O Signo de Sagitário e suas
Correspondências Socioculturais

Carlos Hollanda - fale com o autor
O texto que se segue é parte integrante de um dos cursos do Nível Fundamentos da escola Astroletiva, onde são delineadas correspondências de mesmo nível sobre todos os 12 signos. A abordagem é um tanto diferente das que o leitor está habituado a ver, mesmo porque a maior parte dos textos aborda com ênfase dobrada o aspecto psicológico do símbolo. Sem perder de vista este aspecto psicológico, no mesmo curso propõe-se uma teoria sobre o processo de reiteração dos arquétipos ao longo do tempo nas mais diversas sociedades e nas mais variadas manifestações culturais. Aqui tratamos especificamente do signo de Sagitário, relacionando-o com o signos anterior, o posterior e o oposto. Os três são fatores complementares da dinâmica do signo estudado e o mesmo método é usado com os demais signos.

Signo anterior: Escorpião – Signo posterior: Capricórnio –
Signo oposto: Gêmeos

Aqui temos uma necessidade de usufruir ao máximo do modo de vida provido pela civilização, com seus confortos, suas festas coletivas (que podem ser ou não religiosas), enfim, “o bem-bom” que se propagandeia a respeito da vida nos grandes centros urbanos. Mas para garantir isso, toda metrópole ou todo império que se propaga culturalmente precisa expandir-se de forma a extrair de suas províncias os recursos que garantem este modo de vida “privilegiado”. Ele também requer uma certa uniformização do pensamento da sociedade em torno de costumes e crenças comuns. E isto para garantir uma convergência de poder a um dado grupo que detém os direitos de execução e de exploração desses subsídios.

Sagitário, como já vimos, é o fogo domado ou civilizado. Aqui encontramos culturas que fazem uso de instrumentos manufaturados segundo certo domínio de princípios lógicos. O arco e flecha, o uso do cavalo como transporte, o culto às crenças naquilo que garante a continuidade e aperfeiçoamento da civilização. E isso propagando seus valores, influenciando a mentalidade de outros segundo a crença no fato de que os costumes propagados são a verdadeira forma de civilização.

Enquanto Escorpião representa o contato com os impulsos bestiais, seu reconhecimento e sua transmutação, Sagitário marca a seqüência deste processo pelo desejo de compreensão do que de fato vêm a ser tais impulsos. Daí partem diversas teorias, tanto as religiosas e cosmogônicas, quanto as científicas. De fato, teorias são modelos reais apenas em potencial, precisando ser comprovadas de quando em quando, podendo, em dado momento, ser derrubadas para darem lugar a novos modelos de pensamento. Os códigos morais, sejam eles religiosos ou não, têm raízes no esforço por diferenciar o homem do animal, o sagrado do profano. Coisa pela qual tanto se esforçaram as ordens religiosas da Idade Média, cujos resquícios ainda estão nos confessionários das igrejas, que representam uma forma de buscar a remissão das culpas (Escorpião e Capricórnio) através de uma autoridade sobrenatural.

Sagitário também está ligado à idéia de ensino superior e à religião. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? A raiz está no fato de as universidades terem sido criadas através da organização da Igreja na Idade Média. O ensino superior tal como o conhecemos veio com a criação dos mosteiros e abadias. Também se atribui a Sagitário a via do pensamento filosófico, em contraposição ao pensamento prático do senso comum. Da mesma forma, temos nisso uma raiz. Ela se encontra na antigüidade, com os pensadores gregos, e na Idade Média, onde a Cristandade tinha como formadores de opinião e do pensamento vigente os clérigos. Hoje em dia o ensino superior dos religiosos foi substituído pelo dos teóricos da ciência. No entanto, o resultado e a manifestação são praticamente os mesmos, do ponto de vista simbólico. Tanto o clérigo, que detinha conhecimento, quanto o cientista, são tipos de sacerdotes, cada um legitimado de acordo com a conjuntura de seu tempo.

