Prometeu era um dos quatro filhos de Jápeto e Clímene
e pertencia à raça dos Titãs. Como era um
adivinho, previu a derrota de seu povo e tornou-se amigo de Zeus.
Segundo a tradição (que não consta da Teogonia
de Hesíodo), Prometeu criou os primeiros seres humanos
na Terra. Bem antes da vitória de Zeus sobre os Titãs,
Prometeu foi um benfeitor da humanidade.
Devido a esta troca de “lugares”
os deuses sempre desconfiaram da proteção dada por
Prometeu aos homens. Um dia em Mecone, o deus filantropo desejou
ludibriar o pai dos deuses e dos homens em favor dos mortais,
dividindo um grande boi em duas porções: a primeira
continha carnes e entranhas, cobertas pelo couro do animal. A
segunda, apenas os ossos, disfarçados com a gordura branca
dos mesmos. Ao escolher uma delas, Zeus optou pela segunda e,
vendo-se burlado, “a cólera encheu sua alma, enquanto
o ódio lhe subia ao coração”1.
Um terrível castigo foi imposto. Zeus
privou o homem do fogo – simbolicamente do nûs, da
inteligência – tornando a humanidade “ignorante”.
Novamente o benfeitor dos homens agiu. Roubou
uma centelha do fogo celeste, ocultando-a na haste de uma férula
e a trouxe à Terra, reanimando os mortais. O maior dos
deuses Olímpicos resolveu punir com mais rigor a humanidade
e seu protetor. Contra os homens imaginou perdê-los para
sempre através da irresistível Pandora (cuja caixa
continha todos os males da humanidade, inclusive a esperança).
Contra Prometeu, a punição foi terrível.
Ele foi acorrentado com grilhões em uma coluna e tinha
o fígado “roído” durante o dia por uma
águia e à noite, o órgão se regenerava
e Zeus jurou que jamais o libertaria daquela prisão.
Habilitados parcialmente pela centelha de fogo
celeste, os homens experimentaram o uso diferencial da inteligência
e a fome de saber.
Quanto a Pandora (“a detentora de todos
os dons”), ela foi a primeira mulher modelada em argila,
animada por Hefesto e tornada irresistível pelos deuses
– “Afrodite deu-lhe a beleza e insuflou-lhe o desejo
indomável que atormenta os membros e os sentidos.”
Por fim, Hermes concedeu-lhe o dom da palavra.
Fome, saber e sexualidade desencadearam assim
em um projeto humano. A transgressão realizada por Pandora
ao abrir a caixa que continha todos os males do mundo determinou
o ponto de partida em que as pessoas passaram a conviver numa
tremenda confusão sendo uma tarefa importante a “diferenciação
entre as espécies e, sobretudo, do homem com o próprio
semelhante.” 2
O desencontro com a situação paradisíaca
de possuir todo o fogo implicou “o encontro com a sexuação,
no prazer, no desprazer, no sofrimento, no trabalho, na dúvida.”3
Entre este prazer originário e a realidade terrena existe
uma ruptura – um fogo perdido – que será para
sempre um lugar de fome, de um mal-estar.
Na Astrologia, as casas do elemento fogo representam
lugares onde o ser humano deve buscar a construção
dos sentidos da vida. Em Áries, o que é mais básico
e pulsional, o que se combina com seus afetos; em Leão,
a sua paixão e seus derivados e em Sagitário, a
construção de seu caminho. Como nos explicita Bachelard,
“o fogo é brilhante, como uma consciência da
solidão.” 4
NOTAS
:
1- Brandão, Junito, Dicionário Mítico-Etimológico,
Vol. II, Vozes: Petrópolis, 1992, p. 328-329.
2- Carneiro, Henrique F., “...e no começo era a fome:três
movimentos da dietética na criação do homem”,
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, Vol. III,
nº2, junho de 2000, p.46.
3- Carneiro, Henrique F., “...e no começo era a fome:três
movimentos da dietética na criação do homem”,
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, Vol. III,
nº2, junho de 2000, p.46.
4- Bachelard, G., “A Psicanálise do Fogo”,
Martins Fontes: São Paulo, 1994, p.4.
Luiz Roberto Delvaux de Matos
Astrólogo, membro do SINARJ
Sind. Astrólogos do Rio de Janeiro