É com grande prazer que eu apresento
o trabalho de meu amigo Waldemar Falcão, Encontros com
médiuns notáveis. Não se trata somente de
um prazer, mas sim de um dever encorajar livros como este em um
mundo que se encontra desesperadamente em busca de sua origem
perdida, de seu ser e de seu futuro.
Waldemar foi meu guia, amigo e tradutor durante
meus primeiros passos brasileiros. Desde 1996, nós formamos
uma equipe dinâmica durante os primeiros seminários
e conferências que proferi em diferentes cidades do Brasil.
Sua visão de uma sociedade transformada e seu entusiasmo
comunicativo me ajudaram a compreender a potência espiritual
que existe em seu grande e belo país.
Através das eras, os estados visionários
e mediúnicos desempenharam um papel muito importante. Dos
transes extáticos dos xamãs às revelações
dos fundadores das grandes correntes religiosas, profetas, santos
e mestres espirituais, estas elevações de consciência
foram a fonte de mensagens espirituais, de entusiasmo religioso,
de fenômenos marcantes de cura e de inspiração
artística. Todas as culturas antigas e pré-industriais
reconheceram o grande valor dos conselhos esclarecedores fornecidos
pelos médiuns como sendo um meio importante de aprendizado
a respeito dos aspectos ocultos do mundo e de conexão do
ser humano com as dimensões espirituais da existência.
Penetrar no âmago daquilo que constitui
a própria essência do fenômeno psíquico
da forma como ele é desenvolvido neste livro nos leva em
direção à compreensão do mecanismo
do tempo. Nas civilizações tradicionais, o espaço
e o tempo não são vistos de maneira linear; o tempo
e o futuro são ligados àquilo que é superior
ao tempo. Ou, por tê-lo eu mesmo experimentado, a percepção
do tempo não-linear deflagra uma transformação
espiritual. Existe um número crescente de pessoas que sentem
a necessidade difusa, mas real, de libertação, de
transformação pessoal e espiritual, e o médium,
funcionando como catalisador de dimensões que se situam
além do ser humano, torna-se a ligação, o
mediador, o ponto de ligação entre a dimensão
profana e a dimensão sagrada.
De um ponto de vista semântico, nós
somos prisioneiros de uma definição muito limitada
da vida e da inteligência. Pouco a pouco percebe-se que
aquilo que entendemos por espírito, inteligência
ou mesmo vida, não passa de um reflexo, um sucedâneo
de um princípio de organização muito mais
vasto, e todos os seres dotados de “capacidades especiais”
sempre tentaram fazer passar a mesma mensagem, de que existem
três vibrações fundamentais no universo: o
amor, a sabedoria e o conhecimento.
Existe em cada um de nós uma consciência
espiritual em ressonância com a consciência espiritual
do universo. Nós estamos prestes a viver em uma época
onde os cientistas falam como os místicos e os místicos
como os cientistas, onde o solo se desmancha sob os nossos pés,
onde as fundações vacilam. Pode ser que tenha sido
assim também em outras épocas. Atualmente, portanto,
a questão da nossa sobrevivência pessoal, coletiva
e planetária se apresenta, imperativa. O período
da história que nós vivemos é diferente,
ele traz realmente uma emergência da consciência,
perceptível em todos os pontos do planeta.
Vivemos um momento privilegiado da história
da convergência da ciência e da tradição.
O espírito planetário, Anima Mundi, propõe
à humanidade um enigma cósmico para meditarmos,
porque nós somos todos alunos da escola do Mistério
que representa a própria vida. A ciência pode nos
fazer conquistar uma parte do caminho ao nos ajudar a compreender
certos aspectos deste mistério, mas no fim das contas cabe
a nós sairmos de nosso estado de hipnose cultural e de
renunciar às formas convencionais de conhecimento e de
compreensão, se quisermos penetrar um dia no âmago
daquilo que compõe a essência deste mistério.
Para todos aqueles que já estiveram em
contato com o Outro Mundo, a visão da luz celeste é
uma oferenda que nos faz esta Anima Mundi, sob o aspecto de um
enigma onde o apelo irresistível nos atrai mais e mais.
Para nós todos, o destino do nosso mundo e da nossa evolução
dependem da nossa determinação em nos abrirmos às
energias eternas do universo. E através de nossa abertura
e das mensagens dos médiuns aqui apresentados, Waldemar
Falcão nos faz passar sua convicção de que
o ser humano é infinitamente belo, infinitamente grande
e infinitamente nobre.
