Argumentos
e Falácias
(fonte:
Dicionário Aurélio) |
Argumento
ad hominem.
1. Argumento
com que se
procura confundir o adversário, opondo-lhe seus próprios
atos
ou palavras.
Argumento
ad judicium.
1. Argumento fundamentado
na opinião corrente ou
no senso comum.
Argumento ad populum.
1. Sofisma em que se
associam
ao objeto da argumentação
elementos que tocam à sensibilidade, às necessidades,
às aspirações, aos temores, etc., do público
que se quer convencer.
Argumento ad rem.
1. Argumento relativo ao assunto em foco.
Argumento baculino (ad baculum).
1. Argumento que consiste em pretender provar a existência
do mundo exterior golpeando o solo, ou mesmo aquele com quem
se argumenta, com um bastão.
2. P. ext. Demonstração ou refutação
de uma tese filosófica por meio de uma ação
material, como, p. ex., mover-se, para provar, aos que negam
a possibilidade do movimento, que este existe.
3. Imposição de uma tese com base no medo ou na
timidez do adversário em face da superioridade física
de quem argumenta.
Argumento da autoridade
1. V. apelo ao respeito.
Levar um argumento. Bras. Gír.
1. Ter diálogo; manter conversação; tratar
um assunto.
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Fantástico é ver que
ainda temos que repetir todas as explicações já
dadas... Que lenga-lenga, hein, Srs. pseudo-cientistas!
Por Carlos Hollanda
Astrólogos que volta e meia são chamados para
dar uma entrevista ou participar de um programa de TV, não
importa se é a Globo ou se é uma TV universitária,
costumam deparar-se sempre com um tema um tanto repetitivo:
a velha pergunta “você acredita em astrologia?”.
O chavão já chega a ser caricato. Desde estudantes
dedicados a jornalistas tarimbados e extremamente competentes,
parece que não há uma frase diferente a ser usada
quando o assunto da reportagem é astrologia. “Você
acredita..?”. A culpa pelo modelo repetitivo de abordagem
é deles? Talvez sim, talvez não (talvez seja dos
próprios astrólogos, embora haja quem se esforce
pelo contrário), mas o que com certeza transparece nessa
monotonia é a ainda presente desinformação
extrema da sociedade a respeito do que a astrologia é,
de como funciona e o que tem a oferecer.
Ok, este pequeno texto - entre amigos poderíamos brincar
dizendo “textículo”, mas não é
algo cabível para um público acadêmico mais
cético, que possivelmente criticaria o mau português
e usaria isso para apontar “falhas” na astrologia
- é um comentário sobre as reportagens sobre a
tal pesquisa que diz “detonar” com a astrologia.
Sou suspeito para falar, afinal sou um desses “crédulos”
ou “sacrílegos” ou “débeis mentais”
impertinentes (adjetivos que, juro, já ouvi de diversas
pessoas conhecidas) que ousam continuar a praticar essa “superstição
medieval” (detalhe: a astrologia tem origem muito anterior
à Idade Média) e “enganar a população”.
Mas como os defensores da tal pesquisa também são
altamente suspeitos por serem cientistas movidos pelo que alguns
colegas estudantes de história (a ciência história)
gostam de chamar de “senso comum do cientista” (nossa,
quantos aspas e parêntesis!!), achei uma justificativa
para escrever e unir-me a outras vozes (e dedos digitando nervosamente)
que tentam ao menos equilibrar com o direito de resposta o jogo
de informações truncadas que a massa vem recebendo
pela mídia nos últimos dias (isso está
sendo escrito no dia 24 de agosto de 2003, após o programa
Fantástico, da TV Globo).
Ter alto grau de saber
numa ciência reconhecida como tal não
quer dizer que se tenha competência para avaliar outros
saberes sobre os quais se tem pouca ou nenhuma informação.
Só porque um cientista vai à TV falar mal da astrologia
não quer dizer que ele saiba como ela funciona. Ele apenas
pensa que seu saber já basta. Ledo engano.
Certa vez, uma professora minha de história moderna
(Idade Moderna, para ser mais exato), com muita boa vontade
e intenção, colocou o seguinte: “a partir
do Iluminismo começou-se a perceber que a alquimia e
a astrologia não passavam de crendices”. Tocado
especialmente pelo que tangia ao segundo campo de conhecimento
relegado à categoria de “coisa descartável”,
perguntei-lhe o que ela tinha a dizer a respeito, isto é,
quis saber por que a astrologia passou a ser apenas “crendice”
para o meio acadêmico. Ela respondeu que “um conhecimento
para ser considerado científico tem que ter método.