Nosso mundo, muito baseado no poder da mídia e da formação acadêmica, é rico em situações típicas do simbolismo de Sagitário. Uma delas, que confunde os estudantes de Astrologia, é a instituição do Direito Civil e seu vínculo com este signo. O Direito nasceu de regras comuns em sociedade desde os primórdios dos agrupamentos humanos, é verdade. Todavia, foi durante a formação das religiões da Antigüidade que estas regras tomaram a dimensão de leis diretamente impostas aos homens. O ser humano, diante das forças naturais, percebeu que precisava submeter-se a certos tipos de comportamento a fim de assegurar sua existência. A associação dessas forças com personificações (deuses), somada à necessidade de estruturação da sociedade para garantir a estabilidade do grupo, imediatamente desenvolve uma noção de que tais leis são ditadas por essas potências personificadas. Eis, portanto, um processo que fortaleceu a criação das imagens, ícones e modelos mentais que deram origem ao conjunto que faz parte das atribuições do signo de Sagitário.

As leis e regras morais nasceram da religião, até serem transformadas e adaptadas aos poucos para a forma atual de convivência em sociedade. Encontramos entre os mais antigos códigos legislativos o de Hamurábi e os Dez Mandamentos da lei mosaica. Em seguida, há a Cristandade, na Europa medieval. A Cristandade é nada menos que um Estado onde quem não era cristão não possuía direitos. Era, novamente, a lei ditada e formulada com base em preceitos religiosos. De fato, vamos encontrar um complemento e uma compensação para Sagitário em Capricórnio, o signo posterior. Nele, as teorias encontram uma legitimidade e uma ordem prática com a qual se exerce o poder sobre a população.

Falamos antes, ao tratarmos de Gêmeos, o signo oposto a Sagitário, sobre a mídia e o poder de conversão das mentalidades segundo imagens e fórmulas uniformizadoras de costumes. Os indivíduos predominantemene sagitarianos tendem a forçar e a impor suas crenças e certezas aos outros de uma maneira semelhante. Ocorre uma pressão de aspecto social que leva o indivíduo atingido pelas “setas” do centauro a sentir-se diminuído diante da legitimação que uma cultura dá a certos procedimentos. Encontramos uma raiz para este comportamento no caráter da Igreja Cristã Romana, no início da formação do Ocidente Medieval, no trabalho de conversão dos povos germânicos. Esses povos eram iletrados, isto é, não falavam o latim. A persuasão visando à conversão desses povos não funcionava. Era preciso atingi-los a partir de suas mitologia próprias e levá-los aos poucos à idéia do cristianismo. O recurso usado foi bem semelhante ao da mídia como a conhecemos: imagens. O Cristo, representado tradicionalmente, até aquela época, magro, de pele escura e com ar de fraqueza física, assume as características do povo germânico: louro de olhos azuis, de físico musculoso e em cenas drámaticas de estilo heróico. Ora a moral dos bárbaros era a moral cavalheiresca, a moral dos guerreiros. Não entrava na cabeça deles a possibilidade de um deus ter uma figura que não refletisse este ideal. As imagens fizeram seu trabalho, mas a necessidade política de conversão desses povos trouxe à vida uma cultura híbrida, baseada no sincretismo religioso, dando início à Idade Média.

Sagitário compensa o signo anterior, Escorpião, buscando um sentido para as crises características deste último. Aqui encontramos explicações filosóficas capazes de renovar as esperanças, não importando se a perspectiva não tem comprovação. Basta que uma teoria explique com uma certa coerência as razões das vicissitudes. É uma reação à sensação de descontinuidade que a morte e as perdas causam. Um habitante da Europa medieval certamente diria que um problema que lhe ocorreu foi obra de Deus e que isso não pode ser questionado. Assim deve ser. Deus o está provando e logo as coisas voltarão ao seu lugar, porque Deus concede a Graça àqueles que se comportam de acordo com suas leis. Um habitante da Pérsia, na Antigüidade atribuiria suas vitórias ou derrotas a causas divinas das quais ele também não podia discordar. A vontade dos deuses era soberana e absoluta. Daí que, se o oráculo dizia que os deuses estavam ao seu lado, nada poderia superar seu entusiasmo nos esforços de conquista territorial para o Império.

