado foi
a cabeça do boi desenhada com dois riscos diagonais e um
horizontal transversal, dando apenas a idéia de um boi para
quem já estivesse educado para enxergá-lo daquela
forma. Estes três riscos, com a forma da cabeça e dois
chifres para cima, segundo nos mostram os lingüistas e estudiosos
da história da arte, de acordo com a época e com os
traços de culturas diferentes, foi aos poucos alterando sua
posição até tomar a forma que hoje conhecemos
como “A”. No final das contas, é a cabeça
de um boi ou de um touro com os chifres virados para baixo.
O
ALFABETO E O ZODÍACO
Partindo deste pressuposto, o
que temos? A letra “A” de nosso exemplo inicial ainda
guarda significados além do som vocálico que representa.
“A” para a cultura ocidental é tido como o primeiro,
o que vem antes, o início, o líder. Não é
por acaso que chamamos o animal líder de uma manada de “macho
alfa”. Não é por acaso também que “alfa”,
no grego, tenha a mesma raiz que “aleph”, no hebraico.
Muito menos por acaso “aleph” significa “boi”.
Outra correlação a ser feita é a zodiacal.
Podemos estimar a criação deste caracter ocorrida
durante a chamada “Era de Touro”, cerca de 4 mil a.C.,
ou antes, no final da “Era de Gêmeos”, cerca de
5 mil a.C. Note-se que Gêmeos é o signo astrológico
relacionado à idéia de escrita, comunicação,
e tem como signo oposto Sagitário, relacionado às
leis, que na Antigüidade e no Medievo tinham um caráter
de Revelação divina de regras sociais. Tal “revelação”
passou a ser conservada por meio da escrita, que também passou
a ter caráter sagrado para os antigos.
Mas o que isso tem a ver com o
zodíaco? Se levarmos em conta o movimento de precessão
dos equinócios (ver glossário),
o ponto vernal, isto é, o início da primavera, no
hemisfério norte, iniciado em fins de março, altera
sua posição no zodíaco sideral (o zodíaco
astronômico, real, não simbólico). Isso ocorre
lentamente, à razão de aproximadamente 1 grau a cada
72 anos, ou 30 graus a aproximadamente 2.160 anos. 30 graus é
matematicamente a divisão da circunferência zodiacal
por 12 signos, ou seja, cada um deles tem 30 graus. Trocando em
miúdos: sabendo que por volta do ano zero da chamada era
cristã esse ponto vernal encontrava-se no início do
signo de Peixes (a “Era de Peixes”), 4 mil anos antes
ele estava em Touro. Muito bem, sabemos que no simbolismo astrológico
aceito no ocidente é o signo de Áries que inicia a
primavera, que tem o título de iniciador, de primeiro, de
implantador. O que teria a ver a letra “A”, o boi ou
o touro, a ver com a idéia de inícios se o signo de
Touro é o segundo no sistema que usamos agora? 4 mil anos
a.C. a constelação que despontava no horizonte a leste
no início da primavera era a de Touro. Marcava-se ali um
período de consolidação do homem sedentário,
agricultor, que usava o touro como animal de tração
ou que o idolatrava de algum modo. Mesmo numa manada de bovinos
(búfalos, bisões etc.) há um macho alfa. Esse
animal líder representava a idéia de inícios
de que falamos. Difícil de conceber? É importante
que tentemos nos situar numa época sem tentarmos aplicar
os modelos de que podemos lançar mão na atualidade.
Para entendermos o homem daquele período é preciso
que saibamos até onde iam suas percepções,
situando-nos nelas.
Não pretendo, neste artigo,
discutir o processo de mudança de Touro para Áries
na questão dos inícios, coisa que pode ser feita num
trabalho posterior. Quero, antes de tudo, demonstrar que um simples
ícone com o qual estamos habituadíssimos em nosso
cotidiano guarda consigo um enorme manancial de informações
que de algum modo ativa áreas de nosso inconsciente. Uma
simples letra “A”, dependendo de como for colocada ou
reproduzida, traz a idéia de dianteira, de força de
decisão, de representação de um todo pela parte
(o líder de uma manada é um representante, costuma
ser um exemplar da melhor qualidade). Os princípios, as forças
primordiais, os atos perpetrados de forma intuitiva e criativa que
antecedem as formas elaboradas racionalmente, tudo isso está
contido no “A”. Só que não nos damos conta
disso e não percebemos o quanto somos afetados pelos conteúdos
subliminares que constituem o histórico de um simples caracter.