A astrologia não tem método, portanto, não
é ciência”. Esforcei-me para conter o riso,
pois gostava da simpática professora. Não quis
rir por querer provar a cientificidade da astrologia. Não
me preocupava o fato de ela ser ou não uma ciência.
Achei graça no fato de uma pessoa com um ótimo
grau de formação não ter tido o menor contato
com as premissas nas quais a astrologia se baseia. “Logo
ela, uma professora de história”, pensei eu. Tudo
bem, só porque se é professor não se tem
que saber tudo, fui excessivo na crítica. Mas, como assim,
astrologia não tem método??!! Tudo o que vejo
e pratico todos os dias é método. É simplesmente
impossível trabalhar com análises de mapas astrológicos
(“astrológicos”, não “astrais”)
sem uma metodologia e procedimentos empiricamente comprovados
pelo profissional e por outros que descobrem as mesmas coisas
ao aplicarem as técnicas mais conhecidas.
A pesquisa que saiu em diversos jornais pelo mundo e que o
Fantástico abordou em sua reportagem deixou de considerar
um monte de variáveis. Uma das principais é o
fato de que um estudioso ou profissional de astrologia normalmente
informa a seus clientes que não há ser humano
igual a outro mesmo com mapas idênticos. Cada indivíduo
é irrepetível, mesmo com todos os condicionamentos
socioculturais existentes, mesmo com toda a massificação
possível de sistemas de crença. Isso me lembra
a conversa que tive com uma amiga ao telefone. Ela mencionou
o diplomata Sérgio Vieira de Mello, morto no mais recente
atentado terrorista como exemplo (tem certeza de que os autores
foram mesmo os doidos da Al Qaeda? Tem tanto doido no mundo
com sede de poder e domínio de tudo... hum... é
melhor não ficar pensando nisso agora...). No momento
em que ele nasceu também pode ter nascido alguém
numa favela carioca que nunca teve a oportunidade de sair do
país e ser diplomata mundo afora resolvendo conflitos
continentais. Entretanto, esse mesmo homem, condicionado pelas
circunstâncias difíceis de sua família e
condição social, pode muito bem ter sido (ou ser)
um mediador de forças conflituosas em sua vida na favela.
Talvez um representante da associação de moradores
ou alguém que com muito esforço conseguiu estudar,
formar-se advogado e funcionar como orientador para alguns jovens
em meio ao perigo e às ameaças que tende a sofrer
por sua atitude humanista ante um jogo sujo de poder. São
situações análogas, não idênticas,
mas semelhantes, cada uma dentro de seu contexto específico,
coisa perfeitamente perceptível pelo astrólogo,
caso ele esteja ciente de quem está analisando. Aliás,
se derem a ele o mapa de uma mula (ia usar o exemplo da vaca,
mas este já está muito batido) o astrólogo
não tem como distingui-lo do de um ser humano (o frasezinha
mais repetida sô! E ainda assim tem gente que nunca viu!).
Cada conhecimento, uma metodologia
Tudo o que a pesquisa endossou foi o senso comum do cientista
mal informado a respeito de um tema que reluta em tratar segundo
as premissas próprias desse tema. Gente, a coisa é
bem simples: se eu tentar explicar uma hipótese histórica
com as premissas de uma ciência natural como a física
newtoniana eu vou produzir explicações descontextualizadas,
todas baseadas numa mecânica causal, muito provavelmente
linear, considerando a realidade como uma corrente de dados
absolutos que tem de ter um início e uma finalidade.