Nos dois exemplos encontramos uma raiz para o tão conhecido otimismo sagitariano. Há uma crença inata nas possibilidades. Se aqui não dá, deve ser por que ali é que poderei conseguir. Sagitário não tem, a princípio, um pensamento de bloqueio e de restrição. Encontraremos este simbolismo em Capricórnio que, aliás, compensará o excesso de confiança sagitariano com evidências em contrário e uma boa dose de sobriedade. Sagitário revela excessos num tipo de brutalidade típica do territorialista. A intenção pode ser das melhores, mas quem é que gostaria de ser coagido a proceder do modo como um estranho acha que deve ser o certo? Um exemplo disso tivemos com a catequização dos povos indígenas e seus desdobramentos muito bem demonstrados no filme A Missão, com Robert de Niro num dos papéis principais. Um outro excesso ocorre na falta de senso crítico, resultando em tietismos que dão notoriedade e um status sobre-humano a pessoas transformadas em ícones pela mídia. Capricórnio fará uma compensação a essa aceitação indiscriminada de valores com um senso crítico e um rigor à toda prova, além de uma atitude pragmática. Capricórnio também complementa Sagitário ao legitimar as crenças e dogmas de uma filosofia, ao conferir poder e um lugar social para aqueles que seguem estritamente as regras. Capricórnio também, ao instaurar as instituições, dará uma forma concreta às doutrinas ou sistemas filosóficos de seu signo anterior.

Tal como Gêmeos, Sagitário detém um poder de influenciação, que será visto mais adiante também em Aquário, com suas ideologias. Tal poder é bastante conhecido no marketing, que trabalha com os processos mentais humanos e seus sistemas de crença. A indução de idéias, conceitos, sua propagação e a formação de opinião pública são características desse eixo Gêmeos-Sagitário.

Outras imagens associadas ao simbolismo de Sagitário:

  • A noção de vagar (vagabundo), viajar grandes distâncias e aventureiramente em busca de novos horizontes e oportunidades (como a corrida do ouro), é tipicamente sagitariana. Aqui vemos da mesma maneira a conquista territorial já mencionada .
  • As expedições de Vasco da Gama e dos descobridores dos séculos XV e XVI. Temos novamente a noção de exploração de terrenos e de possibilidades de crescimento em longas distâncias e com culturas diferentes.


Correspondências e semelhanças gerais:

Crescer, expandir, buscar, acreditar, viajar, confiar em mentores e ser orientado. Acreditar nas possibilidades mais remotas (vemos isso também em Áries). Rituais – como os religiosos ou os sociais, onde o simbolismo cultural está implícito. No corpo, rege os quadris e as coxas. Qual a relação? Lembremo-nos de que o ícone de Sagitário é um centauro ou um homem montado a cavalo. A parte do corpo do homem que se une ao cavalo em movimento e flexão são as coxas e os quadris. Igualmente, são as partes do corpo onde temos músculos mais longos e fortes. Curiosamente, a idéia de expansão imperial, cuja forma mais antiga de que se tem notícia vem dos assírios, veio exatamente através do uso do cavalo como arma de guerra. Sagitário não é somente o signo da religião, mas da expansão a todo custo, e isso inclui a guerra. Ora, e o glifo deste signo não é um arco e flecha? E isso não é, além de uma arma de caça, uma arma de guerra? Vemos esta expansão territorial forçada também nas cruzadas e nas conquistas imperiais de quaisquer povos em todos os tempos.

Carlos Hollanda - fale com o autor

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