Voltando à estrela de 5
pontas, antes de abordarmos a origem milenar do símbolo,
notem que ele está sempre presente quando se quer demonstrar
garra e luta. Outros atributos são a capacidade de decisão,
o enfrentamento de desafios, honra, bravura, disposição
para a batalha, expressão de vitória e de conquista.
Expressão de superioridade com relação aos
demais por ter-se passado pelo que podemos chamar de “o ordálio
do herói”. Expressa também a busca de igualdade
perante os grandes. Vemos isso em ícones como as estrelas
que ornam os escudos de times de futebol vencedores. Há ainda
o caso do escudo do clube Botafogo Futebol e Regatas, do Rio de
Janeiro, que retrata muito bem, por tratar-se de um esporte combativo
e cheio de linguagem bélica (ataque, defesa, artilheiro...),
a idéia de luta pela vitória. O escudo do Botafogo
só assumiu a forma conhecida hoje, com a Estrela Solitária
(de 5 pontas) certo tempo depois de vencer seu primeiro campeonato
em 1910, ganhando a alcunha de “O Glorioso”. Obviamente
os torcedores de times rivais irão discordar, mas isso não
tira do símbolo a alusão ao desejo de vitória,
de conquista de um “lugar no céu”.
Escudo
do Botafogo Futebol e Regatas estilizado em 3D. Atenção
para as 4 estrelas acima, representando 4 conquistas de
campeonato. |
|
Outros ícones conhecidos
são:
- O Pentágono - ícone
norte-americano do Ministério da Defesa, ou seria melhor
dizer Ministério da Guerra?
- A bandeira do PT, Partido dos
Trabalhadores, que neste mês de outubro de 2002 muito provavelmente
elegerá seu primeiro presidente da República.
- A estrela do xerife, que vemos
em filmes de caubói ou em imagens de policiais norte-americanos
atuais? Por que em vez de uma balança, que sabemos ser símbolo
da Justiça, eles usam uma estrela de 5 pontas (já
cheguei a ver com 6 pontas, mas a freqüência maior é
de 5). Ora, os “justiceiros” dos filmes de faroeste
ou os “defensores da lei” em geral não portam
uma balança e sim uma estrela. Alguns diretores fazem questão
de focalizar as esporas nas botas dos heróis. Falando em
herói, que tal o Capitão América, o “super-soldado”,
que usa uma enorme estrela de 5 pontas no peito?
Com toda esta alusão a
luta e bravura, percebe-se que a estrela de 5 pontas reúne
entre seus mais importantes significados, os atributos mais positivos
do planeta Marte, astrologicamente falando. Mais adiante falaremos
sobre outras atribuições do pentagrama, como sua utilização
na magia, por exemplo. Por ora, vejamos até que ponto o significado
de Marte está atrelado ao da estrela, lembrando também
que a referência à estrela do PT tem absoluta analogia
com o simbolismo de que tratamos. Não pretendo discutir propostas
políticas, mas o fato é que o PT traz consigo um discurso
de luta, de batalha pelos direitos dos trabalhadores. Com sua cor
vermelha, simboliza da mesma forma o aspecto guerreiro marcial.
Note-se que Luis Inácio Lula da Silva, ícone do movimento
petista, era metalúrgico, o que se afina perfeitamente com
o simbolismo de Marte, planeta que rege os metais, em especial o
ferro e o aço, liga metálica feita com ferro e carbono.
Lula também tem Marte em conjunção com sua
Lua, o que está de acordo com uma forte ênfase no simbolismo
do planeta.
Bandeira
com a estrela do Partido dos Trabalhadores |
|
É correto afirmar que estrelas,
tal como representadas iconograficamente, são representações
do céu, das alturas, da astronomia, enfim, exortam o imaginário
popular a olhar para cima e buscar algum significado, a tentar transcender
o cotidiano. A concessão de uma estrela de 5 pontas é
o mesmo que colocar o indivíduo entre os deuses ou entre
os grandes de uma cultura. Mas como? Através de atos de bravura.
