Argumentos
e Falácias
(fonte:
Dicionário Aurélio) |
Argumento
ad hominem.
1. Argumento
com que se
procura confundir o adversário, opondo-lhe seus próprios
atos
ou palavras.
Argumento
ad judicium.
1. Argumento fundamentado
na opinião corrente ou
no senso comum.
Argumento ad populum.
1. Sofisma em que se
ssociam
ao objeto da argumentação
elementos que tocam à sensibilidade, às necessidades,
às aspirações, aos temores, etc., do público
que se quer convencer.
Argumento ad rem.
1. Argumento relativo ao assunto em foco.
Argumento baculino (ad baculum).
1. Argumento que consiste em pretender provar a existência
do mundo exterior golpeando o solo, ou mesmo aquele com quem
se argumenta, com um bastão.
2. P. ext. Demonstração ou refutação
de uma tese filosófica por meio de uma ação
material, como, p. ex., mover-se, para provar, aos que negam
a possibilidade do movimento, que este existe.
3. Imposição de uma tese com base no medo ou na
timidez do adversário em face da superioridade física
de quem argumenta.
Argumento da autoridade
1. V. apelo ao respeito.
Levar um argumento. Bras. Gír.
1. Ter diálogo; manter conversação; tratar
um assunto.
Em
junho de 2003, cursos ao vivo no Rio de Janeiro. Inscreva-se:
ASTROLOGIA
CÁRMICA
O
MAPA SOLAR
INTRODUÇÃO
À ASTROLOGIA CABALÍSTICA
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|
1-
Astrologia e métodos epistemológicos |
FINALIDADE: esclarecer
que a Astrologia não está em desacordo com as
premissas da Epistemologia.
TÍTULO DADO: (vários títulos
para vários capítulos)
ONDE E QUANDO FOI USADA ORIGINALMENTE: durante
o mês de julho de 2002, em réplica ao artigo escrito
pelo jornalista filósofo Hélio Schwartsman. Editado
no site Companhia do Céu.
AUTOR: Edil Carvalho
ARTIGO PUBLICADO NO EDITORIAL DO JORNAL
DA FOLHA EM 02 DE JULHO DE 2002 E QUE GEROU TODA A TROCA DE
CORRESPONDÊNCIA ABAIXO.
O CÉU COMO LIMITE, por Hélio
Schwartsman: http://www.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0207200203.htm
E-MAIL ENVIADO AO JORNALISTA
DIA 4 DE JULHO DE 2002
INEPTO OR NOT
INEPTO: É ASSIM O JORNALISMO?
Pelas regras da epistemologia conhecida, é indevido afirmar
que a
astrologia seja uma ciência.
jornalista Hélio Schwartsman
Hélio,
Se, de fato, você é um jornalista tão consciente
do significado do exercício profissional a ponto de tecer
comentários sobre a invalidade da astrologia e da sua
descabida regulamentação, deveria se informar
o suficiente sobre o assunto da pauta que lhe cabe antes de
redigi-la. Afinal, é só dar uma olhadinha mais
aprofundada em qualquer livro que tenha se proposto a discutir
seriamente o tema epistemológico para verificar que a
sua afirmação não procede e que, além
disso, turva a topologia dos fatos e das informações,
criando uma imagem enviesada e falsa sobre algo que - de repente
- pode ser até verdadeiro.
Pelas regras da epistemologia, é fundamental observar
os princípios em que uma determinada ordem de conhecimentos
está baseada, os métodos de que ela se utilizou
para verificar suas hipóteses e, assim, o seu desenvolvimento
até alcançar o status de ciência. Ela é,
a grosso modo, uma disciplina que estuda aquilo que concebemos
como a formação da ciência. Por isso, ela
também considera e verifica qual a grade de interpretação
que está em jogo na formação de um conhecimento,
isto é, por quais critérios e valores um determinado
fato ou fenômeno é investigado.
A epistemologia não cuida, assim, somente do objeto que
está sendo visto, mas também - e sobretudo - dos
instrumentos cognitivos que estão sendo usados para que
este objeto seja reconstituído e retratado em toda a
sua inteireza e complexidade. A epistemologia se funda nestas
duas fronteiras, como uma ponte: no objeto e no meio pelo qual
este objeto é conhecido, sendo esta interação
extremamente necessária para se medir e avaliar o estágio
de qualquer conhecimento.
