...Se fosse uma poesia estaria descrita em algumas linhas tortas que nunca rimaram, porque sinto a poesia rimando com o nosso bom gosto, sem estética. Tudo muito certinho parece irreal, falso.
Gosto de mentir que sou sempre verdade...

 

 

 

Talvez a rosa nunca tivesse a pretensão de ser colhida
Talvez tudo que a rosa quisesse estivesse a sua volta
Um pouco de sol no verão
Uma brisa fresca no inverno
A quantidade necessária de água, conforme sua sede
 
Talvez o pássaro nunca tivesse o desejo de ser cuidado
Talvez tudo que quisesse fosse voar livremente no infinito
Pousar de vez em quando, quando surgisse o cansaço
Comer quando tivesse fome
Mergulhar no mar azul nos dias quentes
 
Talvez a criança nunca tivesse a ânsia de crescer
Talvez tudo que precisasse fosse de um incentivo
Brincar solta pelos jardins, com os bichos
Sentir livremente todas as suas emoções, intensamente
Falar a verdade sem assombros

 

Romperam-se as amarras:
Eis que do casulo surge
Uma nova coisa rara,
Bela pela sua singularidade.
Ainda não se pode decifra-la.
Caminha devagar desajeitada,
Não sabe para onde vai.
Conhece pouco deste novo mundo,
Não sabe se será compreendida.
Sua linguagem pouco aperfeiçoada
Tenta decodificar o que sente.
O que sente não interessa as pessoas,
Então tenta entendê-las.
A visão que tem ainda é nebulosa.
Seu coração carregado pesa demais.
Um dia terá finalmente crescido,
Um dia não temerá a dor.
Agora procura ser,
E ser lhe toma todo tempo.
É preciso aprender o que lhe ensinaram,
O que ficou em algum lugar esquecido:
Re-começar, re-nascer, re-criar;
Trans-mutar-se, trans-formar-se,
Metamorfosear-se
 
Aqui estamos nós,
Salvos de nosso próprio naufrágio
Meio tímidos frente a nova realidade
Passou o tempo
Passaram os momentos mais difíceis
Sobrevivemos ilesos
O que fazer com esta segunda chance?
Como poderemos prosseguir?
É como se agora não nos restasse muito
Mas ainda temos a riqueza do existir
Olho em volta e tudo parece rico
Mas tudo também é extremamente frágil
É como se a vida estivesse suspensa por um fio
Somos libertos de nossas próprias angustias
Não por ter as superado de todo
Mas por termos chegado lá, no limite
Onde todas as coisas chegam ao ponto máximo
E finalmente vemos elas como nada
O que dantes era tão importante
Hoje não tem valor
As ondas fortes que derrubaram o navio
Jamais retornarão, não há mais navio.

 

Andarilha de pés descalços
Vageia torta por entre cravos
De todas as cores, de todos os jeitos.
Conhece amores, tantos horrores...
Andarilha de pés descalços
Dança a dança dos amantes
Em várias praças de todas as formas,
Nem sente as pernas.
Andarilha de pés descalços,
Coração rasgado pelas próprias mãos,
Roda, roda e se atira do alto do penhasco.
Não teme nem mesmo a morte.

 
 
Chegou sedento
De tanto caminhar entre o fogo e a lua.
Vinha com paixão nos olhos,
Os braços e as pernas como serpentes...
Tinha a marca dos fortes,
A certeza dos gênios.
Era grande o suficiente para um guerreiro,
Mas tinha a alma solitária,
O coração ferido e buscava abrigo.
Fiz de mim seu descanso
E nunca mais quis ser outra.

 

 
Tocaram-se e incendiaram-se.
Num só instante corpos se unificam:
Olhos em olhos, bocas em bocas.
Maldita inocência que castra,
Malditas sejam as preocupações...
Sentiram o veludo da pele quente,
Não podiam dormir, tremiam.
Bendita febre que enlouquece,
Benditos olhos que roubam desejos
E os transformam em realidade

 
Você é uma folha,
O vento que te derrubou
Passou por mim e avisou:
Um dia tudo despenca,
Um dia tudo seca.
Um dia se tem o verde,
No outro se tem a terra.
Vira-se adubo,
Podendo então renascer...
Ou não?