É aí que o simbolismo do céu abre espaço
para o guerreiro ou para o lutador corajoso. A propósito,
um comentário é oportuno: as qualificações
acima também são aplicáveis no feminino: guerreira,
lutadora corajosa, etc. Coragem, como sabemos, independe de sexo.
Há alguma dúvida? Que tal pesquisar a vida de Maria
Quitéria de Jesus Medeiros, mulher soldado que lutou nas
batalhas pela Independência?
Outro ícone marcial relacionado
é o selo das Armas Nacionais do Brasil, com a estrela de
5 pontas ornando uma esfera celeste com o Cruzeiro do Sul.
Armas Nacionais
É
obrigatório o uso das Armas Nacionais:
No Palácio da Presidência da República
e na residência do Presidente da República;
nos edifícios-sede dos Ministérios; nas Casas
do Congresso Nacional; no Supremo Tribunal Federal, nos
Tribunais Superiores e nos Tribunais Federais de Recursos;
nos edifícios-sede dos poderes executivo, legislativo
e judiciário dos Estados, Territórios e Distrito
Federal; nas Prefeituras e Câmaras Municipais; na
frontaria dos edifícios das repartições
públicas federais; nos quartéis das forças
federais de terra, mar e ar e das polícias militares
e corpos de bombeiros militares, nos seus armamentos, bem
como nas fortalezas e nos navios de guerra; na frontaria
ou no salão principal das escolas públicas;
nos papéis de expediente, nos convites e nas publicações
oficiais dos órgãos federais. |
HERÓIS
E BEM-AVENTURADOS
A estrela de 5 pontas traz consigo
a idéia de atos de heroísmo que levam ao alcance da
graça de habitar um mundo de bem-aventurados, seja o olimpo
dos gregos ou o Paraíso, do pensamento medieval, que era
associado ao céu. No mito vemos que Zeus costumava colocar
heróis mortos, os bravos, e até mesmo os monstros,
como a Hidra de Lerna, no céu, sob a forma de constelação.
Esta visão, poetizada e retransmitida por homens como Homero,
é uma espécie de fixação de uma grande
saga para a eternidade, algo que todos precisam conhecer, como um
legado, um modelo de virtude a ser seguido (Hércules vencendo
a Hidra...). E isso mesmo que ele não tenha ocorrido de fato,
que apenas faça parte do imaginário, ou que tenha
sido um fato real e não tão grandioso, mas transformado
em ato divino pela ótica daqueles que o repassaram a suas
comunidades. A constelação, talvez seja uma parábola
construída didaticamente no sentido de incutir nos indivíduos
imagens sobre um caminho já percorrido. Caminho este que
pode tornar a ser feito com boa desenvoltura por aqueles que compreendem
a mensagem em suas entrelinhas e que, acima de tudo, têm coragem
de dar passos em direção a ele. Assim, a concessão
de uma estrela de 5 pontas ou o ato de um clube esportivo bordar
uma em sua camisa tem um paralelo arquetípico no sentido
de habitar entre os deuses, constelar entre heróis já
constelados, ser divino ou ser grandioso segundo a ótica
da bravura.
A cultura brasileira herdou dos
portugueses a condecoração com medalhas e emblemas
na forma de uma cruz como a Cruz da Ordem do Cristo. Se analisarmos
cuidadosamente, esta cruz, cujas pontas têm dimensões
iguais, sugere um quinto elemento central em seu eixo. A cruz da
Ordem do Cristo está presente nas vidas de guerreiros e aventureiros
e tem sua origem nas cruzadas. Pensemos melhor: por que era concedida
uma condecoração em forma de cruz aos cruzados? Podem
confirmar isso em trabalhos científicos: a cruz é
o símbolo de sofrimento seguido de bem-aventurança,
o símbolo divino segundo a mentalidade cristã. Ora,
se é um símbolo divino e se a crença do senso
comum é de que há para o “bom cristão”
um “lugar no céu”, do que estamos tornando a
falar? Exatamente! O ato de bravura dos guerreiros medievais refletia
a mesma expectativa de “constelar” entre os grandes,
de habitar os céus, de aproximar-se da divindade. O símbolo
pode ter sido substituído em função de uma
imposição religiosa e cultural, mas o “fator
5” continuava em funcionamento no design da cruz com um ponto
central equidistante de suas quatro ramificações.