Essa pequena preliminar se faz necessária somente para
esclarecer que, pela grade epistemológica da ciência
moderna, é, sim, absolutamente impossível compreender
uma ciência que faça parte de uma outra estrutura
epistemológica, tal como a Astrologia, que integrava
o corpo pedagógico das Artes Liberais até meados
do século XIV, quando a cosmovisão humana era
outra. No entanto, isto não é suficiente para
afirmar que este corpo de conhecimentos seja inválido
- ainda mais pelas regras da epistemologia, que exige que se
reconheça e se reconstitua os critérios e os valores
em que este conhecimento se edificou, vendo este conhecimento
dentro do seu respectivo quadro de valores.
Aliás, este é a advertência que Michel Foucault
deixa a entrever no livro AS PALAVRAS E AS COISAS, ao explicar
que pelo século XVII houve uma ruptura abrupta de valores
e conceitos, um salto repentino de um determinado quadro de
significados para outro, de uma episteme para outra, impedindo
que se estabelecesse uma revisão progressiva e gradual
destes mesmos valores, dando estes por ultrapassados e enterrados
num passado sem mais valor.
Pelas regras da epistemologia, o que se torna indevido é
analisar uma forma de conhecimento fora de seu quadro de valores
- ou sob o enfoque de um outro quadro de valores, que é
o que você está fazendo, juntamente com outros,
que sequer compreendem a beleza de uma disciplina como a epistemologia
e o quanto ela só tem a contribuir para a recuperação
e para o desenvolvimento da Astrologia.
Como sou bom astrólogo e me preocupo com a imagem da
disciplina que exerço, recomendo alguns livros para sua
formação e leitura. Quem sabe, assim, os seus
profissionais possam fazer jus e dignificar a própria
atividade.
1) WEBER, MAX. Sobre a Universidade.
Ed Cortez-SP, 1989
2) HUSSERL, EDMUND. A Crise da Humanidade Européia e
a Filosofia. Ed Edipucrs-RS, 1996
3) GRANGER, GILLES-GASTON. A Ciência e as Ciências.
Ed Unesp, 1994
4) MOLES, ABRAHAM. As Ciências do Impreciso. Ed Afrontamento-Lisboa,
1995
5) BRONOWSKI, JACOB. O Senso Comum da Ciência. Ed Itatiaia-SP,
1977
6) __________________ Ciência e Valores Humanos. Ed Itatiaia-SP,
1980
7) GUÉNÓN, RENÉ. A Crise do Mundo Moderno.
Ed Vega-Lisboa, 1977
8) ______________ O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos.
Ed Dom Quixote-Lisboa, 1989
9) AS PALAVRAS E AS COISAS, de Michel Foucault – Editora
Martins Fontes - 1992
10) AS DUAS CULTURAS E UMA SEGUNDA LEITURA, de Charles Percy
Snow – Editora Edusp – 1995
RESPOSTA ENVIADA PELO JORNALISTA
DIA 04 DE JULHO DE 2002
Caro Edil,
Aprecio muito Husserl, Foucault e Granger, mas, quando o assunto
é epistemologia, o jornal fica na companhia de Popper,
Kuhn, Feyerabend e do "mainstream" científico.
Atenciosamente,
H.
OUTRO E-MAIL ENVIADO AO JORNALISTA
NO MESMO DIA
É UMA QUESTÃO DE
PARTIDARISMO BIBLIOGRÁFICO?
Caro Hélio,
Você aprecia os autores citados e diz que, de acordo com
o jornal, há de se ficar na companhia de outros autores
- inclusive Feyerabend. É mesmo? Então, como explicar
o fato de que o mesmo pensador tenha dito:
"O julgamento dos 186 notáveis cientistas <contra
a astrologia> repousa na antropologia antediluviana, uma
ignorância dos mais recentes resultados em seus próprios
campos (astronomia, biologia e a conexão entre os dois),
bem como na carência para perceber as implicações
dos resultados que conhecem. Mostra a dimensão de quanto
os cientistas estão prontos a afirmar sua autoridade,
até mesmo em áreas em que não possuem qualquer
conhecimento".
E como explicar o fato de que o outro autor citado, Popper,
tenha dito:
"Eu... acredito que existe um problema biológico
no qual todos os pensadores estão envolvidos. É
o problema da cosmologia: o de compreender o mundo – inclusive
a nós mesmos, e nosso conhecimento, como parte do mundo.
Toda a ciência é cosmologia, creio eu, e para mim
o interesse em filosofia, não menos que na ciência,
repousa unicamente nas contribuições que esta
fez para aquela".
