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Justificativas para não
vencermos as dificuldades


* A sequência de ironias fala de outro problema relativo tanto a estudantes e curiosos, quanto a muitos astrólogos (isso se aplica a qualquer arte, Tarot, numerologia, etc) que já estão no ramo há tempos: usar o conhecimento (que deveria libertá-los) como desculpa para nada fazerem em prol de aumentar suas próprias felicidades.
 
"Eu tenho Sol na oitava casa, por isso eu sou muito ciumenta", "Meu Saturno em Gêmeos me deixa lento demais para raciocinar", "Essa quadratura de Plutão com minha Vênus é que me impede de ter alguém para amar", "As informações que tento passar se perdem no meio do caminho. Isso é coisa de Mercúrio em oposição ao Ascendente".
 
De acordo com o que vemos acima, tudo é desculpa para não podermos ser melhores naquilo em que deveríamos ser. O que está escrito é real, foi dito por pessoas de convivência quase contínua, por amigos, por clientes e por alunos.
 
Mas será mesmo que um símbolo descrito no mapa astrológico, nas cartas do Tarô, nas Runas, nos Búzios ou na leitura de mãos pode nos impedir de sermos felizes? Será que não somos capazes de superar tendências?
 
É muito fácil culpar um aspecto, um posicionamento planetário numa casa astrológica ou outro símbolo qualquer (às vezes culpamos as pessoas de nosso convívio), pela falta de coragem em enfrentarmos o que nós mesmos criamos como impedimentos. Obviamente, para quem estuda essas artes esotéricas, isso é um ponto a considerar, pois indica em que área da vida somos afetados, mas nem por isso devemos nos conformar com uma dificuldade atribuída a uma simbólica pessoal. Sempre digo, em palestras e cursos, que é muito mais fácil o Homem influenciar o Universo do que o contrário. Se nossa atitude mental, predisposta que é, continuar a exercer sobre as circunstâncias pressões ilusórias, baseadas nas crenças sobre si ou nos símbolos que o intelecto aprendeu a reconhecer, sem dúvida nenhuma manteremos o bloqueio ou a dificuldade, apenas pelo fato de que acreditamos que nunca poderemos sobrepujar uma fraqueza. Se o problema é identificado como proveniente de vidas passadas, por exemplo, a desculpa é: "Esse é meu carma". Não! Claro que não! É certo que você precisa fazer uma espécie de compensação, mas se uma pessoa está consciente do que é sua missão ou dever (dharma), ela tem consciência de que pode realizar o processo de correção (Tikun, em hebraico) sem traumas. Se pensarmos desse modo ("É meu carma, o que fazer?"), com certeza estaremos criando ou até aumentando a carga de nosso carma real. Estar consciente do que é preciso fazer em seu Tikun já é um fator grandemente significativo. Contudo, o reequilíbrio de nossas energias não precisa ser tão sofrido. O que é realmente necessário é compromisso. Compromisso consigo mesmo, determinação de fazer o que nos propusemos antes de nascer, estando consciente disso. Se o mapa astrológico ou outras artes podem auxiliar um indivíduo a reencontrar essa memória perdida, então isso não deve, sob hipótese alguma, servir como uma desculpa para que não levemos a cabo o processo.
 
Sabermos que, por termos Saturno em quadratura com Vênus no mapa de nascimento tendemos a enfrentar dificuldades com as associações ou com o relacionamento afetivo, jamais deveria ser motivo para desânimo. Como não? Não. Não deveria e não deve. O que o símbolo indica é que nós (o que quer dizer que temos responsabilidade de mudar) somos propensos a criar impedimentos a um contato humano mais caloroso devido a uma atitude defensiva, seja proveniente de vidas passadas, seja pela escolha de uma família que aplicava uma disciplina muito rígida na infância. Seja como for, o Tikun é basicamente encontrar o calor humano dentro de si, estar disposto ao encontro com as pessoas, ao dar e receber sem se deixar levar pelo medo de ser ferido ou rejeitado. Se isso pode acontecer algumas vezes na vida? Sim, mas é preciso que tomemos consciência do que estamos fazendo para que esses sentimentos não estejam se manifestando tão bem como deveriam. Suponhamos que uma pessoa com o aspecto mencionado acima fizesse uma consulta de Astrologia Cármica. Ali ela descobriria que, por exemplo, teve muitas decepções com relacionamentos amorosos no passado e que passou a ter pavor de ser abandonada. Suponhamos também, que ela tinha uma vida intelectual muito intensa e que não gostava muito de dividir suas atenções, porque seu ego enorme a fazia acreditar que era única no mundo. Se ela ainda revive essa tendência, nada mais natural que seu processo de Tikun (que ela mesma escolheu para ter uma nova experiência nessa encarnação) a faça ter mais consciência de que precisa situar-se entre seus iguais, que precisa ter compaixão e que não deve tentar compensar demais suas carências com o isolamento intelectual de outrora. Deve entender que a sensação de "estão tirando tudo de mim" é ilusória, decorrência de uma extrema avareza de outrora, mas que não precisa ser revivida. Na verdade, o ser está aprendendo a partilhar e, se isso significa abrir mão de sua suposta superioridade técnica ou intelectual ele terá de entender que só assim será mais feliz, mais aceito e encontrará um repouso merecido nos braços de pessoas que o amam de verdade.
 
O que queremos, no final das contas (com quadraturas ou não), é isso mesmo: ser amados. Queremos ser compreendidos pelo que somos, daí o fato de justificarmos nossas fraquezas. Quando alguém fala sobre seu Urano em conjunção com o Sol, na verdade está dizendo (entre outras coisas): "Entenda que preciso de liberdade, mas goste de mim assim mesmo".
 
Em consultas, geralmente prefiro não enfatizar demais o que "provoca" eventos no período em que uma pessoa está, nem que planeta ou aspecto faz com que ela seja "assim ou assado" (até porque, como já disse, nada nos faz ser de um jeito ou de outro, nós é que já somos assim previamente e o símbolo só identifica). Quando me perguntam por que não falei de estrelas fixas ou dos nodos lunares, por exemplo, a resposta é: "falei sim, mas implicitamente". De que adianta encher de vocabulário técnico uma interpretação que se dispõe a orientar? Numa consulta não é preciso dar uma aula de Astrologia. Para isso existem salas e cursos apropriados em seu devido tempo.
 
A finalidade do estudo e da prática da Astrologia é, antes de tudo, encontrar um meio de vida mais satisfatório. Para quê dizer que sua Roda da Fortuna está em quicunce com o ponto médio entre a Lilith e Quíron, se o que a pessoa precisa é de soluções? Se nós astrólogos não nos sentirmos capazes de dar essas soluções, pelo menos devemos incentivar, através da visão de caminhos opcionais que o mapa oferece, o indivíduo a chegar até elas. Devemos lembrar a ele que seus temores precisam ser vencidos e que ele não é um covarde. Coragem é a maior virtude de quem tem medo. Quem não sente medo é um tolo. O medo é a causa da coragem.
 
Carlos Hollanda
São Paulo, 10/04/97
 
Textos de Carlos Hollanda, Copyright © 1999