A Estrela de Seis Pontas e Diversas Doutrinas Janine Milward |
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Ação, Conhecimento e Devoção, Karma, Jinana e Bhakti - Mente, Intelecto e Consciência - O homem e o Homem Sagrado - O Caminho da Iluminação e o Caminho da Liberação Existe uma estrela no céu que possui sua correspondência na terra. Essa estrela se manifesta em cada um de nós - seres com o desenvolvimento da mente que acolhem a expansão da consciência. A verdade é que cada um de nós somos um pedaço de estrela, somos feitos todos de poeira de estrelas, somos compostos da mesma composição primordial e mutante do nosso universo. Nosso universo é uma alma somente - O Uno - que, ao explodir para fazer sua vida surgir, se desfez em mil pedaços de pequenas almas que viajam suas existências mutantes e vivenciam e fazem esse universo existir até o seu final, quando novamente se reúnem num imenso abraço... até que novamente uma nova primavera venha acordar esse universo a vir-a-ser... É o Eterno Retorno. "O retorno é o movimento do Caminho" Então, inicialmente, esta estrela que desce até nós, que somos nós, é composta da trindade inicial: o céu, a terra e o homem celestes. Objetivamente, é o Triângulo com o vértice apontando para o céu. Num segundo momento, esta estrela que sobe a partir de nós, que somos nós, é composta da trindade já mutante: o céu, a terra e o homem terrestres. Objetivamente, é o Triângulo com o vértice apontando para a terra. O entrelaçamento destas duas trindades, a celeste e a terrestre, ou dos dois Triângulos, existe a partir do desenvolvimento da mente e da expansão da consciência, fundamentalmente, e coloca o homem marcado pela estrela de seis pontas, a união, a Yoga, perfeita e plena, entre o homem, o céu e a terra. É a Sagração do Homem. A estrela celeste, em sua trindade, desce à Terra trazendo a alma infinita e universal do homem que aqui se une com o corpo físico, formando a trindade terrestre, a estrela terrestre. A partir da fusão das duas trindades, concretiza-se o Espírito, aquele que possui seu cordão umbilical diretamente ligado ao Tao da Criação - anterior à própria criação que é pelo Tao gerada através do Criador que cria a Criação. Esse cordão umbilical que liga o espírito ao Tao da Criação é simbolizado pela corrente - Guruampara - que se instaura através a mutação da vida bem como através das heranças doadas e recebidas entre mestre e discípulo. A plenitude da realização da estrela de seis pontas, é portanto, o retorno à Fonte Primordial: é o Homem Sagrado que, após trilhar seu Caminho da Iluminação e seu Caminho da Liberação, torna-se uma verdadeira estrela - objetiva ou subjetiva - ou seja, torna-se um mestre, aquele que possui luz própria e assim pode guiar e iluminar seus planetas, ou melhor, seus discípulos. TRÊS
PALAVRAS As três palavras ou conceitos que acompanham ambas as trindades são as mesmas, variando apenas suas formas de se apresentarem enquanto trindade celeste ou enquanto trindade terrestre - Triângulo do Céu e Triângulo da Terra: Elas são: Ação, Conhecimento e Devoção. Em sânscrito, Karma, Jinana e Bhakti. A Ação é a prática do homem a se tornar Homem Sagrado. O Conhecimento pertence à Terra. E a Devoção pertence ao Céu. Obviamente, o Conhecimento da Terra é advindo do Céu e realizado pelo homem. A Devoção do homem é advinda do Céu e praticada na Terra através da Ação do Homem Sagrado. Sob o Tao, existem, como composição da estrela triangular primordial ou a Sublime Tríplice Transparência, O Princípio Inicial (que é a imagem do próprio Tao), A Sagrada Leitura (que são os conhecimentos sagrados) e o Mestre (o homem já tornado Homem Sagrado). Na estruturação primordial das linhas Yin e Yang do I Ching, O Livro das Mutações que contém toda a estrutura da relação céu, homem e terra, as três linhas que compõem os Oito Trigramas fundamentais da Família do Céu e da Terra (Pai e Mãe e seus Seis Filhos), também seguem o caminho indicado através da Tríplice Transparência.