Mais ainda: como explicar o artigo de Filipe Ceppas, mestre
em filosofia, PUC/RJ, doutorando em filosofia da educação
e que segue abaixo, e que inclusive aconselha a leitura do próprio
Feyerabend para compreender a Astrologia mais profundamente?
De duas, uma: ou os autores com que o nobilíssimo Jornal
da Folha prefere ficar são acometidos de contradições
e, ora dizem uma coisa e, ora, outra, deixando a impressão
de que tudo se resume numa questão de partidarismo bibliográfico,
de escolha pessoal, a despeito de uma possível verdade
que possa existir; ou você diz que o seu Jornal fica em
companhia destes autores, muito embora não consiga ficar
em companhia dele.
Sobre o eterno caso da astrologia*
"Quando os cientistas confundem a potência hermenêutica
e criativa dos signos com a pretensão da verdade da ciência,
e atacam, com zelo impecável, a astrologia e outras 'crenças
populares', sem levar em consideração seus aspectos
lúdicos, históricos, sociológicos, simbólicos,
psicológicos, existenciais, etc., eles parecem se igualar
aos astrólogos infelizes que defendem a astrologia como
ciência.
Esses cientistas baseiam suas críticas em um conhecimento
superficial não apenas da astrologia, mas também
da história da cultura e da própria história
da ciência. Ao invés de encarar a astrologia como
uma interessantíssima porta de entrada à história
da ciência de modo geral e à própria compreensão
científica dos fenômenos celestes, de propriedade
de uma astronomia aparentemente tão frágil, tão
ameaçada; ao invés de encará-la como possível
objeto de estudo, onde pode-se fazer cruzar, ainda, estudos
filosóficos, sociológicos e antropológicos,
com o intuito de se compreender criticamente os sentidos dessas
'hermenêuticas' na sociedade; eles reduzem tudo a uma
luta entre a santa razão luminosa e o irresponsável
charlatanismo obscurantista.
Esses cientistas parecem preferir que a astrologia continue
tendo a força que sempre teve; que seus praticantes mantenham
a aura esotérica que 'desencaminha' a população
com crendices e espírito anti-científico. Eles
não querem negar apenas o direito de um grande contingente
de profissionais a uma melhor formação; eles negam,
de modo autoritário, até mesmo que se discuta
tal assunto seriamente.
De certo que eles nunca leram os textos fundamentais de Paul
Feyerabend, Adorno ou Yates sobre o assunto. Aconselho tais
leituras, antes que, por coerência, após tão
augusta batalha, a sociedade cobre deles outra santa cruzada,
agora contra os cursos superiores de teologia."
Mensagem de Filipe Ceppas, mestre em
filosofia, PUC/RJ, doutorando em filosofia da educação,
PUC/RJ, professor contratado do Depto. de Didática da
UFRJ e professor do Depto. de Filosofia da Universidade Gama
Filho.
*artigo enviado ao JB on line no final
de junho como réplica ao artigo publicado no JC E-MAIL
de 25 de junho de 2002
http://200.177.98.79/jcemail/Detalhe.jsp?id=3024&JCemail=2061&JCdata=2002-06-25
NOVA RESPOSTA DO JORNALISTA,
NA MESMA DATA
Caro Edil,
Se você diz que essas passagens são de Feyerabend
e Popper, acredito, ainda que você não tenha colocado
a referência. Elas não trazem, contudo, a afirmação
da validade da astrologia como ciência. A primeira fala
mal de cientistas. A segunda faz considerações
sobre a cosmologia cujo alcance, fora de contexto, fica difícil
entender.
Por fim, você anexa um texto que não diz coisas
muito diferentes do que afirmou o editorial quando reconheceu
que a astrologia tem valor como manifestação cultural
e literária (os "aspectos lúdicos, históricos,
sociológicos, simbólicos, psicológicos,
existenciais, etc.")
No mais, Feyerabend e Popper, como quaisquer autores, por vezes
incorrem em contradições. Por vezes somos nós,
leitores, que vemos contradições onde há
apenas diferenças de ênfase ou oposições
inocentes.
Abraço,
H.
MAIS OBSERVAÇÕES
DO ASTRÓLOGO, NO DIA 5 DE JULHO DE 2002
JORNALISMO x ASTROLOGIA
Hélio,
Obrigado pela confiança depositada em mim, mesmo tendo
omitido a referência de onde recolhi os trechos mencionados.
