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Pensando
elementos da amizade
a partir de dois filmes europeus
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Qualquer
pessoa pode compreender as dores de um amigo, mas é
necessário uma natureza muito especial para compreender
o sucesso de um amigo.
Oscar Wilde
Por mais ricamente dotados que sejamos, sempre nos falta
alguma coisa, os melhores dentre nós têm o
sentimento da sua insuficiência. É porque buscamos
em nossos amigos as qualidades das quais carecemos, pois,
unindo-nos a eles, participamos de alguma maneira da sua
natureza e nos sentimos então menos incompletos.
Émile Durkheim
O filme “Elas”(Elles), do cineasta português
Luis Galvão Telles, é passado na França
dos anos 90 e conta a história de cinco amigas,
todas na faixa dos quarenta anos de idade. Linda é
jornalista, e apresenta um programa feminino na televisão.
Tem um caso com Gigi, um dos diretores da rede, que a
ama e procura fazer seus gostos. Mulher independente,
dedica-se quase que exclusivamente ao seu trabalho, e
no momento está envolvida com um documentário
sobre os maiores desejos de mulheres na sua faixa etária.
No seu apartamento (Linda mora sozinha), Gigi pode ficar
até às três da manhã; nesta
hora, todos os dias, o despertador toca, dando-lhe o sinal
que dever partir. Eles passam a noite juntos com freqüência,
mas o acordo implica que às três horas o
amante deve ir embora, o que ele sempre faz, contrariado.
Durante a madrugada, Linda se dedicará com afinco
ao documentário.
Branca é um misto de atriz e cantora que faz sucesso
em bares e teatros das redondezas - tem uma pequena legião
de admiradores, mas nunca alcançou a fama sonhada.
Mesmo assim ganha dinheiro com seus shows. Se vê
como uma mãe fracassada: sua filha, Rita, é
uma adolescente atormentada e usuária de drogas
pesadas, que sempre reclama por atenção,
freqüentemente não recebendo. Ambas vivem
em conflito. Em uma das cenas iniciais do filme, Branca
está ensaiando com um ator a nova peça que
estreará em breve, sozinhos no teatro. Já
no final do ensaio, uma cena romântica, ela e o
colega não resistem e acabam fazendo amor no palco.
Rita, que a esperava em um local já combinado previamente,
surge no momento, e flagra a mãe nos braços
do ator, se desapontando mais uma vez.
Chloé tem um salão de beleza e vive frustrada
por ter um amor não correspondido. Viciada em heroína,
atravessa uma fase de recuperação, estando
longe de drogas há algum tempo. No seu depoimento
para o documentário de Linda (todas as amigas participam),
um dos seus desejos seria o de justamente ser amada por
quem ama, e que saberemos no decorrer do filme, se tratar
de Branca.
Barbara possui um restaurante de comidas finas, é
uma cozinheira de mão cheia. Divorciada, ainda
ama o marido e sonha com a reconciliação.
Após um desmaio no mercado, descobrirá possuir
uma doença grave, e que o seu tempo de vida agora
é curto. Em seu depoimento à Linda para
o documentário, declara o medo de terminar os dias
sozinha. Neste momento Barbara ainda não sabia
de sua doença; o diagnóstico a deixará
em desespero. Luis, seu filho, é um colecionador
de pedras e trabalha em um museu da cidade. Inês,
a filha, trabalha no salão de Chloé, e está
prestes a casar.
Eva é professora de Literatura na faculdade onde
Luis estuda. Aos poucos os dois irão se descobrir
apaixonados, gerando, a princípio, um conflito
interno em Eva, amiga de longa data de Barbara. Além
do aparente obstáculo da idade, a antiga amizade
poderia ficar estremecida com um possível romance
entre eles. Como Barbara entenderia aquela relação?
O que diriam as outras amigas? Apesar da incerteza no
futuro, a paixão entre os dois falará mais
alto e o envolvimento acontecerá.