O Caminho da Iluminação e o Caminho da Liberação Sendo o homem aquele que desenvolve sua mente e seu intelecto e podendo, assim, alcançar a expansão da consciência, certamente sua vida lhe leva a simbolizar algum propósito. Qual é este propósito e como atingi-lo? A meta da vida humana é alcançar a Consciência Suprema. A Consciência Suprema é o Tao da Criação, é a Fonte Primordial, Para se atingir a Consciência Suprema, é preciso trilhar o Caminho da Liberação. O Caminho da Liberação passa a ser trilhado no momento em que o homem coloca a si mesmo seu propósito de se fusionar a seu Tao através o Caminho da Iluminação, que lhe trará consciência infinita e iluminada. Ao alcançar essa expansão da consciência, o Homem a se tornar Sagrado, inicia seu Caminho em direção à sua Liberação, ou seja, a sair da roda da Samsara, a Roda das Encarnações... A Liberação é atingida quando o Homem já iluminado, transmuta seu corpo físico em Corpo de Luz: a Alquimia do Tao. Portanto, o Caminho da Iluminação pressupõe o homem alcançando a infinitude e a plena iluminação de sua mente, de sua consciência. O Caminho da Liberação pressupõe o Homem alcançando a infinitude e a plena iluminação de sua vida. Mente e Vida infinitas e iluminadas. Mente,
Intelecto No entanto, esses Caminhos são plenos de vicissitudes e obstáculos a serem vivenciados e ultrapassados. Tantra quer dizer a força para se superar os obstáculos. Essa força também traz um outro significado de Tantra, que é: iluminar aquilo que está sombrio, trazer a luz, ou seja, alcançar a iluminação da consciência, livrando-a das trevas da ignorância. Fundamentalmente, precisamos saber a diferença entre o coletivo e o Uno, entre os vários seres do universo e a Suprema Consciência.... aparentemente somos muitos, mas fundamentalmente somos Um. Quanto estamos sob as limitações, em nossa mente, somos parte do coletivo ainda vivendo na escuridão Somos então dominados pelo medo e pelas questões terrestres apenas. Quando ultrapassamos as limitações e alcançamos a liberação da mente, estaremos vivenciando o verdadeiro Tantra. Dessa forma, é importante que saibamos que, sendo seres que usam sua mente, aprendemos que antes de mais nada, também é a mente a causa das limitações bem como a causa da Liberação. Existem então formas que poderemos nos impor para ultrapassar a ignorância de nossa mente – essa é a meta de realização de nossa vida. É a mente que realiza a ação. E portanto é a mente que desfruta das vicissitudes e das virtudes dessas ações. Quando a mente individual se funde com o Tao, com a Suprema Consciência, nos traz a Liberação. A Liberação se dá quando a mente individual se funde total e amplamente com a Mente Cósmica. Karma e Samskara Ação e sua reação em potencial Ação é Karma. O resultado de nossas ações se chama Samskara. Quando a mente se deforma, ela tem intrinsecamente a tendência a retornar à sua forma original. Assim, Samskara é a tendência da mente a retornar à sua forma original, ou seja, à Fonte Primordial, O Tao da Criação. Quaisquer ações que pratiquemos, são gravadas suas impressões em nossa mente. São reações em potencial. O ciclo de vida, morte, vida, morte acontece até quando todos os Samskaras sejam exauridos. Nesse momento, o Caminho da Iluminação dá lugar ao Caminho da Liberação. O homem sempre se encontra diante de duas possibilidades em relação ao fato dele, o homem, como tudo no universo, ser uma semente. Num primeiro momento, poderíamos pensar que é bom "ficar para semente". Certamente também esse ponto de vista é correto quando quer significar deixar bom trabalho e bons exemplos como herança na Terra... Mas , por outro lado, o Tantra nos diz que existem homens e Homens Sagrados, ou seja, existem as sementes que voltam a produzir (re-encarnarem novamente na Terra ou em outros planetas do mesmo nível) ou existem as sementes "queimadas", aquelas que não mais voltam a encarnar. Assim o homem é aquele que é a semente que nasce de novo e o Homem Sagrado é aquele que representa a "semente queimada", Dagdhabiija. A "semente queimada" existe a partir da queima total de