Argumentos
e Falácias
(fonte:
Dicionário Aurélio) |
Argumento
ad hominem.
1.
Argumento com que se
procura confundir o adversário, opondo-lhe seus próprios
atos
ou palavras.
Argumento
ad judicium.
1. Argumento fundamentado
na opinião corrente ou
no senso comum.
Argumento ad populum.
1. Sofisma em que se
ssociam
ao objeto da argumentação
elementos que tocam à sensibilidade, às necessidades,
às aspirações, aos temores, etc., do
público que se quer convencer.
Argumento ad rem.
1. Argumento relativo ao assunto em foco.
Argumento baculino (ad baculum).
1. Argumento que consiste em pretender provar a existência
do mundo exterior golpeando o solo, ou mesmo aquele com quem
se argumenta, com um bastão.
2. P. ext. Demonstração ou refutação
de uma tese filosófica por meio de uma ação
material, como, p. ex., mover-se, para provar, aos que negam
a possibilidade do movimento, que este existe.
3. Imposição de uma tese com base no medo ou
na timidez do adversário em face da superioridade física
de quem argumenta.
Argumento da autoridade
1. V. apelo ao respeito.
Levar um argumento. Bras. Gír.
1. Ter diálogo; manter conversação; tratar
um assunto. |
1-
Polêmica sobre a Era de Aquário |
Nos idos de 1991, não resisti a responder a um artigo
de Dom Lucas Moreira Neves sobre astrologia e a era de Aquário,
publicado na página de artigos assinados do Jornal
do Brasil. Enviei o texto à editoria do jornal, que
dias depois o publicou na mesma página, com o mesmo
título. Aí estão, democraticamente,
os dois artigos, para que cada um possa formar sua
própria opinião a respeito.
SOBRE A ERA DE AQUARIUS
Dom Lucas Moreira Neves
A um certo ponto — dizíamos na crônica
precedente — na corrente filosófica e espiritual,
de pensamento e de ação, que responde pelo nome
de New Age, vem desaguar outra corrente cuja característica
é a convicção de que está iminente
uma suspirada "era de Aquarius".
Duas coisas a New Age não esconde: que para ela a Astrologia
é uma verdadeira ciência (estranha ciência
da leitura e interpretação dos astros e da influência
dos astros sobre as pessoas) e que seus "dogmas"
mais significativos provêm dessa ciência.
É por esta sua indisfarçável vertente
astrológica que a New Age aceita e assume as crenças
a respeito da "era de Aquarius", vendo nesta uma
resposta razoável e convincente à indagação
sobre como será a "nova idade" prevista e
desejada. Esta pode ser, sem tirar nem pôr, aquela que
grupos sempre mais numerosos chamam de "era (ou idade)
de Aquarius".
O que os teóricos aquarianos mais respeitados afirmam
é que ao redor do ano 2000 — precisamente em
2012, adiantam os mais iluminados — o Sol vai entrar
na órbita de uma nova constelação, a
de Aquarius. Este acontecimento terá uma importância
transcendental para a humanidade, pois com ele se estará
dando uma formidável mudança de rumo na história;
mudança de rumo no mundo inteiro.
Que é que está por acontecer? Segundo as explicações
fornecidas com tocante convicção pelos adeptos
da teoria aquariana, houve época em que a humanidade
esteve sob o influxo da constelação do Touro:
foi a era marcada pela truculência dos impérios
assírio e babilônio e pelo sortilégio
das grandes religiões da Mesopotâmia. Seguiu-se
o influxo de Áries: a projeção de um
pequeno povo, Israel, e da religião mosaico-judaica.
Com o Sol na constelação de Peixes — continua
a elucubração astrológica — afirmou-se,
nestes últimos dois milênios, o cristianismo
como religião e como civilização. Por
isso — justificam os astrólogos da New Age —
o peixe foi, na antigüidade cristã, o símbolo
de Cristo. Na verdade, o simbolismo nada teve a ver com a
constelação de Peixes: simplesmente, para ocultar-se
aos inimigos e revelar-se entre irmãos, para não
se identificarem por meio da cruz, demasiado explícita,
os primeiros cristãos escolheram o peixe porque a palavra
peixe em grego ICHTYS continha as iniciais Iesous Christós
Yiós Theou Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador).