Ei-las:
1) do Paul Feyerabend se encontra no livro Science in a Free
Society, New Left Books, 1978. Maravilhoso. De imprescindível
leitura. Tanto é que o Filipe Ceppas, mestre em filosofia,
PUC/RJ, recomenda tal autor no final do seu artigo como um antídoto
intelectual para certos cientistas que preferem que a Astrologia
continue tendo a aura esotérica que sempre teve, e que
desencaminha a população com crendices e espírito
anti-científico. No entanto, não creio que esta
postura seja uma exclusividade dos cientistas: pelo o que estou
vendo, a mídia tem agido assim - ou, pelo menos, o Jornal
da Folha. Afinal, tanto os agentes da mídia quanto os
agentes da ciência não estão querendo negar
apenas o direito de um grande contingente de profissionais a
uma melhor formação, como bem frisou o Filipe
Ceppas; eles estão negando, lá de cima das suas
cátedras, até mesmo que se discuta tal assunto
seriamente. Se assim não fosse, você não
poderia ter dado a epistemologia como uma referência contra
a astrologia, e nem contra-argumentar dizendo que, nesta matéria,
a Folha está com outros autores, como se tudo fosse uma
questão da linha adotada. Aliás, se há
mais de uma linha nesta disciplina, e se tudo se torna uma questão
de preferência e gosto, a epistemologia - na sua totalidade
- não pode ser dada como uma referência que ateste
a invalidade da astrologia, visto que somente uma parte dela,
uma linha dela, pensa deste modo - tal como você deixou
entender. A despeito de todo este imbrólio, é
verdade quando você diz que o trecho recolhido não
deixa a entender que o autor afirme a validade da Astrologia
como ciência, visto que ele apenas critica a postura dos
cientistas com relação ao tema tratado. Mas isto
é verdade apenas com relação ao trecho
recolhido - e não ao seu todo. Sugiro que você
aproveite a ocasião e leia o livro para se inteirar do
assunto.
2) do Karl Popper eu ignoro onde esteja. Nunca o li. Quem o
toma por referência quanto o assunto é epistemologia
é a Folha, e não eu. Porém, como procuro
estar a par de tudo aquilo que se refere ao tema astrológico,
mesmo que tangencialmente, vou tratar de lê-lo. Assim
saberei qual a linha da epistemologia que a Folha preferiu adotar.
No entanto, saiba: recolhi este trecho de um livro onde ele
figura como epígrafe, o Astrologia, a Evidência
Científica, do astrônomo Percy Seymour, Ed. Nova
Era, 1997. E só fiz isto porque a Astrologia é
uma expressão de natureza cosmológica, muito embora
o autor só tenha feito referência a cosmologia
e jamais a astrologia, como você muito bem observou. Aliás,
como disse, sei lá o quê Karl Popper pensa da Astrologia,
e se pensa algo sobre isto. No entanto, o que sei de cosmologia
é suficiente para admitir que ela tem a virtude de constituir
um princípio através do qual o ser humano tenta
interpretar a relação de si próprio com
o universo que o cerca, tentando assim descobrir o significado
da própria existência, se tornando um grande instrumento
- inclusive - para entender como certa coletividade em certo
período construiu seu universo intelectual (vide Errol
Harris: Cosmos and Anthropos e Cosmos and Theos, absolutamente
im-per-dí-veis) . Só coloquei este trecho porque
achei curioso que o "epistemólogo" que o Jornal
da Folha considera tenha feito observações sobre
a necessidade de que a expressão científica tenha
a dimensão cosmológica - e só.
Por fim, é também verdade quando você diz
que certos autores incorrem em contradições, e
que muitas das vezes somos nós, os leitores, que enxergamos
contradições onde há apenas diferenças
de ênfase. Mas, se assim é, e se você se
mostra como um indivíduo que tem consciência disso,
com sensibilidade suficiente para discernir o quanto uma informação
corre o risco de ser mal interpretada, como é que você
escreve aquilo que você escreveu sobre a epistemologia
e a astrologia, que levaria qualquer cidadão comum a
concluir que a segunda é invalidada por aquela primeira,
de nome difícil e que, por isso mesmo, parece ter muita
respeitabilidade e autoridade? Como é que você,
como jornalista, que fez esta observação tão
sensível sobre o ato de interpretar as palavras, pode
contribuir tão decisivamente para uma má interpretação,
senão para a contínua difamação
pública que a Astrologia vem sofrendo da mídia
leviana? Como?