 

Nem sempre na vida florescem os amores,
As vezes buscamos em portas erradas.
Nem sempre ganhamos,
As vezes a vitória está em se perder.
Nem sempre sorrimos,
As vezes a alegria é muda.
Nem sempre choramos,
As vezes nos faltam as lágrimas.
Nem sempre vivemos,
As vezes levamos os dias sem sentido.
Nem sempre matamos a sede,
As vezes bebemos apenas por beber.
Nem sempre atingimos as estrelas,
As vezes o céu está escuro.
Nem sempre ouvimos as palavras,
As vezes guardamos os gestos.
Nem sempre se pode fugir,
As vezes criamos laços.
Nem sempre sentimos,
As vezes a dor traz a insensibilidade...

 

Ele deve ter
Gosto por terra molhada,
Olhos brilhantes demais,
Um sorriso contagiante,
Um imenso amor por mim.
Deve me carregar nos braços
E me levar para as nuvens.

 

.
Frágeis cavaleiros.
Galopam sobre as nuvens
Levando no peito falsas medalhas.
Pobres cavaleiros.
Cabeça baixa e honra elevada,
Carregam no coração marcas profundas
Pequenos cavaleiros,
O mundo cobra deles o êxito,
Suas pernas marcham pela glória.
Humanos cavaleiros.
Suas histórias são de vitórias,
Suas vidas de desencontros

 

Meu pequeno tesouro é teu carinho.
Cada gesto terno teu me enriquece,
Teu jeito de sorrir me cativa,
Te procuro sempre,
Te quero sempre comigo.
Quero poder dividir contigo
Cada manhã de sol,
Cada tarde de chuva
E cada noite de frio.
Meu amor por ti é diferente
De todo amor que existe,
Porque é calmo,
Porque é amigo.
Como são infinitas as palavras
Que em um instante poderia te dizer.
Como são intensos os carinhos
Que num leve toque sabería te dar.
Como te amo...
Como te sonho...
És a coisa mais doce,
O anjo mais lindo
Que tive o privilégio de conhecer.

 

 

Nasceu de uma tarde de outono
De um sorriso, de um olhar
Havia música em toda parte
Tanta gente, tanta alegria
 
Nasceu de uma palavra,
De um gesto sem intenção
Havia mágica em toda parte
Tanto o que dizer, tanta saudade
 
Nasceu de um toque,
De um beijo, de um abraço
Havia ternura em toda parte
Tanto silêncio, tanta paz
 
Nasceu de uma gargalhada,
De um passo torto, de brincadeira
Havia tons em toda parte
Tanta beleza, tanta vida
 
Cresce feliz,
Bonito,
Alegre,
Quente,
Colorindo o colorido

 
Queria que morresse
Secasse rápido, sem dor
Que acordasse e não mais lhe sentisse
Que passasse sem deixar lembrança
Queria não teimar em tê-lo
Dizer não a este vício tão doentio
Pular esta etapa da vida,
Esquecer ...
Quando não se tem o pão
Se tem a fome
Quando não se tem a água
Se tem a sede
Quando não se tem coberta
Se tem o frio
Quando tudo se tem
Nada se quer
 
Hoje quero ser forte
Quero olhar-te nos olhos sem querer-te
Quero poder partir
E sei que posso
Por mais que te deseje
Por mais que sinta
Posso por fim a dor e partir
Cada dia parto
Neste exercício diário
Chegará o dia que tua lembrança
não mais me seguirá
Forte demais para sofrer
Tornarei a ver flores em meu jardim
 
Quando você se foi
Não partiu de todo
Não trancou as portas
Seguiu deixando rastro
Quando você se foi
Não fez mais diferença
Não mudou meu semblante
Quando você se foi
Já depois de ir tantas vezes
Senti como se de novo pudesse voltar
Não dei por conta que partiu
Não notei que doeria
Não posso mais temer
Perdemos todas as esperanças
Na primeira vez que partimos um do outro
Hoje já duvido que você tenha partido...

 

         

 

Copyright © Andréa Bianchi