A era de Peixes, era crística por excelência
— sentenciam os teóricos da New Age —,
foi de conflitos, confrontos e lutas. A era de Aquarius, que
já desponta, será de compreensão e diálogo,
de tolerância e de paz. Com o Sol em Aquarius, deverá
reinar uma nova ordem internacional, mundial, uma nova "religião",
uma nova humanidade.
Opino (não solitariamente, mas na companhia de muitos
estudiosos e analistas, na farta literatura sobre o assunto)
que sua vinculação com a Astrologia constitui
uma das fraquezas maiores da New Age. A razão, bastante
simples, é que não faz sentido anunciar uma
nova era em tudo superior às antigas, era quase perfeita,
na qual florescerá o que há de melhor no homem
e admitir e proclamar que esta será produto de mera
revolução... dos planetas. É sabida a
crítica acerba que a New Age assaca contra o excesso
de racionalidade nas religiões, em todos os tempos:
na New Age não falta quem denuncie uma carência
do mínimo de racionalidade.
Este dado se choca, de resto, com a pretensão da New
Age de construir-se sobre bases científicas. De fato,
é um cientista, Fritjof Capra, quem, no seu livro O
Tao da Física, texto fundamental do movimento, formula
as grandes linhas de uma "revolução cognitiva"
promovida pela New Age. Teorias de cunho científico
são elaboradas também pelo matemático
Ralph Abraham e por Patrícia Nische (educação
global). Mary Ferguson (sic), discorrendo sobre a "conjuração
suave" (Die Sanfte Verschwörung), se esforça
por ver a nova era — era de Aquarius — como fruto
de uma convergência de pensamentos e de ações
orientados pelo desejo e pela esperança de um tempo
marcado pelo amor, pela compreensão, pela superação
dos conflitos.
É justo reconhecer, por outro lado, que alguns autores
da New Age consideram ponto-chave nesta corrente de idéias
a consciência e seu desenvolvimento como chave da caminhada
para a Idade nova. Não deixam de ser fascinantes as
considerações sobre a "espiritualidade
global" baseada na concepção de um universo
absolutamente uno, no qual não se distinguem sujeito
e objeto, Criador e criaturas, Deus e homem. Para os autores
mais autorizados da New Age, a humanidade é uma coisa
só no seu interior; humanidade e natureza, uma coisa
só; o universo e Deus uma coisa só, o que resulta
em um panteísmo, ou, mais exatamente, em um pan-en-teísmo.
Resta, porém, que o ideal desta nova era de unidade
e de paz aparece apoiado em antigos e novos mitos. Não
apontando os princípios e normas, os dados e fatos
concretos sobre os quais se estriba, mais parece uma utopia
do que uma realidade, fruto mais de voluntarismo do que de
esforço e construção humanos.
Uma certa inquietação humana reponta constantemente
e dela são testemunhas Agostinho e Tomás de
Aquino, Pascal e Bergson, John Henry Newman e Thomas Merton.
Deles são testemunhas os santos em geral. Mas de quem
se esperam esses tempos novos: da ação do homem
em comunhão com Deus? Ou do movimento dos astros?
SOBRE A ERA DE AQUARIUS
Waldemar Falcão
No seu artigo de 19 de junho sobre a Era de Aquário,
Dom Lucas Moreira Neves reclama a ausência de "...princípios
e normas, fatos concretos sobre os quais se estriba (o ideal
desta nova era)...". Atendendo ao seu apelo, aproveito
para, além de enunciar alguns "fatos concretos",
fazer respeitosamente alguns reparos ao seu texto:
O Sol NÃO "...vai entrar na órbita
de uma nova constelação...".
O ponto que marca a passagem aparente do Sol do hemisfério
Sul para o Norte no equinócio de março, é
chamado de Ponto Vernal (relativo à Primavera do hemisfério
Norte). Devido a um fenômeno astronômico de oscilação
lenta do eixo da Terra (a Precessão dos Equinócios),
a cada 72 anos a localização deste ponto vernal
sofre um movimento retrógrado de aproximadamente um
grau de longitude zodiacal; isto resulta numa trajetória
precessional que percorre 30 graus a cada 2.160 anos e nos
dá o fundamento astronômico da passagem das grandes
eras. Aí está o fato concreto: toda esta especulação
a respeito das eras precessionais está baseada na observação
e medição astronômica, e não em
uma "elucubração astrológica".
