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O Papel da
Arte e da Iconografia na A obra, que contém 20 capítulos, consiste não somente num estudo biográfico, parte que por si só já apresenta um muito elevado grau de qualidade e rigor historiográfico, mas também numa análise da conjuntura temporal brasileira inter-relacionando-a com a internacional durante todo o período de vida do Imperador d. Pedro II. A autora e sua equipe de pesquisadores montam quadros sistemáticos e constroem a idéia de uma monarquia fundamentada em símbolos, símbolos estes disseminados e entranhados na cultura brasileira por intermédio sobretudo das imagens, da literatura e de gestos que permearam (e de algum modo ainda permeiam) o imaginário da população, bem como se fizeram presentes na condução dos modelos administrativos da segunda metade do século XIX até a Proclamação da República. Igualmente, a disseminação desses símbolos contribuíram sobremaneira para a construção de uma identidade nacional, de uma diferenciação dos costumes europeus, muito embora sob vários aspectos e em vários pontos focais do século XIX, tenha havido uma inserção de valores europeus na cultura local. Isso se deu, inclusive, com a chegada da Família Real e todo o séquito de 20 mil pessoas de Portugal até o que então era a Colônia. Posteriormente, d. Pedro II, com seu interesse pelas artes e ciências, toda uma escala de valores estrangeiros tida como verdadeiramente civilizada fora transplantada, seja por intermédio dos estilos artísticos, como o neoclássico Pedro Américo, cujos estudos na França foram financiados pelo monarca, seja em se tratando de ciências e ensino, com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Colégio Pedro II. Todavia, embora transplantadas as características gerais dos modelos europeus, houve no Brasil verdadeira adaptação e criação de estilos que exaltassem ícones representativos do país, como foi o caso do uso extensivo da figura do índio, muitas vezes associada à imagem da mulher, conforme fora usada nos ideais da Revolução Francesa. Imagens e Centralização de Poder Disso decorre que direta ou indiretamente, a produção
de imagens, coisa tão apreciada pelo Imperador (que era um
apaixonado por fotografias), ícones e a forma pedagógica
que a arte assume acabaram por construir uma representação
peculiar que identificava a nação brasileira. Este material,
a “mídia” da época, teve papel relevante
nas formas de influenciação da opinião pública,
mediante uma quase divinização da figura do Imperador.
Este último também usava a produção de
imagens como mecanismo centralizador, ao estabelecer nas mais distantes
regiões do país, sua imagem, suas insígnias e
toda a sorte de ícones referentes ao poder imperial. Da mesma
forma, segundo a autora, tal esforço de produção
de uma imagem nacional tinha como intuito levar às outras nações,
que classificavam o país como uma espécie de reduto
bárbaro incivilizado, a idéia de que o Brasil continha
civilização nos moldes aceitos pela mentalidade européia,
apesar de esta civilização consistir de uma mescla de
valores e traços culturais diversos. A divulgação,
no entanto, teve resultado ambíguo, pois ao passo em que mostrava
o esplendor das matas associado à arquitetura Imperial nos
moldes europeus e à pompa das vestes e dos protocolos, também
divulgava, forçosamente, a imagem da imensa população
negra existente no Rio de Janeiro à época. Forçosamente,
pois segundo consta na obra, era praticamente impossível deixar
de haver imagens de negros em fotos que contivessem trechos da cidade. Caricaturas e Periódicos A imagem do imperador e da corte numa fase de “decadência”, em se tratando da perda da pompa e do esplendor tão caros ao imaginário popular, mas não menos importante para os padrões de monarquia da era vitoriana, com todo o luxo e representatividade da corte inglesa. A estampa do monarca-cidadão ainda refletia o padrão da corte francesa, deixado, então, em segundo plano, sobreposto pelo modelo inglês. As caricaturas e publicações abolicionistas tiveram seu ponto culminante nos trabalhos de Ângelo Agostini. Segundo o pesquisador Antônio Luiz Cagnin, autor de "As Histórias em Quadrinhos de Ângelo Agostini" (ed. Cluq, São Paulo, 1996) e de "Os Quadrinhos" (ed. Ática, São Paulo, 1975), o trabalho de Agostini em prol da campanha abolicionista, associado às idéias liberais da época teve impacto não somente na camada culta ou alfabetizada da população. As imagens com seu teor pedagógico e sua inconfundível indicação de realidades sociais também levava informações e ideologias a uma parte dos cerca de 80% de analfabetos no país, fosse através do humor, ridicularizando a figura do Imperador, do clero e dos políticos mais influentes, fosse através da retratação de atrocidades cometidas contra os escravos. Tais atrocidades foram divulgadas em larga escala principalmente através da Revista Illustrada. Ao mesmo tempo em que as publicações periódicas formam um grande acervo para pesquisas sobre o século XIX, retratando os movimentos políticos e as características da sociedade da época, também revelam a influência da imagem sobre o comportamento da coletividade,. DAí o que se considera uma contribuição para transformações de caráter estrutural, como a abolição da escravatura e a chegada da República. Não se tratam apenas de representações de um tempo, são também de veículos de transformação de mentalidades mediante a exposição de idéias em forma de imagens. Num período histórico onde a imprensa era talvez a única forma de comunicação de massa que podia ser transmitida rapidamente em diversas localidades, havemos de convir que ela constituía-se num poder considerável, capaz de mobilizar tanto intelectuais quanto o povo contra ou a favor de governos, sistemas sociais e até de criar novos hábitos dentro de uma cultura. Abaixo, como complemento a esta apresentação, um trecho de um artigo de Egeu Laus, designer e pesquisador da memória gráfica brasileira, sobre Ângelo Agostini, na Revista Veredas, edição 74 de fevereiro de 2002. Veredas é a revista de cultura do Banco do Brasil, vendida em centros do Circuito Cultural, como o Centro Cultural Banco do Brasil:
As fontes primárias desta pesquisa podem ser encontradas no
Acervo da Biblioteca Nacional, como as indicadas abaixo: As revistas indicadas acima mostram histórias em quadrinhos criadas por Ângelo Agostini enfocando as violências cometidas contra os escravos e enfatizando, segundo o autor, as virtudes das idéias liberais. A capa do número 222 deixa explícita sua posição frente ao sistema escravista ainda vigente e que só seria abolido oito anos depois. As caricaturas ironizando as idiossincrasias e contradições do poder (e também os costumes de diversas camadas da sociedade) e as demais imagens publicadas em periódicos tiveram grande impacto na população fortalecendo as idéias republicanas e abolicionistas. |
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