A princípio, é importante destacar que
as cinco personagens já se conhecem há muitos
anos, tendo estudado juntas na adolescência. As
profissões distintas e os casamentos fracassados
(com exceção de Chloé, e de Eva,
que é viúva), não foram empecilho
para que conseguissem manter um contato permanente. Os
teatros onde Branca apresentava seus shows eram o espaço
de celebração à esta amizade. Ao
fim das apresentações era quase certo uma
reunião em algum bar, no intuito de colocarem os
assuntos em dia, discutirem planos e falarem dos filhos.
É certo que algumas confidências ficavam
restritas a uma amiga mais que à outra: Eva prefere
falar da sua paixão por Luis com Linda, a jornalista;
Chloé fala de seus sentimentos por Branca com Barbara;
Branca expõe o vício da filha com Chlóe,
também viciada.
Tendo estes detalhes de “Elas” apresentados,
tratemos do outro filme, “Garotas de Futuro”(Career
Girls), do diretor inglês Mike Leigh. A história,
passada em Londres, gira em torno de Annie e Hannah, duas
amigas que se reencontram depois de algum tempo (em torno
de dez anos) separadas. Annie retorna à cidade
em férias, e ambas se surpreendem com as respectivas
mudanças. O visual quase punk do passado, agora
dava lugar às roupas sóbrias e elegantes,
e elas riam de si mesmas. O filme mescla com felicidade
o presente e o passado, focalizando desde o encontro inicial
das duas amigas, suas recordações, até
o momento da partida de Annie, que seria a cena final.
Através de um anúncio à procura
de uma companheira para dividir um apartamento, Annie
chega à Hannah, que já morava com uma outra
garota. Na verdade o aluguel havia aumentado, surgindo
então a necessidade de mais uma pessoa para repartirem
as despesas com a moradia. Annie, estudante de Psicologia,
retraída e capaz de se magoar facilmente, tem um
problema de pele que a deixa com manchas no rosto, aumentando
sua insegurança. Fuma excessivamente, e não
consegue olhar as pessoas nos olhos. Hannah, agressiva,
não mede as palavras, e sem querer, no início
estará sempre levando a nova companheira às
lágrimas, com observações sobre sua
pele. Estudante de Literatura, é uma leitora voraz,
além de consumidora de maconha e vinho. Com o passar
dos dias a relação das duas caminhará
para a amizade, e que só aumentará com a
partida da outra garota. Neste sentido, o retraimento
de Annie irá entrar em sintonia com a agressividade
de Hannah, reforçando os laços iniciados
na leitura daquele anúncio. Elas chegarão
a manter um caso com o mesmo homem, Andrews, que optará
depois pela amiga introspectiva. Hannah aceitará
a situação por perceber a companheira perdidamente
apaixonada, enquanto para ela, aquele jovem beberrão
era apenas mais uma transa. O romance duraria pouco.
As circunstâncias profissionais, no entanto, forçarão
as amigas em direções contrárias,
e elas ficarão distantes muito tempo, se reencontrando,
como já foi dito, durante às férias
de Annie. Neste filme, ao contrário de “Elas”,
as personagens não conseguem conciliar suas vidas
com as respectivas relações de amizade,
deixando um vácuo que perdurará até
as expectativas do reencontro, na estação
de trem, e a posterior partida. Vale ressaltar também,
que em “Garotas de Futuro”, não existe
a possibilidade de uma das amigas se confidenciar com
uma terceira - Hannah só tinha a Annie, e vice-versa.
Ainda que os dois filmes tratem especificamente das relações
de amizade entre mulheres, não é meu desejo
estabelecer uma discussão a partir de gêneros,
mas sim destacar a confidência como elemento de
confirmação de uma amizade, aliado à
questão do tempo, tempo enquanto passar dos anos1
. Certas recordações só fazem sentido
se compartilhadas com o amigo. Neste ponto creio que podemos
atentar para o texto “Amizade e confiança
como ideais morais: uma abordagem histórica”,
de Allan Silver, aprofundando duas categorias nele discutidas,
de grande relevância: a de “igualdade”
e a de “substituibilidade”.
