Como
coloca o professor Roque de Barros Laraia em seu livro
Cultura, um Conceito Antropológico, o
ser humano nasce com um equipamento para viver mil vidas,
mas termina vivendo uma só. Esta amplitude de possibilidades
será limitada pelo contexto real e específico
onde o ser humano cresce e é criado. Apesar disso,
como já exemplificamos, existem características
culturais que não variam em sua essência
(casamento, uniões) e características naturais
que existem independentemente da cultura (morte, nascimento,
funções fisiológicas como a digestão
etc).
Abaixo,
enumerei algumas dessas propriedades comuns a todos os
povos indistintamente. Elas são relativas aos chamados
“4 elementos alquímicos”, um conjunto
de símbolos usado dentro do sistema da Astrologia
e em alguns pontos da Psicologia junguiana. São
eles: Fogo, Terra, Ar e Água. Vez por outra toda
e qualquer pessoa age em conformidade com o que será
descrito. E isso é o bastante para comprovar que
tais comportamentos são prerrogativas gerais, não
especiais de uma ou outra pessoa. Por mais que alguém
tente repelir tais posturas, elas não deixarão
de existir. Elas manifestar-se-ão em si em algum
grau, consciente ou inconsciente, ou lhe serão
confrontadas através de seus relacionamentos interpessoais
com outros seres humanos, com relevância de um ou
mais dos atributos enumerados. As ênfases da posição
do Sol (o “seu signo”), da Lua (o signo lunar
também é importante) e do Ascendente (situado
no horizonte a leste do local de nascimento naquele dia
e hora) não deixam de ser prevalentes. Um exemplo
é o caso de alguém com Sol em Virgem (alguém
do signo de Virgem) que tende a se preocupar excessivamente
com detalhes, mas os atributos “menores” ou
não tão enfáticos continuarão
agindo nos bastidores. São os outros signos e elementos
que não têm tanta evidência no comportamento
individual, mas existem na forma de pequenas ações
peculiares e análogas ao simbolismo que lhes é
próprio. Desse modo, o ser humano experimenta todos
os estados de ser relacionados aos 4 elementos.
Fogo
– Todo ser humano se entusiasma, mais ou menos freqüentemente.
Todos nós brincamos quando crianças e podemos
continuar nos divertindo quando adultos. Ainda que a diversão
de alguns adultos seja menos movimentada. Ainda que muitas
crianças sejam privadas de abrigo e conforto, marginalizadas
etc, elas buscam a diversão e a expressão
pessoal. Todo ser humano desenvolve, após algum
tempo de vida, mesmo que minimamente, uma consciência
de separatividade de si mesmo com relação
ao mundo circundante. São signos do elemento Fogo:
Áries, Leão e Sagitário.
Ar
– Todo ser humano raciocina, transmite seu pensamento
e se relaciona, mesmo quando se trata de alguém
que se isola do resto do mundo. Ainda neste caso, há
um relacionamento, antagônico, com a sociedade,
mas um relacionamento. Ainda que se isole totalmente,
ele transmite alguma coisa, quando, ao morrer ou ao mudar-se
de local, deixa vestígios que podem ser “lidos”
por outros seres humanos. E isso mesmo que não
o faça de caso pensado. Mas até para isolar-se
o ser humano, antes, experimentou o relacionamento. São
signos do elemento Ar: Gêmeos, Libra e Aquário.
Terra
– Todo ser humano tem um corpo, busca um mínimo
de estabilidade e de satisfação para suas
necessidades materiais. Mesmo aqueles que fazem votos
de pobreza, pois para sobreviver precisam de algum tipo
de sustento, que pode vir do trabalho, de doações
etc. Estão nesta categoria até aqueles que
fazem greve de fome ou os suicidas, pois, até o
momento dos atentados contra as próprias vidas,
eles buscaram manter-se íntegros do ponto de vista
físico. Aliás, é a cultura e eventos
particulares que moldam um sistema de crenças capaz
de levar alguém ao suicídio e o processo
de manutenção da vida é típico
de Terra. São signos do elemento Terra: Touro,
Virgem e Capricórnio.
Água
– Todo ser humano se emociona, tem sentimentos,
se magoa ou se alegra de acordo com a circunstância
e o ambiente cultural. Muitas pessoas aparentemente frias
e sem sentimentos, na verdade são movidas por sentimentos
profundos, baseados em circunstâncias passadas em
suas vidas, sua infância etc. Qualquer ser humano,
por mais controlado que seja, terá seus batimentos
cardíacos alterados ao ver-se ameaçado em
sua integridade física ou moral. Chamemos isso
de reação orgânica ou instintiva.
Seja lá o que for, é uma reação
que todo ser humano é passível de ter. Sentimentos
de medo, ódio, pânico e até o sentimento
de conformidade com o que não pode ser alterado
são respostas típicas em situações
assim, mas são sentimentos e todos os têm.
Apatia é uma reação provocada por
sentimentos dolorosos, uma espécie de depressão.
Daí que até mesmo o apático vive
assim em função de seus sentimentos. São
signos do elemento Água: Câncer,
Escorpião e Peixes.
Um
último exemplo
Assim
como no caso dos elementos, os signos também estão
presentes em circunstâncias e realidades comuns
a todas as culturas e, em outros casos, até à
própria natureza humana. Para se ter uma idéia,
como já foi dito, todos sentem fome e sede, todos
precisam se alimentar. O modo como o alimento é
preparado, consumido ou repudiado depende muito da cultura
de cada povo. Já a necessidade de comer é
um processo fisiológico, apesar da quantidade e
freqüência da alimentação variar
também de cultura para cultura. Câncer, no
sistema de símbolos de que a Astrologia faz uso,
é o signo que tem maior afinidade, por significado,
com a idéia de matar a fome, de ingerir, de pôr
algo no estômago. Aliás, Câncer é
o signo que rege, isto é, tem afinidade simbólica
(e não uma influência, como poder-se-ia imaginar),
com o estômago e parte do sistema digestivo. Isso
mostra que invariavelmente, dentro do contexto do sistema
de correspondências de que estamos falando, o símbolo
tem as mesmas analogias para todos os povos e todos os
indivíduos, não importando a cultura. A
fome leva a comer. O que é “bom” ou
“mau” para comer, o que comer, e como é
outra história: depende da cultura.
Câncer
também é análogo à necessidade
de abrigo, de refúgio, e isto é uma característica
natural, independente da faculdade humana de produzir
cultura. Não só o homem, como todos os animais
buscam abrigo de algum modo. Alguns abrem tocas, outros
abrigam-se em cavernas. Há aqueles que não
se utilizam de abrigos comos os citados acima, mas mantém-se
unidos aos seus grupos, manadas etc, como forma de buscar
uma segurança relativa. Com o Homem, apesar de
os aspectos culturais alterarem a forma de abrigar-se,
a necessidade de abrigo é imperiosa para garantir
a sobrevivência. A cultura, no entanto, pode forçar
alguns ao desterro temporário ou permanente. Pode
também levar o indivíduo a buscar a exposição
pública como forma de realização
de sua necessidade de segurança.
Carlos Hollanda