Espaço transdisciplinar
de difusão de pesquisas
acadêmicas em ciências humanas e em astrologia
Esta página é
destinada à divulgação de monografias, dissertações
de mestrado e teses de diversos campos de estudo em artes e ciências
humanas. Abaixo você encontra material completo para download
e introduções de trabalhos mais extensos. O objetivo
é ampliar as opções de pesquisa do estudante
em várias áreas do saber, ao mesmo tempo em que
promove, em alguns desses trabalhos, um diálogo entre os
saberes acadêmicos atuais e o estudo da astrologia.
VOLTAR
À PÁGINA PRINCIPAL DE "PESQUISAS ACADÊMICAS"
fazer
download desta monografia completa
Considerações
acerca da cientificidade da astrologia
à luz das idéias de Popper, Kuhn e Feyerabend*
Cristina de Amorim Machado
Introdução
O tema desta pesquisa diz respeito ao estatuto
epistemológico da astrologia. Como tal estudo exige a abordagem
do problema de demarcação da ciência, esta
investigação partirá de três pontos
de vista relevantes na filosofia da ciência contemporânea:
Karl Popper, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. A escolha desses filósofos
decorre do fato de eles usarem a astrologia como exemplo quando
tentam demarcar ou problematizar as fronteiras da ciência.
A proposta subjacente, que não se restringe ao escopo desta
monografia, é desmistificar o olhar sobre a astrologia,
produzindo uma visão mais crítica desse assunto.
Não se deve entender, entretanto, que se trata de estabelecer
algum tipo de evidência ou “prova” científico-filosófica
da validade ou não-validade da astrologia. Desmistificar
aqui significa apenas esclarecer, por isso, é importante
uma apresentação do panorama geral da astrologia,
para que seja possível mapear o que
é a astrologia hoje.
A astrologia gera muitas discussões acaloradas no âmbito
da filosofia, da ciência e da religião, e isso não
é uma invenção moderna. As questões
dos gêmeos e do livre-arbítrio, p.ex., são
tão antigas quanto a própria astrologia. Há
questões mais recentes, como a precessão dos equinócios,
que leva à não coincidência entre signos e
constelações, e a inserção dos novos
planetas (Urano, Netuno e Plutão) no sistema astrológico,
que não causam menos polêmica. Nem a Igreja, nem
a ciência, nem a filosofia vêem a astrologia com bons
olhos. Por que a astrologia incomoda? Por que Santo Agostinho
execrou a astrologia ao se converter, Colbert não a incluiu
como disciplina na Academia de Ciências, e 186 cientistas
se deram ao trabalho de declararem publicamente sua posição
contra ela? Tendo isso em vista, não resta dúvida
de que a astrologia é um problema que vem se arrastando
historicamente.
O enfoque específico deste trabalho encontra-se nos referenciais
contemporâneos acerca do estatuto epistemológico
da astrologia, reservando-se a problematização histórica
a trabalhos futuros. Dentre as várias questões,
é possível citar as seguintes: O que é a
astrologia e qual é o seu estatuto epistemológico?
Será que é realmente uma pseudociência, como
é costume rotulá-la, ou é possível
tratá-la como uma ciência? O que é ciência?
Quais são suas fronteiras? É importante ser ciência
para um saber ser respeitável? Por que Popper e Kuhn concordam
em não admitir a astrologia como ciência, ainda que
discordem quanto aos argumentos? Como se dá esse diálogo
entre Popper e Kuhn? Por que a concepção de Feyerabend
de ciência é mais tolerante, abarcando, inclusive,
a astrologia? Que concepções de ciência são
essas que Popper, Kuhn e Feyerabend propõem? Afinal, a
astrologia é, ou não, ciência?
A proposta, aqui, é oferecer uma visão crítica
mais fundamentada da relação entre astrologia e
ciência, baseada principalmente nos textos Logic of Discovery
or Psychology of Research? , de Thomas Kuhn, e El extraño
caso de la astrología , de Paul Feyerabend. No primeiro
texto, Kuhn dialoga com Popper sobre as semelhanças e diferenças
entre as suas concepções de ciência e utiliza
a astrologia como exemplo. No segundo texto, Feyerabend trata
especificamente da astrologia, de maneira simpática, ainda
que não menos rigorosa. Para que o caminho fique mais claro,
será preciso buscar alguns fundamentos nas obras clássicas
desses autores, procurando o diálogo entre elas, além
de alguns comentadores, como Paul Thagard, que, no artigo Why
astrology is a pseudoscience?, critica os critérios
de cientificidade de Popper e Kuhn, propondo o seu próprio
critério de demarcação.
O tema proposto revela-se pertinente não apenas pela problematização
epistemológica, mas também porque a astrologia pode
ser uma porta de entrada para a ciência, tendo em vista
o estreito vínculo histórico entre astrologia e
ciência, como ficará claro ao longo do primeiro capítulo.
Além disso, o interesse pela compreensão dos fenômenos
celestes pode ser despertado pela astrologia, considerando-se
que o seu ponto de vista topocêntrico é o mais evidente
para começar a entender a mecânica celeste.
Como objeto de estudo filosófico, a astrologia pode ser
submetida aos questionamentos mais diversos, mas, neste projeto,
a pergunta é: a astrologia pode ou não ser considerada
uma ciência? Em busca de um esclarecimento do seu estatuto
epistemológico, é preciso examiná-la sob
a perspectiva da filosofia da ciência. O problema seguinte,
não menos complicado, é o de esclarecer o que é
ciência. O estudo das concepções de ciência
dos três autores escolhidos fornece um arcabouço
teórico, penso eu, suficiente para encaminhar a discussão
acerca da pergunta inicial. Dessa maneira, é preciso:
1) definir o que é astrologia;
2) definir o que é ciência; e
3) examinar se a astrologia pode ser considerada
como uma ciência.
Com essa inserção no diálogo epistemológico
contemporâneo, é possível contribuir para
a construção de uma visão mais precisa da
astrologia, afastando, de maneira criteriosa, os preconceitos
e o dogmatismo que cercam essa discussão, tanto por parte
de cientistas e filósofos quanto por parte dos astrólogos.
Além disso, apresentarei algumas reflexões e elaborações
conceituais acerca de uma questão muito cara à astrologia:
o determinismo.
*
as notas de rodapé
desta amostra da introdução foram suprimidas.
fazer
download da monografia completa
VOLTAR
À PÁGINA PRINCIPAL DE "PESQUISAS ACADÊMICAS"