Catastrofistas Versus Salvacionistas

Antonio Carlos (Bola) Harres

 

Os Grandes Trígonos, o Eclipse
e as Mudanças da vida na Terra

Realmente existiu uma configuração astrologica importante no dia 8 de novembro de 2003, com auge em torno do horário do eclipse, podendo trazer alguma possibilidade de maior harmonia e integração, especialmente aos que conscientemente se alinharem com ela.

Mas quanto ao que dizem sobre 2012, cinturão de fótons, mega portais, intervenção dos extra terrestres, me parece o retorno cíclico da expectativa de que as coisas possam mudar de fora para dentro. Na década de 80 falaram sobre uma grande onda que viria inundar todo o litoral do Brasil, depois mensagens canalizadas de que tres dias de trevas encobririam o planeta, com a recomendação de que as pessoas deviam guardar velas e água mineral, lacrar portas e janelas e não deixar nem os próprios filhos entrarem...

Minha resposta foi que a onda não era do oceano externo mas do interno, do mundo psíquico, do inconsciente coletivo projetado na natureza. Sobre os três dias de trevas, respondi que só poderiam acontecer em função do choque de um asteróide com a Terra ou um conflito nuclear generalizado. Em ambas as hipóteses de nada adiantaria selar portas e janelas e fazer estoques de velas e água mineral. Ao amigo que veio na época me alertar sobre aquelas ameaças e me questionar astrologicamente sobre o sssunto, estando disposto a se refugiar no planalto central, respondi que as trevas estavam no íntimo das pessoas e que era inútil tentar fugir. Se fosse meu destino ser levado pela onda ou estar em meio a um cataclisma me sentia disposto a encarar e que a natureza fizesse de mim o que melhor lhe aprouvesse. Afirmei que nada iria acontecer em larga escala pois se assim fosse as crianças estariam nascendo com mapas astrais que indicariam exterminio coletivo, o que não era o caso.


Da mesma forma, se agora não se anuncia uma grande onda, nem três dias de trevas, temos o cinturão de fótons, a abertura de mega portais, acelerações vibratórias e a promessa que depois de 2012 a humanidade viverá em paz. Para mim, se há algum cinturão de energia ou de vibrações este é o próprio zodíaco refletido no mapa astral de cada pessoa e se existem portais a serem atravessados estes são os simbolizados pelas configurações astrológicas que se acham assinaladas em nosso nascimento. Novamente, os mapas astrais das crianças que agora estão nascendo nada indicam que não terão de enfrentar em sua vida adulta os mesmos velhos problemas de nossa espécie, agravados por riscos ambientais resultantes de nosso uso inconsciente dos recursos naturais. Se nossos filhos irão herdar algum mundo, este será um pouco mais difícil de se viver do que aquele que conhecemos.


O esforço de tentar sermos humanos melhores inspirados ou não em configurações astrológicas harmonicas é sempre louvável. Mas esse apelo também não é novo: o amor ao próximo Krishna já o ensinou a Arjuna nos Vedas; o filho de um carpinteiro da Galiléia já o praticou dois mil anos atrás até o extremo do sacrífico de si mesmo; Buda o realizou na compaixão por todos os seres; Platão idealizou na República a sociedade justa e perfeita para os homens; Thomas Moore preconizou na Utopia a possibilidade da igualdade entre as classes que lhe valeu ser considerado o pioneiro do socialismo a ponto de se tornar o único santo católico a ter estátua em Moscou; Beethoven imortalizou na Nona Sinfonia, primeira e única obra musical a ser enviada para além dos limites do sistema solar num disco digital na nave Voyager, que se encerra com o coral entoando o poema de Shiller - Ode à Alegria - onde só a fraternidade pode dar verdadeira felicidade ao homem; Mahatma Gandhi demonstrou o quanto a não violência é capaz ao expulsar um império colonial e devolver a independência à Índia e por último, mas não finalmente John Lennon tornou hino a possibilidade da humanidade viver em paz na canção Imagine.

HUMANIDADE RECALCITRANTE

Mas somos recalcitrantes. Do contrário não estaríamos assistindo a exércitos de um homem só desafiando tanques na Praça da Paz Celestial, mísseis mutilando crianças em nome da liberdade mundial ou novos Muros de Berlim sendo erquidos entre povos irmãos. Apesar de todas as grandes mensagens, até agora ainda não tivemos em dois mil anos de história registrada, um sequer que a humanidade não estivesse em guerra.


Como diz a canção, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...ou ancestrais.


Não é por falta de propósitos e ideais que não atinjimos ainda a concordancia harmonica, mas por nossa incapacidade de realizá-los. Por isso, não compartilho - com todo respeito aos que assim creem - da visão de que intervenções ou transformações provocadas por forças externas trarão solução.


Apesar dos 40 milhões de mortos em apenas cinco anos da última guerra mundial que culminou com o bombardeio atomico que evaporou 200 mil pessoas instantâneamente em Hiroshima e Nagasaki e a descoberta da industrialização do assassinato em massa nos fornos crematórios do nazismo, parece que a humanidade não aprendeu nada. Temos hoje ainda estocados arsenais nucleares suficientes para destruir o planeta quatro vezes, quando uma só já seria suficiente! Concluída a primeira destruição, de que serviria as outras tres possibilidades? Gasta-se por ano trilhões de dólares na construção e manutenção de armas e exércitos em todo mundo. A destruição do semelhante, na contramão de todas as grandes mensagens espirituais que nos vem sendo transmitidas há milênios ainda é o maior e mais lucrativo investimento da raça humana. Se o sangue de Cristo, Moore, Ghandi, Lennon e dos mártires dos fornos crematórios nucleares de Hiroshima e Nagasaki nada conseguiram, não creio que algum mega portal ou cinturão de fótons o faça.

HAVERÁ SALVAÇÃO
PARA OS "ELEITOS"?

A Era de Aquário com Libra dominando na casa IX assinala que não haverá uma salvação exclusiva para eleitos ou escolhidos. Isso foi há quatro mil anos, na Era de Áries. Também a salvação indicvidual pela transmutação e domínio de si mesmo foi o caminho nos últimos dois mil anos, quando a Era de Peixes trouxe o signo de Escorpião na casa IX. A Era de Aquário, através das viagens espaciais e da física quantica inaugurou a percepção clara de que a humaidade é uma só e tornou concreta a antiga concepção hermética de que não há como separar inteiramente cada parte do todo: somos um grande homem holográfico e se houver alguma salvação ela terá de ser resultado de um esforço coletivo. Ou será para todos ou não será para ninguém.


Emma de Mascheville ensinava que na Nova Era ninguém será inteiramente livre enquanto houver em algum lugar no mundo um prisioneiro de consciência. Não haverá ninguém inteiramente saciado enquanto alguém estiver faminto. Ninguém terá inteira paz enquanto em algum lugar da Terra os homens estiverem se matando. Ninguém estará inteiramente são enquanto existirem infectados.


Só o homem poderá salvar o homem, ainda que isto possa vir a lhe custar quase o desaparecimento de sua própria espécie.