Pois bem, perguntem a qualquer historiador digno desse título
se esse raciocínio é aplicável na moderna
ciência história. Ele dirá um sonoro e debochado
NÃO! Por que? Porque para compreender um processo histórico,
e olhem que não disse “fato histórico”,
é preciso trabalhar com um número muito maior
de variáveis e saber que não pode haver uma verdade
absoluta. Há todo um processo hermenêutico para
o pesquisador chegar às suas conclusões e ele
sabe que a realidade, ao invés de ser uma “linha
de tempo” com os fatos históricos demarcadinhos
como aprendemos no ensino fundamental, é um verdadeiro
caos, de onde são retirados pequenos trechos nos quais
se aplica uma metodologia toda própria desse corpo de
conhecimentos aliada às descobertas e metodologias de
outras ciências. A isso se dá o nome de interdisciplinaridade:
a conjugação de ramos diferentes de conhecimento
para se chegar a um determinado corpo argumentativo. Ainda assim,
se eu tentar explicar um processo histórico me atendo
somente aos métodos da sociologia ou da economia, definitivamente
não estarei fazendo história e sim uma das duas
ciências supramencionadas. Será que é tão
difícil assim de entender? Vamos transferir esse exemplo
para a astrologia: enquanto o cientista movido por seu “senso
comum de cientista” não se dispuser a testar a
astrologia segundo os métodos da astrologia ele continuará
tendo a certeza de que ela é uma balela. Eu também
teria essa certeza. Você também teria. E se até
algum gênio como Newton teria, porque nós, bobocas,
que perdemos tempo discutindo uma coisa tão óbvia,
não teríamos? Epa, só tem um porém:
Newton era astrólogo.
Estamos na era da informação rápida e
fácil e por causa disso as pessoas julgam que aprendem
tudo sobre alguma coisa apenas ouvindo algumas palavras a respeito.
Se assim fosse, eu seria doutor em religião, já
que há menos de uma semana assisti ao quarto curso de
pais e padrinhos de minha vida (os três primeiros foram
de sobrinhos). E o fiz não por opção, mas
porque senão meu filho não poderia passar por
esse ritual social que minha mulher e ambas as famílias
prezam tanto. De qualquer forma, segundo o “aprender com
rapidez” da sociedade de “consumo ultra-descartável”
que estamos vivendo, eu seria melhor do que o padre em se tratando
de batizados. Padres, por favor, eu SEI que NÃO SEI mais
do que vocês sobre o seu assunto, ok? As boas, mas curtíssimas
declarações de duas astrólogas famosas
e competentes dadas no Fantástico não teriam como
ser suficientes para convencer ninguém (e olha que elas
até que fizeram algo bacana, dentro do que era possível).
Como fazê-lo num tempo tão curto? Aí podem
argumentar com aquela velha história da simplicidade.
Dizem que quando se conhece muito a fundo uma coisa, é
possível ensinar essa coisa a criancinhas. Concordo em
parte e o faço assim, em parte, porque o controle do
que é emitido como conhecimento legitimado não
pertence às criancinhas. Pertence a pessoas condicionadas,
como todo ser humano (nós astrólogos, inclusive)
a optar pelo lado mais forte, a escolher a autopreservação
e a idéia de competir para ou chegar ao topo ou manter-se
íntegro dentro da estrutura hierárquica e coercitiva
da sociedade. Assim, fico pensando no fato de que tanto eu quanto
meus amigos, colegas e até meus professores na universidade
levaram no mínimo uma semana para apreender um ou outro
conceito científico de história, de sociologia
e por aí vai (lendo textos de pelo menos umas 5 ou 10
páginas para cada conceito). Estou falando de algo que
era ensinado por doutores, gente muito especializada, muito
“douta”, sabida mesmo. Um conhecimento complexo
não pode ser ensinado em apenas 2 minutos. Talvez o possa
para uma criança (será?), mas mesmo assim ela
não tem a vivência necessária para aplicar
tal conhecimento nem para discernir seu alcance. É preciso
que o interlocutor tenha tempo para digerir o que se lhe está
dizendo. Pior ainda se ele é movido por preconceitos
sociais e está cheio de vontade de fazer prevalecer suas
concepções sobre a de qualquer pessoa. Ele precisa
de tempo para contrapor suas certezas às novas informações
que se lhe apresentam. Com qualquer um é assim. Como,
então, convencer uma pessoa só com algumas argumentações
de 2 minutos se ela está cheia de contra-argumentações
que não deixam espaço para algo novo? Ela nem
sequer pensa em experimentar esse novo! Esse negócio,
aliás, lembra aquele menino que chega pro outro, mostra
o pintinho e diz: “olha, o meu é maior do que o
seu”. “Vontade de potência”, diria Nietzsche.
