Ela
estava sentadinha no degrau de sua casa. Olhava para
o infinito, pensando no que fazer, já que a chuva
não parava de cair e suas brincadeiras estavam
todas proibidas por aquela chuva que teimava em cair
e não parava.
De tão pensativa, começou a contar as
gotinhas que caiam a sua frente. Pensou quanto tempo
elas viajaram para morrer ali, naquele cimento frio
e triste. Pensou na sorte de outras que estavam caindo
felizes em algum campo ali perto e que poderia ser alimento
de alguma plantinha ou enchendo o rio para algum animalzinho
poder beber.
E porque justo aquelas que vinham tão felizes
também, tinham que acabar sua trajetória
naquele cimento tão cinza e ainda por cima, terminarem
sua viagem em um bueiro?
E começou a reparar como cada uma caía,
como desciam a rua, como formavam juntas um filete de
água até o bueiro. E reparou também
que todo esse movimento a deixou feliz por esses momentos,
tal qual a plantinha e o animalzinho do campo que ela
havia pensado antes.
A chuva havia parado quando ela levantou feliz por ter
acompanhado suas amigas gotinhas todo aquele tempo,
no qual esqueceu seus brinquedos, a tristeza pelo tempo
ruim e por não ter o que fazer.
Pensou e viu que aquelas mesmas gotinhas, que antes
ela achara que estavam infelizes por cairem no cimento
frio da rua, fizeram a sua alegria e o tempo ruim passar.
|