Hoje o símbolo da estrela de 5 pontas, secular, dessacralizado
para o ocidente, é usado em tantas ocasiões que tornou-se
o elemento decorativo mais comum em festas e cerimônias. Não
podia ser diferente, afinal de contas, ele traz à tona a
necessidade humana de religação com algo superior
através de uma atitude considerada socialmente como honrada,
nobre e digna de comemoração como uma vitória
sobre vicissitudes.
Mas as culturas são mutáveis,
é verdade, e um símbolo pode adquirir facetas um tanto
diferentes ao longo do tempo. É o caso contemporâneo
de uma grande atuação em outra área que não
a guerra que também pode ser passível de condecoração,
seja com um ícone, seja com um título. Isso hoje,
em diversas sociedades, equivale ao antigo ato de bravura, honra
e heroísmo. Quando a sociedade é vista através
de proezas de um de seus membros, especialmente se as proezas parecem
ressaltar as virtudes que um povo atribui a si mesmo, este membro
é exaltado como herói ou como nobre. Ele recebe algum
tipo de insígnia, que varia desde uma cruz, como já
vimos, estrela ou até mesmo um título de nobreza,
como no caso do ator inglês Laurence Olivier, que recebeu
o título de “sir”, pela coroa inglesa. Não
surpreende o fato de “sir” ser um título que
acompanha o de “cavaleiro”. A cavalaria era a elite
social e militar da Idade Média (com origem na antigüidade),
cuja mentalidade prezava pela realização de proezas,
pela honra, bravura, coragem e aventura. O cavaleiro necessariamente
era nobre para isso tinha que pertencer a uma linhagem, que era
legitimada pela confirmação da Igreja.
MARTE
NA ÁRVORE DA VIDA
Mas a relação entre
o planeta Marte, segundo a visão astrológica, e a
estrela de 5 pontas não pára por aí. Há
quem tenha dificuldade em estabelecer a mesma relação
entre ambos os símbolos acima e o sistema cabalístico.
No entanto esta dificuldade talvez se deva à desinformação
a respeito do próprio esquema da Árvore da Vida e
das origens de tantas escolas ocultistas. Igualmente, há
quem possa perguntar o que a Árvore da Vida e a Cabalá,
que teria origem judaica (ou melhor, hebraica), teriam a ver com
todo um simbolismo ocidental. Tudo a ver. O sistema de divisão
das manifestações divinas visto no diagrama da Árvore,
muito embora tenha assumido esta forma na Idade Média, tem
origem extremamente antiga, no Egito ou na Mesopotâmia, algo
em torno de 5 mil anos a.C. Talvez isso seja ainda mais antigo,
mas não temos como saber. O importante é saber que
nossa cultura parte do modelo greco-romano, que por sua vez foi
profundamente influenciado por aquelas civilizações.
Desse modo, permanece na estrutura ou na raíz de nossa mentalidade
o amálgama cultural e histórico inicialmente mencionado
neste texto. A cultura híbrida da Idade Média européia
muito contribuiu para a construção da simbologia que
conhecemos da Árvore. Para se ter uma idéia, Toledo,
uma das cidades mais importantes do medievo em se tratando de rotas
de comércio, peregrinação religiosa e escolas
de pensamento foi um centro irradiador da Cabalá e de diversas
outras linhas de pensamento. A estrutura hermética contida
nos ensinamentos e mentalidades judaicas, cristãs, pagãs
e muçulmanas contribuiu decisivamente para a formação
de nossa cultura e essa mescla se fortaleceu a partir da Idade Média.
Daí a importância em conjugarmos, hoje, uma linha de
pensamento com a outra, de sermos sintéticos e inclusivos.
Marte, ou seja lá qual
for o nome da divindade guerreira da qual estejamos falando, sempre
estará localizado, numa hierarquia de 10 potências,
na quinta posição. Isso, é claro, independe
de ele ser mais ou menos importante do que alguma coisa. A quinta
posição num esquema de descrição de
uma realidade divina é um atributo específico cujos
requisitos só são preenchidos por alguma coisa ou
alguma divindade que tenha as características marciais que
conhecemos. Observando daqui da Terra, se contarmos a partir do
Sol, em ordem de distanciamento do mesmo, a posição
dos planetas fica assim:
1- Sol;
2- Mercúrio;
3- Vênus;
4- Lua (não contamos a Terra, pois ela é
nosso ponto de observação);
5- Marte.