Tudo o que esse senso comum quer não é ciência
verdadeiramente falando. O que parece querer é mostrar
um pinto maior do que o de seu adversário. Se quisesse
ser científico, o cientista pegaria seu senso comum,
colocaria debaixo do braço e o levaria para uma boa biblioteca,
uma sala de aula ou faria uma pesquisa decente com um ou mais
astrólogos recomendados por pessoas nas quais esse cientista
confia. Não se joga fora o senso comum, nem mesmo o “senso
comum do cientista”. Todo senso comum serve como base
para uma explicação científica de verdade,
pois é ele que traz as questões que nos incomodam
e que podem vir a trazer soluções para problemas
existentes se pensados, digamos, epistemologicamente.
"Isso não pode estar
funcionando! NÃO PODE!!!"
Certa vez, um amigo muito cético (não ele não
deixou de ser amigo por causa disso) pediu-me para verificar
suas progressões e trânsitos (para quem se embananou
com o astrologuês: as duas são técnicas
de prognóstico, não de predição
de acontecimentos - verifica-se tendências). Notei que
a Lua progredida fazia um trígono com Marte em seu mapa
de nascimento (o trígono é um ângulo tido
como favorável, tradicionalmente, e a Lua progredida
é uma aplicação da técnica). Vendo
isso, disse-lhe que poderia, “dentro de três ou
quatro meses, quando o aspecto atingisse a órbita mais
próxima”, ser beneficiado por pessoas ou instituições
ligadas a metalúrgicas, a competições ou
à produção de armas. Foi uma dica de improviso,
feita durante um momento de descontração no lanche.
Três meses depois, sua esposa, muito amiga, telefonou
dizendo que ele estava impressionado com minha “mediunidade”,
pois previra “direitinho” seu contrato com uma companhia
metalúrgica. Retruquei dizendo que não era médium.
Apenas fiz algumas associações entre o símbolo
visto na técnica, pois coisas do tipo são um tanto
comuns quando aquele ângulo ocorre. Nada demovia esse
amigo da crença no fato de que tive uma intuição,
uma iluminação mística ou algo parecido.
Ele, dizendo-se cético, preferia acreditar que eu tinha
poderes paranormais - coisa que se tivesse não precisaria
do mapa astrológico para chegar às tais conclusões
- a enxergar na associação de símbolos
um meio de indicar potencialidades. Esta é apenas uma
de muitas histórias de afirmações e posturas
contraditórias de pessoas pretensamente “livres”
da credulidade.
Assim, que tal você, que acredita piamente no que a tal
pesquisa disse a respeito da astrologia, parar para pensar e
tentar descobrir de fato como ela funciona? Não, não
falo em tentar descobrir o mecanismo ou seja lá o que
for que possa dizer que tipo de relação causal
um astro no céu tem com um evento na Terra. Falo em entender
como é o procedimento do astrólogo para que ele
chegue às suas conclusões. Aquelas pessoas que
a pesquisa apontou como de personalidades diferentes necessariamente
teriam que ser diferentes, ou não seriam humanas. O que
acontece é que os padrões arquetípicos
atuam em níveis diferentes e mútiplos de pessoa
para pessoa, como vimos no exemplo sobre o diplomata Sérgio
Vieira de Mello. Falando assim parece algo sem sentido, mas
se há um conhecimento genuíno da metodologia astrológica
de identificação de padrões comportamentais
e suas mesclas em cada ser humano, a coisa é concreta
o suficiente para possibilitar ao astrólogo chegar a
um bom grau de coerência mesmo em se tratando de algo
tão mutável como o comportamento.
A Pesquisa de Gauquelin
Fala-se muito da pesquisa de Michel Gauquelin, que se utilizou
de estatística para comprovar o conhecimento astrológico.
