META METRÓPOLE
O paletó cinza já não
era suficiente.
A gravata preta correta no colarinho engomado, os duros sapatos
de verniz, o cabelo cortado rente...
Estava próximo da perfeição. Mas, a dor
no estômago trazia gotas de suor à fronte e quase
estragava, com o toque humano, a aparência desejada.
Uma tarde, ao sair do escritório, olhou o prédio
de concreto, reto, alto, imponente, com suas janelas fumês
e... teve a idéia!
No caminho de casa havia uma loja de materiais para construção.
Embrulho embaixo do braço, atravessou o quarteirão,
entrou em casa e, direto à cozinha, despejou seu conteúdo
em copo d'água. Mistura pronta, sentado em frente ao
jornal da TV, engoliu, rapidamente, o refresco de cimento
que o faria perfeito!
15/11/1986.
PLANETA
MORTAL
Gostava tanto de estrelas que, toda noite, levava ao jardim
um prato fundo cheio d'água e olhava, embevecido, o
reflexo do brilho delas. Com uma grande colher de sopa, devorava
uma a uma e depois dormia na rede, se acreditando Céu.
Uma noite, engasgou e morreu.
Tinha engolido Plutão, o invisível.