A Era de Aquário não seria "...em tudo
superior às antigas...". Nunca houve entre os
estudiosos da Astrologia esta versão de que Aquário
seria uma era melhor do que as outras. Toda a essência
do conhecimento astrológico nos ensina que não
existem signos "melhores" ou "piores"
do que os outros. A visão astrológica é,
por motivos óbvios, dodecagenal, e portanto, tenderá
sempre ao pluralismo, jamais ao maniqueísmo. O que
existe é uma expectativa de que estes tempos vindouros
sejam menos dogmáticos e mais democráticos,
com a revolução da tecnologia (uma ferramenta
aquariana) funcionando a serviço de um progresso não
apenas material, mas utilizando os seus meios mais importantes
(a televisão, o satélite, a informática)
como instrumentos de uma democratização da informação
e do conhecimento, nos conduzindo na direção
de uma conscientização planetária, ou,
nas palavras de Dom Lucas, a uma "espiritualidade global"
a que certamente aspiram todos os homens de boa vontade, sejam
eles astrólogos ou não.
Quando Dom Lucas afirma que o simbolismo do peixe entre os
primeiros cristãos resultou de uma coincidência
entre as letras da palavra "peixe" em grego e as
iniciais de Jesus Cristo, somos levados a concluir que também
deve ter sido uma coincidência o fato de Jesus ter escolhido
muitos de seus primeiros discípulos entre os pescadores
daquela época, e de ter chegado ao número de
doze para os apóstolos que foram os continuadores de
Sua obra...
Entre as "testemunhas da inquietação humana"
citadas por Dom Lucas está um autor de fundamental
importância para todos os que levam a sério o
estudo da Astrologia: São Tomás de Aquino,
um dos maiores pensadores do catolicismo, que na sua "Suma
aos Gentios", entre os capítulos 82 e 85, desenvolve
com a profundidade e sabedoria habituais, muitos dos fundamentos
da "Ciência Astrológica" (como ele
a chamava), a partir do estudo do movimento dos astros e de
suas influências sobre os homens. Permito-me citar uma
outra testemunha mais recente: o psiquiatra Carl Gustav
Jung, que oferecia a cadeira de Astrologia como matéria
eletiva em seu curso de Psicologia Analítica em Zurich,
e não obstante o fato de se considerar um cientista,
era um defensor do conhecimento astrológico, que para
ele "continha todo o saber psicológico da antigüidade".
Talvez o traço mais essencial destes tempos aquarianos
iminentes seja justamente este pluralismo, este ecumenismo
que nos convida a aceitar respeitosamente opiniões
diferentes da nossa para que as idéias se confrontem
e ambos os lados se enriqueçam com o debate. Aquário
é o signo da fraternidade humana, o Aguadeiro que verte
a água do conhecimento sobre a humanidade, a "Brotherhood
of Men" imaginada por John Lennon na
sua canção. São símbolos aquarianos
presentes no nosso quotidiano desde a ONU até as associações
de moradores, passando por associações espiritualistas,
comunidades eclesiais de base, e todo o tipo de agrupamento
onde os homens se reúnam para defender ou beneficiar
os seus semelhantes.
Esperamos que, num futuro próximo, nenhum conhecimento,
quando levado a sério por um grupo de pessoas, seja
descartado ou menosprezado aprioristicamente. A classe dos
astrólogos certamente se pauta por esta abertura, já
que procura enriquecer o seu saber em outros ramos do conhecimento
(matemática, astronomia, física, psicologia,
história) onde suas próprias observações
são, com honrosas exceções, olhadas com
desdém. Foi este tipo de pré-conceito que levou
Newton a responder a Halley,
quando este lamentou o fato de seu colega acreditar na Astrologia,
com a afirmativa: "Sir, I have studied it, you have not!"
("Senhor, eu a estudei, o senhor não!").
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