Poderia continuar meu discurso, analisando a relação
que você estabeleceu entre a matéria escrita por
você no editorial da Folha e o artigo do filósofo
da Puc do Rio, mas não dá. Não dá
porque qualquer discurso futuro que possamos travar estará,
como já está, profundamente eivado da necessidade
de descobrir onde é que o outro tropeçou intelectualmente,
mencionando, em curtas ou extensas palavras, que não
houve uma remissão, que existem outros autores pensando
sobre o mesmo assunto, que o trecho recolhido não enfoca
diretamente a questão ou que muito provavelmente houve
apenas um pequeno deslize de vocábulo.
Se continuarmos assim, estaremos brigando - o que não
retrata nem um pouco a minha disposição. O que
se configuraria também numa tolice: de um lado, um astrólogo
anônimo cuja imagem do jornalismo é a de uma atividade
que procura retratar os fatos com fidelidade; do outro lado,
um jornalista do editorial cuja imagem da astrologia é
a de uma atividade digna de asnos.
RESPOSTA DO JORNALISTA NO DIA
8 DE JULHO
Edil,
Não precisamos, em absoluto, brigar. Agradeço
a referência. Vou voltar ao assunto em minha coluna (Pensata,
no http://www.uol.com.br/folha/pensata/ult510u67.shtml de quinta-feira).
Minha intenção nunca foi de qualificar a astrologia
como atividade de asnos.
Só não acho razoável que se coloque dinheiro
público - como o Projeto de Lei parece querer - nessa
atividade em detrimento de tantas outras carências.
Abraço,
H.
NOVA OBSERVAÇÃO
DO ASTRÓLOGO EM 9 DE JULHO
Hélio,
Se o seu artigo tivesse seguido unica e exclusivamente a linha
de raciocínio que você frisou agora, seria obrigado
a concordar: afinal, diante de tantas emergências da sociedade
brasileira, um assunto como este - a regulamentação
da profissão de astrólogo - talvez não
seja tão prioritário.
Mas você não se ateve unica e exclusivamente a
este raciocínio que vou chamar, aqui, de político
e jurídico: você se enveredou pelo campo ético
e epistemológico. Fui obrigado a discordar: afinal, conheço
o assunto do qual falo.
Se você acha que não precisamos brigar, que bom!
Nem eu gostaria. Mas realmente é inadmissível
que a Astrologia receba críticas infundadas, por mais
infundada que ela pareça e por mais que, nela, existam
certos aspectos nebulosos - o que não é um atributo
exclusivo deste campo de conhecimento.
Fica aqui registrado um voto de paz e a expectativa do artigo
que você estará escrevendo pela quinta feira na
sua coluna.
OBSERVAÇÃO FEITA
PELO JORNALISTA DIA 9 DE JULHO
Edil,
Não creio que tenha avançado no campo ético.
Em nenhum momento falei que a astrologia é má
nem nada parecido. Entrei, sem dúvida, no campo epistemológico.
E sigo convicto de que a astrologia não tem o mesmo estatuto
das ciências "duras". Está, no máximo,
no mesmo patamar das ciências sociais, que, para a epistemologia
clássica, não são ciências.
Depois da quinta você me diz o que acha.
Abraço,
H.
RESPOSTA ENVIADA PELO ASTRÓLOGO
EM 10 DE JULHO DE 2002
ÉTICA, JURISPRUDÊNCIA
E A EPISTEMOLOGIA, QUE DE NOVO RETORNA
Hélio,
Desculpe-me caso tenha usado o termo "ético"
equivocadamente. Mas, o que posso pensar de alguém que
ajuíza: "O Estado só deveria regular atividades
como a de médico, advogado ou engenheiro, que exigem
grande conhecimento técnico e cujo exercício inepto
ponha em risco a população. Esse, obviamente,
não é o caso da astrologia". O que posso
pensar dessa frase, visto que ela ignora absolutamente certos
males ocasionados ao sujeito, inclusive realizados por outras
atividades e ocupações? Ou não há
nenhum prejuízo que um psicólogo, político
ou economista possa oferecer ao sujeito no mal exercício
da sua profissão?
Desculpe-me se a minha noção de ética é
purista ou ingênua demais - mas a frase acima deixa a
entender que uma certa lei só deveria valer no exercício
de 3 profissões, visto que só elas prejudicam
o indivíduo, sendo somente estas as profissões
que deveriam ficar sob uma regulamentação que
ditasse o que é certo e o que é errado. Mas...
isto não é avançar, de alguma maneira,
no campo ético? E se não há nada de ético
que se possa subentender por baixo da esfera jurídica,
o que posso fazer senão me corrigir e dizer que, se você
não invadiu o campo ético, você enveredou
pelo campo jurídico, do qual nada posso falar porque
não tenho conhecimento e porque, na condição
de leigo, só possuo a ingênua noção
ética que mencionei acima. Aliás, ela tem sido
suficiente para discernir o quanto que o mal exercício
da atividade astrológica pode, sim, prejudicar o indivíduo,
sendo em muito semelhante a atividade exercida pelo psicólogo
- e daí a necessidade da regulamentação.