1- É certo
que ao defender certas posições corro
o risco de atrelar alguns conceitos elaborados cientificamente,
às noções de senso comum. Como
não é meu objetivo maior escrever algo
que seja classificado como ciência (isto pode
vir a ser uma conseqüência, mas não
o objetivo), prefiro correr o risco. Quando digo “tempo
enquanto passar dos anos” é no sentido
de que o amigo se descobre e se revela como tal só
a partir de um determinado tempo. Sendo assim, não
creio em amizade de curto prazo, ou amizade via correspondência,
por exemplo. É só olhando para trás
(no tempo) que nos vemos enquanto amigos, depois de
passar por momentos difíceis e momentos felizes,
onde a idéia de compartilhar é fundamental.
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Silver, apresentando uma abordagem histórica da
amizade, procura analisar certos elementos que seriam
característicos deste tipo de relação,
e que portanto, teriam variado de acordo com o contexto
histórico. De acordo com seus argumentos, a igualdade
social não seria um pressuposto para as relações
de amizade no período feudal, por exemplo, mas,
esta realidade se manteria nos dias atuais? Ou seja, existiria
a possibilidade real de se estabelecer uma amizade entre
um operário de uma fábrica de tecidos e
seu patrão? Admitindo que possam existir noções
de amizade que tenham variado com o tempo, é fácil
constatarmos que as relações sociais do
passado eram bem mais próximas que as de hoje,
mesmo entre os senhores e seus vassalos. O espaço
pelo qual circulavam estas pessoas era bem reduzido, e
o contato com freqüência era bem “olho
no olho”. Com a especialização cada
vez maior das forças produtivas, as relações
vão se tornando dia a dia mais impessoais; e com
o advento das grandes metrópoles, o indivíduo
que antes trabalhava em família e tinha como hábito
cumprimentar seu senhor todos os dias, agora se vê
perdido num mundo de prédios e fumaça, barulhento
e de cores escuras. Imaginar que possa existir amizade
entre o trabalhador que acorda às cinco horas da
manhã para apanhar o trem lotado, e o seu patrão
que toma decisões numa sala com ar condicionado,
beira a ilusão. Ainda que a noção
de “amigo” possa às vezes ser trazida
nas conversas, sempre o será na intenção
de um melhor serviço, e não na de uma relação
verdadeira. A distância que separa os grupos sociais
hoje em dia assume proporções imensas; e
mesmo que fujamos do par “empregado”/ “patrão”,
pensar uma relação entre pessoas da mesma
idade, mas de posições sociais distintas,
também fica complicado: provavelmente elas freqüentarão
escolas diferentes, bares e praias diferentes, ou seja,
dificilmente terão oportunidade de se encontrarem.
Neste sentido, entendo que uma relação de
amizade, no geral, é apenas possível entre
pessoas que pelo menos tenham o hábito de freqüentarem
um lugar em comum, seja a escola, um clube ou bar. Aqui,
portanto, a noção de igualdade levantada
por Silver, prevaleceria, mas igualdade em condições
sociais. Pode haver amizade entre o teórico e o
prático, entre o gordo e o magro, entre o alegre
e o triste, porém, muito dificilmente, entre o
rico e o miserável, entre o empresário e
o operário.
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Amizade
e Impessoalidade
Tendo deixado um pouco clara esta primeira idéia,
vale partir para o segundo aspecto destacado por Silver,
que seria a noção de substituibilidade.
Identificando a amizade dentro das relações
mais pessoais que imaginamos, em oposição,
portanto, à impessoalidade fria das grandes cidades,
temos em evidência que o amigo nos traz calor, é
aquele com quem contamos nas horas de angústia,
e que sempre lembramos de chamar para um momento de alegria.
Não nos recordamos de uma grande paixão
com um vizinho, não relembramos o vexame do último
porre com o garçom; até que podemos fazê-lo,
mas os detalhes, os pormenores, só aos amigos contamos.
