Algumas pessoas sofrem do mal
chamado hipocondria, nada mais nada menos do que mania
de doença.
Em minhas observações por aí destaquei
duas espécies: os que adoram ser hipocondríacos
e os que detestam.
Os que adoram são incorrigíveis. Eles
realmente curtem quando você diz que estão
pálidos ou quando descrevemos alguns novos sintomas
das doenças novas. Convivo com um assim. Agora
ele está ficando mais velho e acredito feliz
por realmente ter alguns probleminhas de colesterol,
faz aquela cara quando diz: “Isso eu não
posso comer, faz um mal terrível para a minha
saúde”. Sua expressão é um
misto de contentamento com sofreguidão.
Os que detestam procuram a terapia. “Não
descreve nada para mim, por favor!! Eu sinto tudo depois
é horrível”. Esses eu tenho realmente
que lamentar por eles, não escolheram ser hipocondríacos
e gostariam sinceramente de mudar.
Agora como classificar uma pessoa com mania de sofrimento?
Não sou psicóloga, mas deve haver um nome
para isso….. Por hora classifico de “todas
as dores do mundo”
As pessoas que sofrem de “todas as dores do mundo”
são como minha amiga Marta. Martinha sempre sofreu
muito na vida, não me perguntem o motivo.
Não me lembro muito bem do primeiro namorado
dela, mas não sei o que ele pode ter feito de
tão grave para que ela se sentisse uma fracassada
eterna no amor. Mas isso não importa, o importante
é a dor imensa que Marta sente, todos os homens
do mundo jamais entenderão o porquê da
questão, mas sempre a fazem sofrer, não
importa o que façam de bom.
Martinha aos 18 já havia tido mais desilusões
amorosas do que as mulheres vividas de 40 anos. Sempre
teve um ar de solteirona, mesmo numa idade em que a
solteirice lhe caia as maravilhas. “Nunca vou
me casar, nasci para viver sozinha, ninguém me
compreende”. Acho mesmo que não.
Se alguém ficava doente ela logo ia dizendo
que a vida não tinha remédio: “Nascemos
todos para sofrer”. Na verdade, Marta sofreu algumas
perdas irreparáveis, mas nada excepcional. O
que era realmente excepcional era a sua capacidade de
transformar uma doença num mal incurável,
uma perda numa catástrofe e uma relação
num fracasso total.
Quando Marta encontrava um cara divertido, nem assim
deixava de desconfiar, parecia estar a espera de uma
pancada na cabeça que a derrubasse. Era seu destino.
Sim, Marta acreditava no destino. Não era qualquer
destino, mas um destino horrível que a condenara
a não importa como, nem porque, sofrer infinitamente.
Martinha com o passar do tempo foi conquistando e perdendo
todas as coisas. Acho mesmo que se programou para isso.
Quanto mais ela reclamava eu tinha a certeza: Marta
gosta de perder. Eram momentos férteis para ela.
A dor a alimentava e ela podia expressá-la através
da arte. Quadros. Quadros muito negros e tristes. Bons,
mas negros e tristes.
Quem a conhecia dizia que tinha tudo para dar certo.
Ela desconfiava “Mas logo eu? Não eu não
nasci para ser feliz.” Argumento nenhum do mundo
a demovia dessa idéia.
Algumas vezes alguém tentava lhe mostrar que
suas próprias dores não eram diferentes
das do resto da humanidade. “Só eu sei
o que é sofrer……. Você já
viveu isso??” E seguia jogando na cara das pessoas
suas dores, para provar o quanto sofria.
Olhando Marta tenho vontade de dizê-la o quanto
é bonita. Conheço muitas pessoas que gostariam
de ter uma figura tão esbelta quanto ela, ou
a mesma cor de olhos. Mas desisti, das vezes que tentei
acho que a ofendi com a possibilidade de ela não
ser a criatura mais perdedora do universo.
Simpatizo muito com Marta e admiro o seu trabalho,
talvez seja a única solução mesmo
para ela. Um dia talvez até fique famosa como
Van Gogh que também sofria muito. Seria a alma
do artista portadora de “todos os males do mundo”??
Alguns poetas dizem só serem capazes de escrever
quando muito deprimidos. As melhores canções
falam de um amor fracassado, por que? Será realmente
necessário sublimar a dor?
Marta segue sua vida sofrendo, apesar de ter uma saúde
de ferro, um namorado, amigos, família, estabilidade
e talento. Realmente ela tem conseguido viver o que
programou.
Mas existem também os que sentem “todas
as dores do mundo” e entram na real depressão.
Uma doença que vem realmente assustando os médicos
porque as pessoas em depressão não conseguem
ter uma vida normal. Não conseguem fazer de forma
plena e satisfatória coisas simples como se relacionar
com as pessoas, sair de casa, ter namorado, fazer amigos,
trabalhar, comer, dormir. Essas realmente sofrem, gritam
por socorro e quando socorridas se tornam pessoas saudáveis
outra vez.
Falam os médicos também de uma “síndrome
do pânico”, ainda mais grave que a depressão
e que também já tem tratamento.
E Marta? Ela não sofre de depressão,
nem de síndrome do pânico, ao que parece….
Haveria uma cura para Marta?
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