Aliás, é só isto que a nossa classe tanto
frisa com relação à importância dessa
lei que regulamenta a profissão de astrólogo:
ela evitaria que oportunistas ou outros profissionais exercessem
aquilo que deveria ser exclusivamente do âmbito do astrólogo
comprometido com a seriedade e complexidade da disciplina que
exerce ou pratica. Ou você nunca ouviu falar do caso de
jornalistas que, sem qualquer conhecimento de astrologia, se
arriscam a fazer horóscopo, mesmo que tenha sido num
passado remoto ou num péssimo jornalzinho de bairro?
Isto é só para você ter uma vaga idéia
que inclusive o mal exercício desta disciplina é
que acaba sujando a sua imagem pública, encobrindo o
trabalho sério e competente de astrólogos que
trabalham e estudam anos a fio, e que se vêm numa luta
redobrada toda vez que a sua imagem se torna mais "poluída"
por pessoas ou instituições que desconhecem completamente
do assunto - em especial a mídia, para quem o tema é
somente mais uma pauta que precisa ser cumprida e, espera-se,
com toda a diligência do mundo. E quando digo em especial
é porque, até pouco tempo atrás, estava
acostumado a incluir aí também o mundo acadêmico
- mas, depois que fui conhecer o acervo das testes defendidas
pelo Centro Simão Mathias da História das Ciências
(olha a epistemologia aí) da PUC, tive que novamente
mudar meus (pré)conceitos enrijecidos pela paixão
que sempre me desperta o tema astrológico. Vá
lá, dê uma olhadinha no acervo: mesmo que pequeno,
ele é um escândalo para quem tem noções
enrijecidas sobre o que seja ciência e sobre o que seja
astrologia.
Aliás, ciência, universidade, conhecimento e saber
são noções que volta e meia ficam em crise
quando um determinado objeto não é compreendido
pelas "epistemes" atuais. E de fato, a astrologia
não tem o mesmo estatuto das ditas "ciências
duras", ocorrendo o mesmo com as ciências sociais,
tal como você observa.
Mas fica aí uma pergunta - e uma pergunta crítica,
já feita por profissionais e filósofos que discutem
este assunto até o âmago: será que isto
não é um sinal para que se reveja os atuais crivos
e parâmetros com que se institui certos conhecimentos
e saberes como legítimos? Ou não? Para quem tem
dúvida, é só dar uma olhada na proposta
da Transdisciplinariedade, ultra moderna, ou então numa
advertência já colocada no início do último
século pelo tão conceituado Max Weber:
"se o cientista topa com fatos que não pode explicar
com os meios atuais da investigação científica,
não lhe cabe negá-los em nome seja do que for,
ou ignorá-los, relegando-os à esfera da superstição".
do livro SOCIOLOGIA DE MAX WEBER, de Julien Freund, Forense,
87, onde se discute em especial a noção fundamental
de neutralidade axiológica.
OUTRO E-MAIL ENVIADO PELO ASTRÓLOGO
NO MESMO DIA
ASTROLOGIA: CIÊNCIA OR NOT CIÊNCIA?
Hélio,
Você já ouviu falar do trabalho e da pesquisa de
Michel Gauquelin realizada em torno das décadas de 60?
Apesar de todo o seu esforço metodológico e argumentativo
a favor de reconhecer o fenômeno astrológico e
de levantar suas provas, o seu trabalho se constituiu num dos
mais importantes episódios acadêmicos do século,
revelando - talvez melhor do que qualquer outra história
em particular - a natureza verdadeiramente inquisitorial da
Igreja científica na busca pretensa do conhecimento e
da verdade.
É um trabalho realmente assustador, pelo seu tamanho
e complexidade. Vale a pena conhecer - e isto por você
ter dito que "até que alguém demonstre o
contrário - o que é improvável -, a lógica
científica não deve admitir que a passagem de
Júpiter ou qualquer outro planeta por faixas imaginárias
desenhadas nos céus interfere sobre os destinos dos homens".