Se fizermos a contagem a partir
do diagrama da Árvore da Vida, temos o seguinte.
1- Kether -
“primum móbile”, cujas características
descritas por especialistas como Dion Fortune muito se assemelham
ao que astrologicamente descrevemos como atributos do planeta Netuno.
2- Hochmah - apesar das controvérsias, suas
características são claramente uranianas, segundo
a visão astrológica.
3- Binah - a partir daqui as controvérsias
parecem desaparecer e quase todos concordam que estamos falando
de Saturno.
4- Hesed (ou Gedulah) - Júpiter. Notem que
o número 4, relacionado à sephirah é extremamente
semelhante ao glifo de Júpiter. A razão disso é
que o glifo é que deu origem ao número como o conhecemos.
O numeral arábico na verdade é hindu e os árabes
que o conheceram fazendo comércio com a Índia, trouxeram
o sistema para a Europa. A forma simplificou bastante os cálculos,
que eram feitos com base em algarismos romanos.
5- Gevurah
- Marte. Estamos vendo aqui
uma série de alusões a seu simbolismo. É oportuno
dizer agora que o algarismo 5 deriva do glifo de Marte, assim como
o 4 vem de Júpiter e o 3 de Saturno. Os seguintes seriam
corruptelas do glifos do Sol (6), Vênus (7), Mercúrio
(8) e Lua (9). O 1, o 2 e o zero teriam, respectivamente, origens:
1 = no ponto; 2 = a metade do glifo de Júpiter (sem o traço
vertical da cruz); 0 o infinito, o o tudo e o nada, a negação,
a não existência, o divino que não pode ser
concebido senão por suas manifestações espelhadas.
Gevurah também tem como
um de seus ícones a estrela de 5 pontas. Tiphereth, a sephirah
relacionada ao Sol, tem como um dos principais ícones a estrela
de 6 pontas, conhecida como Selo de Salomão ou como Escudo
de Davi. A idéia do 6 é a de união entre atributos
aparentemente diversos, do “em cima” com o “embaixo”,
do divino com o humano. É um sinal de aliança, como
a descrita nos textos do Pentateuco (novamente um elemento quíntuplo)
entre a humanidade e a divindade. O Sol, na Árvore, por sinal,
ocupa um ponto central, de equilíbrio entre o mundo celestial
e o mundo terreno.
A Árvore da Vida - Uma das Versões
Apesar de todo o simbolismo guerreiro
de Marte, a estrela de 5 pontas também representa a quintessência,
a união dos 4 elementos, Fogo, Terra, Ar e Água através
de um quinto que os funde e lhes confere funcionalidade. É
símbolo do ser humano, mentor da matéria e representante
do divino no mundo. Para os wiccanianos não tão é
diferente: a ponta superior representa o espírito, sendo
as outras quatro pontas representando cada elemento. Todavia, o
simbolismo pagão costuma representar o pentagrama com um
círculo a sua volta. Ele simboliza, segundo esta ótica,
o útero da Deusa. Isto tem um óbvio paralelo com a
idéia de união do ser humano com a divindade, da manifestação
dessa divindade na matéria ou no mundo cotidiano. O que para
uns seria simbolizado pelo hexagrama, para eles parece sê-lo
pelo pentagrama circunscrito.
O
PENTAGRAMA INVERTIDO:
SÍMBOLO DO MAL?
A estrela de 5 pontas também
ativa o imaginário popular no sentido negativo, ao se lhe
atribuir uma conotação demoníaca, especialmente
quando é representado com a ponta para baixo ou junto à
cabeça de um bode. Segundo consta em sites especializados
na religião wicca e em versões de estudiosos do simbolismo
oculto, nenhuma ilustração conhecida associando o
pentagrama com o mal aparece até o Século XIX. Eliphas
Levi (Alphonse Louis Constant) ilustra o pentagrama vertical do
homem microcósmico ao lado de um pentagrama invertido, com
a cabeça do bode de Baphomet (figura panteísta e mágica
do absoluto). Em decorrência dessa ilustração
e justaposição, a figura do pentagrama, foi levada
ao conceito do bem e do mal.
