A problemática de virem ou não as bandeiras ecologistas a ser defendidas por uma organização partidária própria é uma realidade que está presente. Esta proposta foi defendida inicialmente no PR e RJ por alguns membros do PTB. A sigla PV tornou-se vazia, sem qualquer vinculação com os movimentos ecologistas e símbolo de oportunismo mais gritante de velhos caudilhos populistas.
A ideia, porém, foi assumida posteriormente por companheiros militantes que hoje mobilizam-se para a formação de um PV representativo. Hoje existem comissões pró-partido em MG, RJ, CE, entre outros Estados. É com estes companheiros que estamos abertos ao diálogo, embora nossa posição venha em direção contrária, uma estratégia de luta dada a atual conjuntura política.
Em primeiro lugar, a formação de um partido Verde, embora com as facilidades legais de hoje, envolve no mínimo cinco Estados para sua constituição. Se quisermos respeitar todas as instâncias de representação democrática, esta decisão deveria ser tirada após um encontro nacional com o objetivo específico para tanto. Caso seja rechaçada a ideia, é necessário respeitar a decisão e propô-la em momento mais oportuno; caso seja aceita, é compromisso de todas as entidades se mobilizarem na mesma luta e ocuparem o maior espaço possível. A instância competente para tanto é o I FNEEA – por isso a importância da participação do maior número possível de entidades ecologistas representativas.
A persistir a posição isolada de criação do PV, mesmo sendo repudiada e não discutida publicamente, tal posição constituirá um ato de vanguardismo, isolado do movimento como um todo.
Sendo aprovada a proposta de criação do PV, é preciso que se passe à instância estadual para que se saiba que Estados poderiam arcar com este ônus de organização e adaptarem suas atividades normais à luta pró-formação do partido ao Movimento Ecologista, uma maior integração em cada Estado e a nível nacional. Você sabe quantos grupos ecologistas existem em sua cidade? E no País? Que critérios utilizar para considerar um grupo “ecologista”?
Um partido poderia vir a comprometer a inserção social das entidades em função de exigências burocráticas que ocupam tempo. Hoje é mais importante ser um militante do movimento ou do partido? É possível harmonizar as duas coisas? Como fica a questão da dupla militância?
As instâncias de deliberação são diferenciadas, embora os objetivos sejam comuns: representação dos ecologistas na vida pública e, principalmente, na Constituinte.
É importante que tenhamos claro que ou se faz o partido ou não teremos representação.
Para a Constituinte, há a possibilidade de vir a ser aprovado o candidato avulso – por isso é preciso defender e propagandear a emenda José Eudes. Caso seja derrotada e vingar a proposta Sarney, temos que exigir dos partidos já constituídos um espaço para os movimentos sem que haja “entrismo” ou absorção. Autonomia. Devemos exigir isto dos partidos. E que nossos candidatos apresentem apenas uma lista de eleitores que concordam com a candidatura. Com o esvaziamento crescente dos partidos e a perda constante de seus “currais eleitorais”, pode ser o momento de fazer exigências e “testar” a democracia interna dos partidos sem que haja grande esforço de seus militantes e sem grande perda de tempo.
Entendo que a criação do PV, hoje, traria mais problemas do que soluções. Ainda mais que – parece – estão criando um partido para concorrer a uma eleição que se aproxima. Sabe-se dos riscos, caso haja uma grande frustração. A história tem algo a dizer…
Minha postura não reflete a Verdade Ecológica Atual, nem acredito que esteja com a razão. Aliás, não quero mais do que levantar pontos para discussão. E a verdade é aproximada e sempre relativa a um dado momento histórico. O espaço está aberto; a proposta de que o ecologismo venha a ser defendido, hoje, por um partido pode ocupar o próximo boletim.
O que aconteceu depois
O advogado Rogério Portanova completou o doutorado em Sociologia e Antropologia pela Universidade de Paris em 1994. Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina e Conselheiro do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Inicialmente reticente quanto à participação de ambientalistas na política, filiou-se mais tarde ao Partido Verde, apresentando candidatura a cargos eletivos em mais de uma eleição. Em 2006 publicou o livro Desventuras românticas e militância alternativa, sobre política ambientalista e Partido Verde, pela Fundação Boiteux.
O Partido Verde, que durante todo o ano de 1985 esteve na mira de acaloradas discussões contra e a favor no movimento ambientalista, foi fundado oficialmente em 1986. Ao longo do tempo, conseguiu congregar muitos de seus antigos críticos, ao mesmo tempo em que alguns integrantes do núcleo original migraram para outras agremiações.
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