Sua pesquisa além de louvável serve como apoio
argumentativo para essas “novidades” que o “senso
comum do cientista” adora trazer à tona para polemizar,
chamar a atenção e chegar a lugar nenhum (não
se ofenda, se você não acha que se enquadra no
tal “senso comum do cientista”, a crítica
é só a ele). Entretanto, mesmo a pesquisa de Gauquelin,
até com seus resultados verificáveis em laboratório
astrológico não foi totalmente embasada numa metodologia
de identificação mais acurada que um astrólogo
de fato usa em sua prática. Para identificar profissões
e vocações, por exemplo, ele deixou de considerar
a posição das casas do elemento Terra nos mapas
analisados. Além delas, ele teria que identificar onde
se encontravam seus dispositores (os planetas regentes dos sigos
que são tocados pelas pontas - cúspides - dessas
casas) e as condições por signo, casa, aspectos
etc. que recebiam no momento do nascimento. Faltou levar em
conta que com tudo isso, muita coisa poderia ser alterada pelo
período da vida de cada indivíduo. Se sua pesquisa
já chegou a resultados animadores sem levar em conta
esta metodologia (que aqui não descrevi por completo,
apenas arranhei), imagine se o tivesse feito.
Um detalhe: o método que descrevi muito brevemente acima
pode não ser o utilizado por um ou outro astrólogo,
mas assim como os pensadores de ciência têm métodos
diferentes para se chegar a conclusões semelhantes (muitas
vezes encontram coisas diferentes, mas complementares), astrólogos
precisam aplicar o método utilizado por um colega para
chegar aos mesmos resultados. Não se invalida, por exemplo,
a visão marxista de um processo social só porque
a visão antropológica estruturalista diz outra
coisa. Ambas as visões dizem algo significativo e podem
discordar, mas uma síntese entre as duas diz muito mais
do que a opção exclusiva por uma ou por outra.
Desse modo, por favor, céticos do senso comum, não
peçam para que astrólogos tenham uniformidade
total de metodologias ou de visões filosóficas,
porque isso não é prerrogativa de nenhum corpo
de conhecimento.
Gostaria de finalizar com a pergunta inicial desses programas
e reportagens: você acredita em astrologia? Eu, Carlos,
não acredito em nada que não possa comprovar pela
prática. Não se crê em astrologia assim
como não se crê em biologia. Conhece-se astrologia
assim como, em biologia, vai-se aos poucos compreendendo que
o nascimento de uma criança não é obra
da cegonha e sim da fecundação de um óvulo
por um espermatozóide.
P.S.
Acrescento que não sou contra céticos, sou a favor,
completamente a favor, desde que não sejam obtusos em
suas críticas. Tenho-os como uma espécie de oponentes
de tatame, como no judô, onde os atletas-lutadores não
são inimigos, mas forças opostas complementares.
Sem dois lutadores simplesmente não há show. Não
podemos saber se somos coerentes sem a existência dos
céticos, assim como Alain Prost costumava dizer que não
poderia saber se era um bom corredor sem a existência
de Airton Senna. Mas as críticas devem ser feitas com
coerência e com conhecimento de causa, não com
o crítico se escondendo por trás da legitimação
social. É covardia, julgar o que está fora do
âmbito acadêmico como absurdo recorrendo ao argumento
de que o que está fora não tem direito de estar
dentro. Isso equivale a uma atitude etnocêntrica onde
a população de um país que se julga "detentor
da civilização" crê ser seu direito
intervir no modo de vida de outros países e culturas
pelo fato de não agirem e pensarem do mesmo jeito. Em
tempo: Celisa Beranger e Maria Eugênia deram bem o recado
que foi possível dar. Muitos cientistas são coerentes
(deveriam ser) e deixam de agir dogmaticamente, como foi o caso
do astrônomo do Fantástico, ao perceberem que lhes
faltam informações a respeito de seu objeto de
estudo. Ainda assim ele fez uma associação incorreta
entre o fato de Marte ser vermelho e o "nada a ver"
com guerra etc. Quando se estuda símbolos uma coisa tem,
sim, a ver com a outra, uma coisa confirma, por analogia, a
outra. Mas isso é completamente perdoável, dada
a situação. Eu recomendaria ao astrônomo
a leitura de algumas obras que tratem de arquétipos,
de cultura e estrutura social e de folclore, como as de Jung,
de Lévi-Strauss, Mircea Eliade e Luís da Câmara
Cascudo (sobre este último, recomendo veementemente a
obra "Civilização e Cultura"- ed. Itatiaia
- 1983) para entender porque a associação entre
o vermelho de Marte pode ser feita com a idéia de guerra
e conflito desde que o homem começou a se organizar socialmente.
Bem, acho que devemos palmas para nossos colegas Roy, Celisa
e M.Eugênia, que deram a cara a tapa e se saíram
bem, na medida do possível.
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