Quanto a isto, eis um trecho muito
interessante de um texto retirado da Internet (o texto completo
está em: http://members.tripod.com.br/EmporioWicca/penta.html)
Em torno de 1940, Gerald Gardner adotou o pentagrama vertical,
como um símbolo usado em rituais pagãos. Era também
o pentagrama desenhado nos altares dos rituais, simbolizando os
três aspectos da deusa mais os dois aspectos do deus, nascendo,
então, a nova religião de Wicca.
Por volta de 1960, o pentagrama retomou força como poderoso
talismã, juntamente com o crescente interesse popular em
Wicca, e a publicação de muitos livros (incluindo
vários romances) sobre o assunto, ocasionando uma decorrente
reação da Igreja, preocupada com esta nova força
emergente.
Um dos aspectos extremos dessa reação foi causado
pelo estabelecimento do culto satânico - "A Igreja de
Satanás" - por Anton La Vay. Como emblema de sua igreja,
La Vay adotou o pentagrama invertido (inspirado na figura de Baphomet
de Eliphas Levi).
Isso agravou com grande intensidade
a reação da Igreja Cristã, que transformou
o símbolo sagrado do pentagrama (invertido ou não),
em símbolo do satanismo.
A configuração da estrela de cinco pontas, em posições
distintas, trouxe vários conceitos simbólicos para
o pentagrama, que foram sendo associados, na mente dos neopagãos,
a conceitos de magia branca ou magia negra. Esse fato ocasionou
a formação de um forte código de ética
de Wicca - que trazia como preceito básico: "Não
desejes ou faças ao próximo, o que não quiseres
que volte para vós, com três vezes mais força
daquela que desejaste."
Na Grécia Antiga, era conhecido como Pentalpha, geometricamente
composto de cinco As.
Pitágoras, filósofo e matemático grego, grande
místico e moralista, iniciado nos grandes mistérios,
percorreu o mundo nas suas viagens e, em decorrência, se encontram
possíveis explicações para a presença
do pentagrama, no Egito, na Caldéia e nas terras ao redor
da Índia. A geometria do pentagrama e suas associações
metafísicas foram exploradas pelos pitagóricos, que
o consideravam um emblema de perfeição. A geometria
do pentagrama ficou conhecida como "A Proporção
Dourada", que ao longo da arte pós-helênica, pôde
ser observada nos projetos de alguns templos.
Para os agnósticos, era o pentagrama a "Estrela Ardente"
e, como a Lua crescente, um símbolo relacionado à
magia e aos mistérios do céu noturno. Para os druidas,
era um símbolo divino e, no Egito, era o símbolo do
útero da terra, guardando uma relação simbólica
com o conceito da forma da pirâmide. Os celtas pagãos
atribuíam o símbolo do pentagrama à Deusa Morrigan.
Os primeiros cristãos
relacionavam o pentagrama às cinco chagas de Cristo e, desde
então, até os tempos medievais, era um símbolo
cristão. Antes da Inquisição não havia
nenhuma associação maligna ao pentagrama; pelo contrário,
era a representação da verdade implícita, do
misticismo religioso e do trabalho do Criador.
O imperador Constantino I, depois de ganhar a ajuda da Igreja Cristã
na posse militar e religiosa do Império Romano em 312 d.C.,
usou o pentagrama junto com o símbolo de chi-rho (uma forma
simbólica da cruz), como seu selo e amuleto.
Durante o longo período da Inquisição, havia
a promulgação de muitas mentiras e acusações
em decorrência dos "interesses" da ortodoxia e eliminação
de heresias. A Igreja mergulhou por um longo período no mesmo
diabolismo ao qual buscou se opor. O pentagrama foi visto, então,
como simbolizando a cabeça de um bode ou o diabo, na forma
de Baphomet, e era Baphomet quem a Inquisição acusou
os Templários de adorar.
As sociedades secretas de artesãos e eruditos, que durante
a inquisição viveram uma verdadeira paranóia,
realizando seus estudos longe dos olhos da Igreja, já podiam
agora com o fim do período de trevas da Inquisição,
trazer à luz o Hermetismo, ciência doutrinaria ligada
ao agnosticismo surgida no Egito, atribuída ao deus Thot,
chamado pelos gregos de Hermes Trismegisto, e formada principalmente
pela associação de elementos doutrinários orientais
e neoplatônicos.