Por isso, estou me dando a liberdade de te enviar um artigo
que escrevi em defesa da Astrologia por ocasião de um
debate que foi travado entre o nosso colega de profissão
Maurício Bernis e o seu colega de profissão Ricardo
Bonalume.
Que ele lhe seja de alguma valia.
RESPOSTA DO JORNALISTA EM 10
DE JULHO DE 2002
Edil,
A questão é que é um erro vocês astrólogos
querem colocar o Estado no meio. Eu, por exemplo, sou filósofo
por formação. Se aparecesse algum infeliz querendo
regulamentar a profissão de filósofo ou tentando
definir diretrizes curriculares obrigatórias, contaria
com o meu mais veemente repúdio. Se quisermos ser verdadeiramente
feyerabendianos, precisamos destruir todas as estruturas que
enrijeçam a produção de saber. Regulamentações
estatais são as maiores inimigas da verdadeira liberdade
de pensamento.
Se vocês astrólogos querem seriedade precisam convencer
a população, o mercado, de que vale a pena procurar
astrólogos ligados às associações
de classe, mas não esperar que o Estado faça isso.
Insisto que o Estado só deve interferir em no máximo
meia dúzia de profissões, especialmente medicina
e direito. Elas servem uma população muito simples,
que não tem condições de "escolher"
no mercado bons profissionais. E, nesse caso, um charlatão
pode levar à morte ou à cadeia. Não é
o caso da esmagadora maioria das outras profissões.
Sobre o seu texto, achei interessante. Mas a pesquisa de Gauquelin
apresenta algumas dificuldades: é retrospectiva, não-randomizada
e sem controle. São elementos que diminuem o seu nível
de evidência. Se aplicássemos os critérios
da medicina, por exemplo, não poderíamos utilizá-la
para recomendar mudanças de conduta. Serviria, no máximo,
para demonstrar a necessidade de mais pesquisas.
De todo modo, para você ver que eu não sou um dos
que participam da ditadura das ciências, anexo um texto
meu já meio antigo em que faço críticas
à suposta universalidade do método científico.
Abraço,
H.
Arquivo de textos de Hélio Schwartsman:
http://www.uol.com.br/folha/pensata/schwartsman.shtml
E-MAIL ENVIADO PELO ASTRÓLOGO
EM 11 DE JULHO
ASTROLOGIA, ESTADO, INDIVÍDUO E CIÊNCIA
Hélio,
O fato de
reivindicar o poder do Estado para resolver a nossa situação
- como você mesmo disse - não é somente
alarmante: é ambíguo. E por quê? Por que
reconheço a invasão cada vez maior que o Estado
vem realizando sobre a vida particular do sujeito, e o quanto
isto é perigoso: mostra o quanto que o Estado tem se
movimentado para se apoderar finalmente da alma humana, tolhendo
o indivíduo de toda e qualquer liberdade possível.
Afinal, nos EUA, o indivíduo já está sendo
processado juridicamente somente por ter lançado um olhar
suspeito sobre o outro (sobre a outra, melhor dizendo) e na
maioria dos países a vida individual já está
sob o enfoque obsessivo das câmeras, expondo a diferença
humana a um julgamento público superficial e grosseiro.
Reconheço este perigo, e partilho desta mesma opinião
que você. Mas reconheço também o quanto
que o convívio humano exige que certas situações
se transformem em leis, regulamentando aquilo que, pela sua
própria expressão espontânea, não
chega a ter peso e medida - daí a necessidade da Jurisprudência.
Ou do Direito, como queira, pois estou usando estes termos como
leigo, na sua acepção popular.
É por isso que o tema de toda e qualquer regulamentação
revela, no mínimo, uma aspecto ambíguo: ora dá
o peso e medida das ações humanas, do que se deve
e do que não se pode fazer, e ora pode, sim, limitar
a esfera desta ação, coibindo o indivíduo
de sua livre expressão. E é por isso que toda
esta situação me leva a crer que a missão
da Jurisprudência é árdua e difícil:
parece que ela tem que encontrar uma lei que satisfaça
a ambos aspectos, de modo que se possa regulamentar uma ação
sem restringi-la em demasia. Não sei se esta é
a missão da Jurisprudência, já havia falado
que não entendo nada disso - mas que a situação
é de alguma complexidade, é. Desejemos apenas
que aqueles que se ocupem do Direito possam refletir sinceramente
sobre isto e dar conta da tarefa a que se lançaram: a
de legislar.