todos os Samskaras, provido o fato de que também não existem mais criações de Karmas - sempre a ação é correta não produzindo, dessa maneira, sua reação em potencial. Como então podemos ir além dos Karmas e Samskaras? Esse é o papel da consciência. O que é consciência? Consciência é discernimento – Viveka. Essa consciência discriminativa, esse discernimento, sempre está entre a escolha de realizar uma ação boa ou uma ação ruim – existe então um julgamento. Quando se age corretamente, temos a consciência regendo a mente e podemos retornar à Consciência Suprema. Ação, conhecimento e Devoção Karma, Jinana e Bhakti Também o homem é aquele que funciona sua mente através do intelecto – que é extremamente limitado...Quando a mente consegue ultrapassar a limitação do intelecto, ela atinge a plenitude do Conhecimento. O Conhecimento, Jinana, é muito importante porque é o instrumento que nos ajuda a identificar nossa meta e como alcançá-la. Conhecendo nossa meta, é preciso a Ação, Karma, para se chegar até a ela. A Ação, sem reação, sem Samskara, é Karma. Apenas agir o Karma, a Ação, mecanicamente não nos leva ao aprofundamento em nossa essência espiritual – é preciso então, Bhakti, a Devoção. Uma vez tenhamos obtido a plenitude do Conhecimento, podemos jogá-lo fora, prescindir dele, porque o mais importante em nosso Caminho para a Liberação é a Ação plena de Devoção. Assim, o Conhecimento apenas não é suficiente para se alcançar Paramapurusa, A Suprema Consciência, O Tao da Criação. O Conhecimento tem que ser aliado à Ação, Karma, e fundamentalmente, à Devoção, Bhakti. Dessa forma, a Devoção, Bhakti, é a meta final a ser atingida para que o aspirante espiritual possa vivenciar e ultrapassar seus Samskaras adquiridos. Em suma, a essência de tudo é conseguirmos usar nossa mente, nossa consciência discriminativa, nosso discernimento, nosso julgamento – Viveka – para irmos além do intelecto, que é extremamente limitado. Assim fazendo, conseguimos realizar os três princípios fundamentais – Conhecimento, Ação e Devoção – de maneira plena para alcançarmos nossa meta, a Consciência Suprema . Esse é o Caminho da Liberação. Assim, a conclusão é: enquanto existirem Samskaras, não existe Liberação. Qualquer ação, seja boa ou seja ruim, cria Samskaras. Se praticamos uma boa ação, trazemos boas reações, bons Samskaras para nossa vida: se praticamos uma má ação, trazemos Samskaras ruins para nossa vida.... Então, como podemos ir além desse ciclo de Samskaras? Qual é a saída? Primeiramente, temos que compreender que devemos realizar nossas ações pela sua realização intrínseca e não pelos seus resultados. Assim, não procurar pelos resultados de nossas ações é a primeira saída para irmos além do ciclo de Samskaras, sejam bons ou ruins. A ação correta certamente trará o resultado correto – mas isso não deverá fazer parte de nossa preocupação, de nossa intenção. Quando existe a preocupação ou intenção, o esforço não é completo. A ação deve sempre ser realizada sem expectativas de seus resultados. É o Wei Wu Wei, a Ação através da Não-Ação. "O Caminho é uma constante não-ação que nada deixa por realizar" "A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas" "O Grande Caminho é vasto. Conclui a obra sem mostrar sua existência. Assim, o Homem Sagrado nunca age como grande. Por isso pode atingir sua grandeza" O ABANDONO DO EGO Em segundo lugar, devemos abandonar o ego, o autor das ações realizadas. Apenas realizar a ação correta sem manter expectativas quanto ao resultado, não é ainda o suficiente: é preciso também abandonar o eu, o ego, a expectativa do reconhecimento do trabalho realizado . "Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo. Este é o Caminho do Céu". "As pessoas tem um ego. Somente eu o ignoro considerando-o precário. O que quero que me distinga dos demais é valorizar o alimentar-se da Mãe". Finalmente, devemos oferecer tudo em nossa vida à Paramapurusa, ao Tao da Criação, à Suprema Consciência. Esse oferecimento acontece através da realização de nosso Dharma, ou seja, da realização plena de nossa essência primordial. |