O Pentagrama é tão importante para um Wiccaniano,
quanto uma cruz é importante para um cristão, ou como
um Selo de Salomão é importante para um judeu. O Pentagrama
representa o homem dentro do círculo, o mais alto símbolo
da comunhão total com os Deuses. É o mais alto símbolo
da Arte, pois mostra o homem reverenciando a Deusa , já que
é a estilização de uma estrela (homem) assentada
no círculo da Lua Cheia (Deusa).
Por último, é interessante disponibilizar aqui
um exemplo da visão que a cultura ocidental tem da estrela
de 5 pontas. Escolhi a exegese da bandeira do Estado de Rondônia
para mostrar que mesmo um Estado relativamente recente do Brasil
tem na descrição de sua bandeira conceitos semelhantes
aos tratados nesta matéria (veja também o simbolismo
das bandeiras dos Estados):
A
Bandeira, Símbolo do Estado de Rondônia, segundo as
regras já estabelecidas, de sua feitura, está representada
em trabalho artístico executado nas cores VERDE (sinopla),
AMARELO (ouro), AZUL (blau) e PRATA ("estanho") significando
as potencialidades vegetal e mineral do novo Estado da Federação
projetado e representado, como os demais estados, no céu
da União, em forma de estrela, de prata, em disposição
tal que seja, por um observador postado de frente para o oriente,
imaginariamente situado no limite da fronteira, visualizada como
o território ideal onde possa construir o seu futuro, onde
possa concretizar a realização de seus sonhos, a materialização
plena de seus anseios pessoais.
Defronta uma estrada verde (sinopla) projetando-se para frente,
para o futuro, ao encontro do horizonte, até onde a vista
sempre nunca alcance. Sua segurança não oferece dúvidas
e a cada passo que nela avança, mais aumenta a confiança
e a fé no futuro.
Percalços não existem por ela está assentada
em solo firme, rico, promissor. É a magnificência:
as riquezas em sentido amplo, abrangente; um horizonte (ouro), também
ilimitado, inteiramente disponível às iniciativas
que a imaginação possa permitir.
O conjunto solo-estrada, retratado nas cores nacionais (ouro-sinopla),
ostenta a brasilidade de um torrão que – pela ousadia,
espírito de aventura, de conquista e coragem de pioneiros
de quantas bandeiras e de tantos outros que vieram também
construir e solidificar o progresso – atingindo a sua plenitude,
se levanta agora, altaneiro, firme todavia em sua base, em forma
de ESTRELA. É uma estrela flamígera, perfeita, de
cinco pontas; a quintessência triunfante, com todo seu esplendor
de estanho (prata) projetando-se no céu azul (blau) da União.
Onde você pode encontrar
mais referências ao simbolismo da estrela de 5 pontas:
- Cursos Astroletiva
- Nível Fundamentos - Aspectos Astrológicos - Lições
sobre aspectos menores, onde são descritos os aspectos quintil
e biquintil, de 72 e 144 graus de arco respectivamente. Quando traçamos
uma linha reta a cada 72 graus obtemos um pentágono regular
circunscrito. Quando o fazemos com o ângulo de 144 graus,
obtemos uma estrela de 5 pontas traçada continuamente, sem
que precisemos retirar a caneta do papel. Estes aspectos estão
presentes e em bastante evidência em mapas de pessoas com
alta capacidade criativa e grande poder de iniciativa, entre outros
atributos complexos descritos no curso.
- No seguinte endereço da Internet:
http://members.tripod.com.br/EmporioWicca/penta.html - você
encontra uma abordagem muito esclarecedora a respeito. Trata-se
de um texto extremamente bem elaborado, que discute entre outras
coisas as origens gnósticas e pitagóricas do símbolo,
focalizando-o historicamente em figuras como Ticho Brahe e outros.
- Quanto à abordagem das letras hebraicas,
iconografia e o alfabeto ocidental, juntamente com uma alusão
à própria constelação de Touro, o livro
“Progressão Lunar e Kabbalah” é uma referência.
Outros livros muito esclarecedores e que serviram de base para o
primeiro, são “La Letra, Camiño de La Vida”
(ed. Kier - Argentina), e “O simbolismo do Corpo Humano”
(ed. Pensamento - Brasil), ambos de Annick de Souzenelle.