Como vê - ou como vejo - o assunto jurídico já
é, por si só, de alguma complexidade. Se aliarmos
a isto o fato de que o que se pretende regulamentar é
a atividade de astrólogo, penso que a complexidade só
tende a se duplicar, e isto por vários motivos. No entanto,
seja quais forem estes motivos, toda esta complexidade só
me leva a crer que o assunto, em hipótese alguma, já
é um tema fechado mas, sim, um tema complexo a ser desembaraçado
e analisado - o que só seria possível se todas
as pessoas envolvidas se dispusessem a realizar uma discussão
à altura que o assunto exige. Se somarmos à complexidade
jurídica a complexidade epistemológica que o assunto
envolve, tal como subentendemos pelos escritos dos seus pensadores,
se verá o quanto é difícil esta questão,
o quanto ela deveria estar aberta a análises e discussões
profundas ao invés de se fechar em afirmativas dogmáticas,
que vivem se amparando - por ambas as partes - no discurso da
autoridade da ciência, da epistemologia, da tradição
e de sabe lá mais o quê, impedindo que o assunto
evolua ou prossiga.
Deveríamos, aliás, atentar para o fato de que
se a Astrologia é usada como tema para demonstrar o relativismo
absoluto dos conhecimentos e atacar as ciências empíricas
é porque, de alguma maneira, ela tem seu poder e exige
uma outra "episteme" para a sua compreensão
- um "modo de compreender" a ser ainda (re)constituído.
Desculpe-me se cometo uma incoerência e uso a voz da autoridade
para fundamentar a questão, mas aí vai uma advertência
do nosso físico Mário Schenberg a seu discípulo
José Colucci Jr, engenheiro mecânico pela Unicamp,
mestre e doutor em bioengenharia: que se ele pretendesse "aplicar
o método científico deveria antes inteirar-se
de suas limitações, pois o método científico
testa a validade da hipótese e mais nada. Não
revela se a hipótese a ser testada é a única
possível, ou sequer se é razoável. Para
formular hipóteses é preciso imaginação,
pois fazer ciência é um ato criativo".
No meu entender, parece que muito coisa precisa ser rediscutida.
Mas, pelo o que se vê, quando o assunto é Astrologia,
há certos grupos que já partem da premissa que
não há nada de importante a ser discutido. Estes
sequer vislumbram que o recente fenômeno social chamado
de Globalização, a recente reestruturação
da Geografia (que passou a ser chamada de Ciências da
Terra) e o nível de especulação astronômica
que alcançamos coloca a espécie humana frente
a uma indagação muito mais ampla pois, se antes
bastava saber o lugar do indivíduo na sociedade e depois,
com o passar do tempo, se tornou necessário saber o lugar
do indivíduo no planeta, resta talvez agora vislumbrar
e saber qual é o nosso lugar dentro do espaço
cósmico - o que suscita a importância do estudo
cosmológico que, querendo ou não, retoma e ressuscita
o tema astrológico.
Ademais, tanto a natureza quanto o ser humano sempre foram objetos
e campos de profundo interesse e atenção, dos
quais inclusive já se extraiu algum conhecimento, havendo,
entretanto, um único conhecimento que ainda não
foi levantado com a sua devida importância - aquele conhecimento
que fala exatamente da relação do homem com o
mundo e do mundo com o homem, levando isto a seus últimos
termos e às suas últimas conseqüências
que, de uma maneira muito grosseira, foi e é a tentativa
da história e da sociologia e, muito mais recentemente,
da ecologia. Num futuro talvez não muito distante, quem
sabe tal tentativa chegue e alcance o limite do astronômico.
Quando isto acontecer, estaremos inevitavelmente retomando o
raciocínio astrológico.
Por isso é que eu acredito que, quando o Homem se perguntar
seriamente sobre o seu lugar no universo e sobre o sentido da
sua vida, talvez pare de mirar o céu de forma meramente
poética e passe a levantar sérias questões
que, para sua surpresa, já foram elaboradas em tempos
remotos - mas que nunca tiveram continuidade e o seu devido
respeito. E estas questões, queiramos ou não,
serão de natureza astrológica.
PS: Há muitas coisas que você mencionou em seus
últimos artigos que gostaria de entender e discutir mas,
se fizer isto agora, estarei escrevendo quase que uma monografia.
Por isto, gostaria de conversar com você, em especial
sobre a pesquisa randômica e retrospectiva. Mas penso
que isto só será possível tão logo
retome seu trabalho a partir do dia 1 do mês que vem,
tal como você anunciou no final do artigo.
Leia também:
O
CÓDIGO DO UNIVERSO: O paradigma
da realidade e o mapa astrológico
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