Ou seja, mesmo que estejamos em uma festa cercado de pessoas,
a falta do amigo será sentida de forma única,
não o substituímos facilmente por aquele
“colega” sorridente e gentil. Ao darmos um
local privilegiado à intimidade como elemento a
determinar possíveis relações de
amizade, o acesso a este universo interior se torna muito
restrito. Aquelas questões de ordem prática
que outrora determinavam relações, agora
vão posicionar-se no campo do “impessoal”,
portanto, fora da esfera íntima. Pouca diferença
faz se somos atendidos no caixa do banco pelo funcionário
A ou B, o que desejamos é receber a fatura confirmando
o pagamento. Se vou à banca de jornal e percebo
que agora é um outro jornaleiro que ali está,
até posso perguntar por aquele senhor que sempre
me avisava da chegada das minhas revistas, mas isso não
afetará em nada meu objetivo, que era o de comprar
as revistas. Já o amigo que se ausenta, podemos
até recorrer a um outro, que também o conheça,
e juntos falarmos de saudades ou das bagunças que
fazíamos, mas o seu “lugar”, este ninguém
ocupa.
Eva, a professora de Literatura do filme “Elas”,
apaixonada pelo filho adolescente de uma grande amiga,
sente, a principio, dificuldades em se confidenciar com
alguém. O romance entre uma professora e seu aluno
pode ser uma situação complicada, ela tem
convicção disso. Ao se abrir com Linda,
a jornalista, esta lhe incentiva, além de lhe ceder
a chave de uma casa em que raramente costuma ir. É
lá que Eva e Luis manterão seu romance secreto,
após as aulas. Bárbara, a mãe, já
com a doença avançando, parte para uma busca
desesperada pela felicidade que insiste em lhe fugir.
Perceber o filho apaixonado a deixa apreensiva. Será
nos intervalos das entrevistas para o documentário
de Linda, que certas possibilidades começam a pairar
no ar. Eva fala de uma paixão difícil de
se tocar adiante, e Barbara, já atenta às
mudanças de comportamento do filho, começa
a desconfiar. Numa conversa reservada entre as duas, a
mãe pergunta como vai o filho durante as aulas
de Literatura, e Eva responde de forma evasiva, quase
tensa. Naquele momento, Barbara passa a ter certeza que
os dois estão mantendo um romance, pois conhece
a amiga tão bem quanto ao filho. Durante uma festa,
na cena final do filme, já reconciliada com o ex-marido,
e questionada por Eva se faria oposição
a um romance do filho com uma mulher mais velha, diz que
apenas se preocupa com a felicidade dele, para em seguida
lançar um olhar de cumplicidade para a amiga, como
se dissesse já saber da paixão entre os
dois. Eva explode em felicidade, e devolve a chave da
casa de Linda: a partir daquele momento Luis passaria
a freqüentar sua casa. A felicidade de Barbara estava
ligada à da amiga professora e a do filho, e serviria
como um estímulo a mais para enfrentar sua doença.
Poderíamos levantar a questão se esta situação
seria possível caso a mulher mais velha por quem
o filho estivesse apaixonado fosse uma desconhecida, e
não uma de suas melhores amigas.
Será à Barbara também que Chloé
falará do seu amor por Branca, a cantora. E Barbara,
assim como Linda fizera com Eva, aconselha a amiga a ir
em frente. Ou seja, a felicidade está acima de
tudo. A princípio Branca não cederá
aos encantos da amiga, inclusive chegando a insultá-la.
O aspecto da confidência é destacado a todo
momento na história, e é importante perceber
como em nenhum momento o que é dito por um amiga
à outra, será compartilhado com uma terceira.
A opção sexual de Chloé só
ficará conhecida durante a festa (na cena final),
quando Branca decide finalmente se envolver com a amiga,
talvez cansada das suas relações heterossexuais
fracassadas. Barbara não se contém de alegria
diante das duas amigas se beijando na frente de todos
os convidados.