Depois de tantos anos de estudo e de exploração
de nossos potenciais ocultos, senti a possibilidade do humano
possível que dorme em nós. Existe uma necessidade
profunda para que nós, seres humanos, criemos uma sociedade
e um mundo possíveis, se pretendemos sobreviver à
nossa odisséia pessoal e coletiva para nos religarmos à
segurança do santuário de nossa alma.
O Autor partilha conosco suas visões
e seus sonhos. Encontros com médiuns notáveis faz
parte da mensagem que Waldemar nos transmite de que num dia não
muito distante o homem não será mais o lobo do homem
e que o ser humano não será mais seu próprio
predador, mas fará parte do mesmo grito de amor que cerca
nosso planeta com suas asas de luz.
É desta maneira que compreendo o pensamento
e o trabalho de meu amigo e irmão espiritual Waldemar Falcão.
Patrick Drouot – Físico
Paris, Novembro de 2004.
PREFÁCIO
Waldemar Falcão
é muitas coisas: músico, editor, tradutor, escritor,
astrólogo, espiritualista e médium, além
de esposo atento e pai carinhoso. Seu percurso pela espiritualidade
e pela mediunidade o levou a ter contato com médiuns notáveis,
seis dos quais são aqui biografados por ele.
Para se entender este
livro e os fenômenos da mediunidade testemunhados pelo autor
precisamos transcender a razão instrumental-analítica
e meramente causatória, com a qual operamos cotidianamente.
Sem desmerecer o alcance deste tipo de razão (é
por ela que o autor escreve este livro), há que se reconhecer
que ela se mostra insuficiente para dar conta dos fenômenos
surpreendentes vividos pelos médiuns.
Precisamos nos abrir a
outros exercícios da razão, disponíveis em
nós, em alguns de forma mais patente que em outros. Mais
que da razão se trata, na verdade, da inteligência
espiritual hoje reconhecida pelos estudos avançados de
neurologia e neurolinguística. É a faculdade que
está nos seres humanos que permite ler dentro e no interior
da realidade e de captar o virtual, o passado e o futuro que se
anunciam dentro dela. Esta capacidade é especialmente potenciada
nos médiuns.
Mais que paranormais ou
médiuns, eles são propriamente xamãs. O xamã
é aquele que entra em sintonia tão sutil e fina
com as energias em presença, naturais e cósmicas,
que consegue manejá-las e fazê-las benfazejas para
os outros. O xamanismo talvez seja a estruturação
mais ancestral do ser humano, pois nossos ancestros (ela é
comum ainda hoje especialmente nas culturas originárias)
viviam a fusão cósmica com a realidade, sentiam-se
um com ela ou parte e parcela consciente dela.
Por esta razão
não é de se admirar e não constitui nenhum
milagre aquilo que Waldemar Falcão narra. Ao se preparar
uma mesa a Oxossi, orixá que rege as florestas, no meio
da mata ao som de um "ponto" dedicado a ele, de repente,
sem que houvesse nenhum vento, começou a cair verdadeira
chuva de folhas de todas as árvores próximas da
mesa e só delas. E quando pelo findar o dia se fez uma
homenagem a Oxalá, cujo animal sagrado é representado
pela pomba branca, de repente, dois pombos brancos se postaram
no alto da pedra de onde iniciava a cachoeira, e lá ficaram,
iluminados pelo sol, até o momento que terminou a cerimônia.
Só então desapareceram na floresta.
É próprio
da inteligência espiritual captar os contextos maiores,
os sentidos ocultos e as conexões que interligam todos
os seres em sinfonia. Os médiuns e xamãs operam
esta ligação de tudo com tudo. Cabe notar que todos
eles, sem exceção, usam essas faculdades em benefício
de quem precisa sem qualquer vinculação financeira.
O mérito deste
livro não é teorizar sobre tais fenômenos
(uma das médiuns, dona Célia, utiliza categorias
da mecânica quântica para conferir-lhes alguma luz)
mas mostrá-los como surgem na vida e na ação
destas pessoas altamente dotadas. São, em sua grande maioria,
pessoas simples, funcionários públicos, trabalhadores,
gente que se perde no meio da massa humana. E no entanto, são
simultaneamente portadores de forças surpreendentes e absolutamente
gratuitas, exercendo-as sem espalhafato e longe dos focos da mídia.
O livro dedica também uma parte aos "médiuns
honorários", pessoas conhecidas pelo autor que revelam
capacidade de confortar e de suscitar elevação espiritual
nos outros.
Existe o invisível.
Ele é parte do visível. Esta verdade é testemunhada
pelos paranormais-xamãs e mostrada como realidade insofismável
neste belo livro de Waldemar Falcão.
Leonardo
Boff
Petrópolis, 15 de novembro de 2004.