Na maioria das mulheres as cicatrizes se encontram na alma.
ANIMA
Sua mãe era linda e delicada. Quando pequeno gostava
de vê-la arrumar-se para ir às festas com o tio
mais novo, de quem era afilhado e pelo qual nutria amor e admiração.
Gostava de vê-los juntos, pois era belo como a mãe,
embora seu temperamento fosse forte e determinado, bem oposto
ao dela.
Só se lembrava do pai, por causa da imagem contida no
porta retratos que permanecia na mesinha da sala e pelas histórias
contadas, em família, sobre seus feitos esportivos que
foram a causa de sua morte prematura.
O tio, volta e meia, o levava ao futebol, mas não substituíra
a figura paterna pois era muito jovem e tinha uma vida intensa,
sempre cercado de amigos, além de muito ocupado com seu
trabalho. Era um profissional bem sucedido, tinha uma sólida
conta bancária e morava só.
Decidida a cultuar a imagem do marido, a mãe dedicou-se
completamente ao filho, que era a lembrança viva do jovem
companheiro que lhe fazia tanta falta.
Assim, o viu crescer como um bom e estudioso menino, transformar-se
em um rapaz gentil e delicado que, espelhando-se em seu exemplo
e conselhos, cuidava da saúde do corpo para manter a
juventude e a forma. Não faltavam garotas à sua
volta mas era muito exigente quanto à beleza, graça,
educação e apresentação das mulheres.
Nas festas, adorava ver os olhares cobiçosos dos homens
às suas acompanhantes e sentia-se tão mais seguro
quanto mais paquerada fosse sua companhia. A inveja dos homens
o deixava cheio de contentamento !
Um dia, encontrou uma jovem discreta e linda como sua mãe.
Apresentou-a à família : resolvera se casar. A
escolha foi completamente aprovada. A mãe esmerou - se
para que tudo saísse perfeito e, sempre pensando na felicidade
do filho, tirou dos guardados sagrados do antigo matrimônio,
sua mantilha de noiva para que a futura nora a usasse no grande
dia. O casamento foi lindo!
Na primeira recepção para a qual foram convidados
depois de casados, surpreendeu a esposa, trazendo de presente
o vestido que ela deveria usar. A moça estranhou o modelo.
Não estava acostumada à ousadia do feitio, à
cor forte e sensual, tudo muito distante de seu natural recato.
Ainda assim, para agradar ao marido, vestiu o modelo e embora
se sentisse constrangida com os olhares e cochichos masculinos,
ficava alegre ao ver o orgulho e felicidade do marido que era
tão meigo e gentil.
Aos poucos esta atitude foi virando um hábito cada vez
mais radical e, disfarçadamente, autoritário.
Um dia, o decote quase lhe deixava à mostra os pequenos
seios, de outra vez a bainha da saia deveria ser encurtada ao
exagero e o pior aconteceu quando os tecidos se tornaram transparentes
demais e ela em pânico, chorava escondida, quando eram
convidados a qualquer evento social.
Quanto mais ela chamasse atenção maior era a
felicidade dele, embora em sua vida privada a intimidade estivesse
cada vez mais rara e difícil.
Uma tarde enquanto ele estava fora, descobriu em seu guarda
roupa uma caixa de loja feminina. Pensando ser mais uma daquelas
“surpresas” abriu-a e se deparou com uma belíssima
lingerie. Ficou contente pois não era pudica na intimidade,
apenas a exposição pública a incomodava.
Curiosa, começou a vestir as peças quando percebeu
que o tamanho era bem maior que o seu.
Não sabia o que pensar... A vida sexual estava péssima,
mas ela atribuía este fato às preocupações
com o trabalho pois ele estava sempre a seu lado, presente e
atencioso, gentil como nunca.
Acabou por guardar tudo na caixa como encontrara pois estava
certa de que tinha havido um engano da vendedora e de que ele
estava aguardando a troca para fazer a surpresa.
Esqueceu o incidente pois a vida ficou tumultuada com a súbita
doença da sogra. Um acidente no trânsito com sérias
conseqüências acabou levando-a à morte.
A tristeza tomou conta dela e do marido. Gostava da sogra,
nunca se esquecera do seu casamento...da “mantilha sagrada”
e de seu constante apoio nas horas difíceis.
O marido começou a mudar, andava cada vez mais quieto,
embora já houvesse passado um bom tempo após a
perda.
Ele estava distante, demorava mais para chegar em casa e ficava
ao telefone durante muito tempo, trancado no escritório.
Sempre que perguntava ele dizia que eram crises da empresa
e que seu sócio de escritório precisava muito
da orientação dele.
Era um tempo em que vivia insegura e muito só. Aquela
tarde, estava no cabeleireiro quando alguém falou em
roupas íntimas. De repente, lembrou da lingerie no armário!
Correu para casa e foi direto ao quarto. Entrou de rompante
e se deparou com o marido vestindo a lingerie, num longo beijo
com o querido tio, tendo por cima do corpo a mantilha da mãe. |