Se pensarmos também nas personagens de “Garotas
de Futuro”, veremos que, Hannah abre espaço
para a felicidade da amiga, ao optar em não mais
se relacionar com Andrews. A princípio o rapaz
era “usado” como objeto sexual, com o intuito
apenas de satisfazer os desejos das duas amigas, ia de
uma cama à outra no apartamento que dividiam. A
paixão de Annie encerrará o “triângulo”,
ainda que o caso não durasse muito tempo. Numa
demonstração de pura amizade, Hannah deixa
de lado seu prazer sexual em favor da amiga insegura.
A partir desta pequena apresentação das
personagens dos dois filmes, podemos tirar algumas conclusões,
destacando elementos que seriam essenciais numa relação
de amizade. A igualdade (em condições sociais)
e a noção da não possibilidade de
substituir o amigo foram bem trabalhadas por Silver. Estas
idéias ficam claras também nos filmes: Annie
e Hannah são estudantes, obrigadas a dividir o
aluguel de um apartamento; as cinco amigas de “Elas”
mantêm o mesmo círculo íntimo de tempos
atrás, da universidade. Não haveria nenhuma
personagem situada em uma posição muito
diferente das outras. E neste sentido, cada amiga reconhece
a importância da outra na sua vida, e sabe com qual
pode falar sobre determinado assunto. Não se busca
um ombro amigo, mas o ombro amigo. E aqui podemos acrescentar
mais dois elementos àqueles já trabalhados
por Silver, que seriam a confidência e a preocupação
com a felicidade do amigo.
Acredito que o tempo no sentido que já indiquei
tem uma importância muito grande neste aspecto da
confidência. Será o fato de sabermos que
podemos contar certas experiências, sonhos e paixões
para aquele amigo, que determinará os rumos da
relação. Ter a certeza que suas confidências
não estão sendo compartilhadas com uma terceira
pessoa reafirma o caráter de amizade. E esta certeza
só vem com o tempo, e não é o tempo
de um ou dois dias, mas o que atravessa a idade, e que
nos joga a saudade quando percebemos “há
quanto tempo não vejo tal amigo”. E como
nos sentimos felizes ao saber da felicidade de quem queremos
bem. O sorriso de Bárbara diante das amigas se
beijando e do filho ao lado de sua professora e amada,
serve como um exemplo ótimo. É provável
a possibilidade de se perder algo com o alcance da felicidade
por parte de um amigo, principalmente quando esta felicidade
significa um romance. O tempo disponível para o
amigo se torna menor no auge de uma paixão, e nesta
ótica, será a felicidade dele que o fará
feliz.
Quando digo que o tempo é fundamental para termos
convicção de que tal pessoa é realmente
nossa amiga, não quero excluir outras possibilidades.
Uma criança pode muito bem identificar na outra
elementos que serão trabalhados no sentido de construir
uma amizade que percorrerá o tempo. Poucas foram
as obras de arte que já nasceram assim consideradas.
Vincent Van Gogh vendeu apenas um quadro em vida, por
um valor irrisório: morreu miserável. Difícil
dizer se uma canção atravessará os
anos sendo lembrada como um clássico, mas existem
aquelas em que sempre acreditamos na possibilidade de,
como costumamos dizer, “passar à eternidade”.
Pensamos assim a respeito de filmes, de livros, e geralmente
das coisas relacionadas à arte. Esta é feita
todos os dias, em todas as partes do mundo, e de formas
infinitamente diversas. Mas não é qualquer
obra que costuma ser lembrada como uma “obra de
arte”, daquelas em que as pessoas arregalam os olhos
e enchem a boca para anunciar. Assim também o é
com as relações de amizade, não é
qualquer pessoa que consideramos como um amigo. A amizade,
da mesma forma que a obra de arte, precisa do tempo para
se afirmar, mas nada impede que estas relações
se estabeleçam quando ainda somos bem crianças,
ou quando o pintor dê a sua primeira pincelada.
Referências Bibliográficas:
- SILVER, Allan. “Amizade e confiança como
ideais morais: uma abordagem histórica”.
(tradução de Rodrigo Aga, revisão
técnica de Cláudia Barcellos Rezende, de
Friendship and trust as moral ideals: an historical approach.
Archives Européens de Sociologie, tome XXX, número
2, pp.274-297)
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